“No way Jose”. A expressão célebre dos turistas britânicos que visitavam Espanha nos anos 70 aplica-se como uma luva à resposta que a direção do PSD dá aos que nas últimas semanas têm defendido uma antecipação das legislativas de 2015 em alguns meses.

Esta terça-feira foram Rui Rio e António Costa quem veio a público argumentar em defesa de uma antecipação tática. Numa conferência organizada pela TSF, o ex-dirigente social-democrata disse inclinar-se “mais para uma antecipação das eleições, para separar as legislativas das presidenciais e rapidamente resolver o problema da governação a prazo”. Um argumento que cola com uma frase já deixada no ar pelo Presidente da República quando, há três semanas, disse acreditar que muitos portugueses ainda não tinham percebido que haverá três eleições em quatro meses (legislativas, presidenciais e regionais da Madeira) e sublinhando que “o país não pode parar”.

Já António Costa disse que “devia haver um consenso para que houvesse uma antecipação técnica, para dar tempo para alinhar com a normalidade dos calendários orçamentais”. Posto de outra forma: “Eleições em Outubro [de 2015] dá um Orçamento em Abril ou Maio [de 2016]“.

Mas se o candidato nas primárias do PS disse só acreditar no cenário caso exista “acordo dos partidos”, a direção do PSD não está disposta a dar esse acordo. O argumento começa por ser legalista: “A lei eleitoral para a Assembleia da República determina que as eleições para a nova legislatura se realizam entre 14 de setembro e 14 de outubro. E a lei eleitoral é uma lei de valor reforçado, pelo que essa é uma não questão”, diz ao Observador Teresa Leal Coelho, vice-presidente do partido.

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Mas a questão é sobretudo política. E outra fonte da equipa de Passos Coelho torna-a mais clara: “Se o Presidente quiser fazê-lo, terá que dissolver a Assembleia. O Governo não se demite para antecipar eleições”, garante, sublinhando que os “mandatos são para cumprir até ao fim”.

Na verdade, Passos e os seus mais próximos contam que o tempo ajude a que a recuperação da economia possa sedimentar-se e a curar as feridas dos anos de troika. E sobretudo esperam que o Presidente não entregue uma passadeira vermelha ao líder que sair das primárias socialistas, dando-lhe apenas seis meses, pouco mais, de oposição e campanha, escapando a desgaste adicional.

Recorde-se que o tema da antecipação das legislativas foi levantada já no último Conselho de Estado convocado pelo Presidente. O ex-líder do PSD argumentou precisamente com a necessidade de o Governo seguinte ter tempo para formar uma maioria e fazer o seu primeiro orçamento. Mas terá sido o único a defender abertamente essa opção nesse encontro.