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Agentes do Serviço Secreto, convidados proibidos de sair do edifício e 'Yes, we can'. Assim serão as poucas horas de Obama no Porto

O ex-Presidente será orador na Climate Change Summit esta sexta. Só está umas horas no Porto, mas a segurança é apertada: há agentes do Serviço Secreto e convidados proibidos de sair do edifício.

Barack Obama tem apenas seis participações em conferências mundiais marcadas para 2018 — e uma delas acontecerá esta sexta-feira, no Porto, quando o antigo Presidente subir ao palco da Climate Change Leadership Summit. O evento é, por isso, em grande. Não é todos os dias que um antigo chefe de Estado norte-americano — e logo um com níveis de popularidade tão elevados — põe o pé em Portugal.

Como foi isto possível? “Não foi fácil”, admite ao Observador Adrian Bridge, presidente-executivo da Taylor’s Port, empresa impulsionadora do evento. “O Presidente Obama recebe cerca de 30 convites diariamente para falar. As pessoas oferecem-lhe fortunas. E ele não costuma fazer isto, não é um grande orador, não é um Presidente como Bill Clinton, por exemplo. Ele está mais focado a escrever os seus livros… Mas há algumas coisas que ele acha que são muito importantes e decide apoiar. Uma delas são as alterações climáticas; a outra são as questões de liderança. E a nossa iniciativa usa os dois.”

Dito assim, até parece mais fácil. Mas a vinda de um antigo Presidente dos Estados Unidos não é brincadeira, a começar pela logística e pelas questões de segurança. O Observador sabe que, tendo em conta as relações diplomáticas que Portugal mantém com os Estados Unidos e o perfil do convidado, Obama será tratado pelas forças de segurança como uma alta individualidade com estatuto de chefe de Estado.

Para cada passo de Obama, há vários agentes de segurança a tratar de tudo (AFP/Getty Images)

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Essa é quase sempre a regra quando se trata de ex-chefes de Estado norte-americanos. Isso mesmo explicou ao Observador Jonathan Wackrow, ex-agente do Serviço de Proteção Presidencial do Serviço Secreto norte-americano e atual consultor de segurança e analista da CNN. “A metodologia de proteção utilizada pelo Serviço Secreto dos Estados Unidos é a mesma para o Presidente dos EUA e para os antigos presidentes. A única diferença mais notória é a da escala da operação de proteção”, afirma, sublinhando, contudo, que “no ambiente de ameaças globais” em que vivemos “um ex-Presidente pode estar exposto ao mesmo nível de ameaça do que um Presidente em funções”.

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Não são por isso de espantar as restrições de segurança com que os cerca de três mil convidados, que irão estar presentes para assistir à palestra no Coliseu do Porto, terão de lidar. Para além de serem revistados à entrada, de terem de atravessar um dos três pórticos de deteção de metais e de não poderem trazer consigo mochilas, máquinas fotográficas, portáteis ou garrafas, todos estão proibidos de sair do recinto até a conferência terminar. Isso inclui a hora de almoço, razão pela qual a organização providenciará uma lunch box a cada um dos convidados. Depois da refeição, poderão preparar-se para ouvir o convidado de honra, que falará à tarde.

Agentes do Serviço Secreto e polícia por todo o lado

O Observador sabe que a operação de segurança será feita em colaboração entre a equipa do Serviço Secreto norte-americano com a PSP portuguesa, que tem a competência de coordenação e comando operacional no terreno. Fonte das forças de segurança confirmou que a articulação está a ser feita entre a PSP e a equipa de segurança pessoal de Obama, com a ajuda da embaixada norte-americana e dos Serviços de Protocolo do Ministério dos Negócios Estrangeiros, já que se trata de uma individualidade equiparada a chefe de Estado.

A acompanhar e a articular toda a informação e segurança está Helena Fazenda, secretária-geral do Sistema de Segurança Interna. Em caso de incidente, serão acionados os meios habituais, como já está previsto na Lei de Segurança Interna. Isso mesmo já tinha explicado fonte do Governo ao Observador em agosto de 2017: “O comando político depende do primeiro-ministro e o comando operacional da secretária-geral do Sistema de Segurança Interna”, ou seja, de Helena Fazenda, que passaria a ter o comando de uma espécie de war room criada em caso de um evento como um ato terrorista, por exemplo.

E se o atentado fosse em Portugal? Haveria uma mulher no comando e fé no SIRESP

Ao Observador, a PSP confirmou que estarão destacados para a zona da cimeira elementos policiais de múltiplas divisões, incluindo os habituais carros patrulha e equipas da Divisão de Trânsito, mas também “Equipas de Prevenção e Reação Imediata (EPRI), Divisão de Investigação Criminal e Força Destacada da Unidade Especial de Polícia”. O objetivo, explica o Comando do Porto, é “garantir as condições especiais e gerais de segurança”.

Como consequência, os habitantes e visitantes da cidade do Porto terão de lidar com os constrangimentos de trânsito habituais, estando cortadas a Rua Passos Manuel (da meia-noite às 20h de sexta-feira) e a Rua Formosa (das 10h às 17h). Na rua do Coliseu, a Passos Manuel, haverá ainda “alguma restrição a peões durante o decurso do evento”, avança a PSP.

O trabalho de pormenor dentro do Coliseu deverá ser feito pela equipa do Serviço Secreto de Obama. Em 1994, o Congresso norte-americano decidiu limitar o acompanhamento feito pelo Serviço Secreto aos ex-Presidentes, limitando-o apenas a dez anos depois de abandonarem a Casa Branca. Seria o próprio Obama a voltar a tornar esse acompanhamento vitalício para os antigos chefes de Estado, numa lei assinada em 2013 que teve o apoio do Congresso. “O mundo mudou drasticamente desde o 11 de setembro”, reconheceu à altura o congressista Lamar Smith, durante a discussão da proposta de lei, para justificar a decisão. O Former Presidents Act garante assim que Obama e os restantes antigos chefes de Estado vivos têm todos uma equipa que zela pela sua segurança como zelaria pela do Presidente Donald Trump.

“A comitiva do ex-Presidente consiste nos membros do seu gabinete, no grupo de proteção do Serviço Secreto e conta com o apoio das forças de segurança locais. Por razões de segurança, o Serviço Secreto norte-americano nunca divulga o tamanho da operação, mas é visível que é sempre menor do que a de um Presidente em funções”, resume o antigo agente Jonathan Wackrow.

Certo é que um evento deste tipo é preparado ao pormenor e com muita antecedência, desde que é anunciada a visita do ex-chefe de Estado — o que, no caso de Obama no Porto, foi feito em abril. “A coordenação no local geralmente começa 14 dias antes da visita e consiste em desenvolver um plano com as forças de segurança e militares locais”, explica Wackrow. De seguida é feita uma classificação do nível de ameaça que pende sobre o visitante, em parceria com os serviços de informação locais.

Agente do Serviço Secreto dos Estados Unidos (GETTY IMAGES)

AFP/Getty Images

A colaboração com as forças de segurança locais é, nas palavras de Wackrow, “crucial”. “Normalmente são eles que tratam das questões de logística da chegada e da partida, tratando da deslocação do antigo Presidente dentro e fora do aeroporto. As questões médicas também são uma parte fulcral do processo, identificando hospitais designados para o caso de haver ferimentos ou doença. Mais uma vez, este processo é feito em cooperação com as forças de segurança do país”, explica o especialista em segurança. O Observador tentou apurar junto de várias autoridades que planos estão previstos nestas matérias, mas não conseguiu obter resposta.

Certo é que, citando a máxima de um outro ex-agente do Serviço Secreto presidencial, Bill Gage, “para cada agente que vemos na televisão, há outros 10 escondidos”. “Para cada agente que vemos em redor do Presidente, há outros 10 agentes parados em corredores compridos, cozinhas quentes e mal cheirosas, portos movimentados, garagens escuras e outros locais solitários e com muito menos glamour, escreveu o antigo agente.

O call to action de Obama para as questões climáticas

O Observador tentou saber junto da organização da cimeira os pormenores de logística desta visita, mas Adrian Bridge garantiu não estar a par de todos os pormenores. “Não tenho de me preocupar com isso, graças a Deus”, comentou o CEO com humor. O seu papel, diz, é o de garantir o sucesso do encontro ao nível do conteúdo. “Se 10% dos presentes na conferência alterarem a sua atitude e iniciarem atividades nas suas empresas para mitigar as alterações climáticas, vou considerar esta sexta-feira um sucesso”, afirma o empresário.

O objetivo do encontro é criar consciência ambiental e chamar a atenção para a necessidade de combater os efeitos das alterações climáticas. Na indústria do vinho, explica Adrian, estas são questões fundamentais para a viabilidade dos negócios a longo prazo: “Há um mês perdemos um mês de produção completo de uma quinta em apenas uma hora, por causa do granizo”, ilustra. “Sem uvas e sem vinho não há nada que sustente o vale do Douro. Estamos a falar da sustentabilidade da economia da região e esta é uma realidade a nível mundial.”

Com esta consciência criada e a olhar para o futuro, a Taylor’s decidiu unir-se a uma série de parceiros e montar esta conferência. “Para isso chamámos duas pessoas mais técnicas, Mohan Munasinghe [vencedor do Nobel da Paz de 2007 partilhado por Al Gore pelos seus esforços nas questões de alteração climática] e Irina Bokova [ex-diretora da UNESCO], e Juan Verde, que fala de economia verde e de como desmistificar a ideia de que cuidar do ambiente custa dinheiro. Com o Presidente Obama queremos que ele traga um call to action. Yes, we can e yes, we should [‘sim, nós conseguimos’ e ‘sim, nós devemos].” Juan Verde, antigo assessor de Obama para as questões climáticas, será o moderador da conversa com o ex-Presidente.

Taylor destaca o papel de Obama na presidência norte-americana e a sua capacidade de combinar o crescimento económico com os esforços ambientais através, por exemplo, da assinatura do Acordo de Paris. “Ainda há muito cínicos que acham que não é possível mudar para as energias renováveis, que isso destrói a economia. Obama mostrou que é possível, ele liderou através da ação. Há soluções e precisamos de falar de soluções.” Por essa razão, na cimeira será assinado o Porto Protocol, a que se pode juntar qualquer empresa, onde os signatários se comprometem a fazer esforços e a partilhar conhecimentos na área das alterações climáticas.

Obama no Porto apenas um par de horas? É “um grande orgulho” à mesma, diz organização

“Obama está muito envolvido nesta área das questões climáticas e está muito interessado”, resume o CEO da Taylor’s. “E ele trabalha muito com a Advanced Leadership Foundation, que foi o parceiro através do qual o contactámos, e vem por estar interessado no assunto.” A Advanced Leadership Foundation é uma organização sem fins lucrativos que atua na área da economia verde, com sede em Washington e Madrid.

Essa ligação a Madrid é evidente pelo facto de Obama ir participar apenas umas horas antes de vir ao Porto numa conferência também organizada pela Advanced Leadership Foundation, a Cumbre de Innovación Tecnológica y Economía Circular, onde Obama falará como orador às 11h (hora local, 10h em Portugal), numa conversa também moderada por Juan Verde. Pouco depois parte para o Porto, onde deverá entrar em palco às 15h.

Os laços desta visita à capital espanhola também são visíveis pelo facto de, como noticiou o jornal Expresso esta quinta-feira, Obama ter optado por regressar a Madrid depois da participação na Climate Change Summit. Segundo o jornal, a equipa de Obama ainda visitou o hotel Yeatman, mas o ex-Presidente preferiu ir dormir a Espanha. Não deverá haver grande margem para improviso, passeios pela cidade ou visitas a restaurantes. Mas, se acontecer, a equipa de segurança preparar-se-á para este “OTR” (sigla para ‘off the record movement’): “O Serviço Secreto prestará segurança em anéis concêntricos de proteção à volta do Presidente, de maneira a que, sempre que ele se movimente, a proteção da ‘bolha’ se movimente com ele”, explica o ex-agente Wackrow.

De qualquer das formas, Obama seguirá uns dias depois para o Quénia, país de origem do pai, onde se irá encontrar com a meia-irmã, bem como com o Presidente queniano, Uhuru Kenyatta. Segue depois para a África do Sul, onde volta a haver encontro com o Presidente. Em Portugal, não deverá haver aperto de mão com Marcelo Rebelo de Sousa — segundo o jornal i, o Presidente nem irá estar presente no evento. E essa terá sido mesmo uma das exigências do próprio Obama: não partilhar o palco com políticos, não ser gravado e não dar entrevistas a jornalistas.

Obama regressará ao Quénia pela primeira vez desde que abandonou a presidência depois de vir a Portugal (GETTY IMAGES)

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A organização recusa-se a confirmar se a presença do ex-Presidente norte-americana foi paga, mas o Expresso noticiou em abril passado que os honorários terão sido próximos dos 500 mil euros. O valor não destoa do que tem sido cobrado por Obama para participar noutras conferências.

Ao todo foram nove dessas participações em 2017; este ano Obama ficar-se-á pelas seis (com duas a acontecerem no mesmo dia, em Espanha e Portugal). A escolha dos encontros em que participa, que incluíram algumas firmas da alta finança como o Carlyle Group, provocou desagrado em alguns círculos mais à esquerda do próprio Partido Democrata. “Fiquei perturbada”, disse a senadora Elizabeth Warren, sobre a notícia de que Obama terá recebido 400 mil dólares para falar num evento do banco de investimento Cantor Fitzgerald.

Os eventos escolhidos por Obama “continuam a ser fiéis aos seus valores e ao seu percurso”, garantiu em resposta a porta-voz Katie Hill. “Como prova de consistência, os eventos pagos permitiram ao Presidente Obama contribuir com mais de dois milhões de dólares nos próximos dois anos para programas em Chicago que oferecem oportunidades de emprego a jovens de origens desfavorecidas.”

Em linha com estas participações em conferências e eventos privados, o mais certo é que esta sexta-feira, no Porto, Obama não teça grandes comentários sobre o seu sucessor na presidência norte-americana. Até em privado “Obama raramente menciona Trump”, garante a New York Magazine num artigo publicado recentemente intitulado “Onde está Barack Obama?”.

O antigo chefe de Estado tem mantido um perfil discreto, escolhendo a dedo as suas participações, razão pela qual esta passagem por Portugal é tão rara — e, crê a organização, tão preciosa.”Acho que é um grande orgulho para a cidade do Porto e para Portugal que uma pessoa com esta dignidade esteja disposto a partilhar umas horas connosco”, resume Adrian Bridge.

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