794kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Pedro Soares é o porta-voz da moção E, que se apoia sobretudo nos membros da tendência interna Convergência
i

Pedro Soares é o porta-voz da moção E, que se apoia sobretudo nos membros da tendência interna Convergência

LUSA

Pedro Soares é o porta-voz da moção E, que se apoia sobretudo nos membros da tendência interna Convergência

LUSA

Críticos chegam mais frágeis e divididos à convenção do Bloco e culpam direção por "sectarismo"

Intenção era juntar críticos da gestão de Catarina Martins, mas membros da corrente Convergência afastaram-se, desiludidos com alternativa do Bloco. Quem ficou culpa direção por desencorajar diálogo.

“Acalentamos a dissidência que permite o debate. Recusamos lógicas de verticalização da estrutura. Não nos furtamos ao debate interno.” As palavras são da bloquista Ana Sofia Ligeiro e foram atiradas a partir do púlpito da última convenção do Bloco de Esquerda, em 2021, quando a sucessão de Catarina Martins ainda era uma miragem e a maioria absoluta do PS outra. Não foi só isso que mudou entretanto: Ligeiro, tal como outros membros da tendência Convergência, crítica da atual direção, desvincularam-se e deixaram de representar o grupo nos órgãos do partido — e os críticos que ficaram admitem as divisões internas, mas culpam a direção por “anos de ostracização” e por deixarem “esmorecer a militância”.

A mudança das regras da convenção ditou que desta vez só uma moção tivesse condições para se opor à de Mariana Mortágua: se antes só era preciso recolher 20 assinaturas para apresentar uma candidatura, o que levou a que na convenção de 2021 os críticos da direção se distribuíssem por quatro moções, agora o critério aperta e a exigência sobe para um grupo de 194. Mas isso não se traduziu num acordo entre os críticos da gestão de Catarina Martins, que parecem ter-se dividido.

Desde logo, dois dos três nomes associados à Convergência — o movimento maior por trás da moção dos críticos, a moção E — que tinham assento na direção do Bloco, a Comissão Política, desvincularam-se. Ana Sofia Ligeiro e Bruno Candeias eram duas das figuras mais conhecidas desta corrente interna — a primeira ficava mesmo, há dois anos, com o papel de porta-voz da moção — e deixaram assim o histórico Mário Tomé como único representante desta tendência na Comissão Política.

Pedro Soares é ex-deputado e ex-dirigente do Bloco

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Nesta convenção, de acordo com as informações que o Observador apurou, tanto Ana Sofia Ligeiro como Bruno Candeias estarão presentes, mas sem subscrever a moção E — apresentaram-se através de plataformas locais (no primeiro caso por Santarém, no segundo por Santiago do Cacém) para terem direito a falar, mas sem terem a possibilidade de apresentar listas aos órgãos do Bloco (a Mesa Nacional, de onde sai depois a Comissão Política, e a Comissão de Direitos). Podem, no entanto, apoiar listas de outras moções.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Entretanto, na eleição de delegados que aconteceu no fim de semana que passou, o tabuleiro em que se vai jogar a convenção ficou definido: a moção A, de Mariana Mortágua, conquistou a esmagadora maioria dos delegados — 81% — e a moção E ficou-se pelos 14%, sendo o resto dos assentos dividido pelas plataformas locais. Esta segunda moção teve, de resto, dificuldades em apresentar listas de delegados em vários círculos.

Debilitados por nova regra interna, críticos do Bloco tentam “federação” para enfrentar direção

Críticos dizem que não vão ganhar e falam em “sectarismo”

O que é que aconteceu, então, aos críticos que ainda há dois anos se mobilizavam e distribuíam por várias moções para contestarem o consulado de Catarina Martins, entre críticas à relação com o PS e à suposta falta de democracia interna?

Do lado dos próprios críticos, a perspetiva de resultados na convenção é modesta, apesar de na última convenção terem conseguido uma representação considerável nos órgãos do Bloco (na altura, a direção conquistou 54 lugares na Mesa Nacional, a moção E 17 mandatos, e as restantes moções dividiram entre si mais nove assentos).

“Acho que vamos ter uma boa votação. É evidente que não vamos ganhar, porque há todo um percurso de sectarismo, de afastamento, de inquéritos [aos militantes]”, justificava em entrevista ao Observador, na semana passada, o histórico Mário Tomé, que subscreve a moção E. “Pode parecer uma desculpa, mas não é: a militância do Bloco esmoreceu. O pessoal começa a ficar menos empenhado. Isso tem consequências, tanto em relação à maioria como a nós”.

Mário Tomé: Saída de Mariana Mortágua de CPI à TAP “é atitude de arrogância e deselegância”

O histórico da UDP e do Bloco detalhava, sobre os casos dos colegas de Comissão Política que se afastaram: “Não sei porque é que a Ana Sofia e o Bruno Candeias saíram da Convergência, eles falaram comigo, deram-me essa deferência, porque éramos os três da Comissão Política. Disseram que achavam que isto não estava a ter a dinâmica que devia. A minha proposta era trabalharmos para essa dinâmica, todos”.

Ao Observador, o porta-voz da moção, o ex-deputado Pedro Soares, admite as divisões e as dificuldades — mas oferece várias explicações para isso. “Não é fácil uma sensibilidade dentro do Bloco suportar anos consecutivos processo de ostracização e falta de diálogo“, argumenta, atribuindo à direção a intenção de “desmoralizar e até levar pessoas a sair do Bloco” e falando numa “saída significativa” de militantes nos últimos tempos — o Bloco não tem revelado esses números, mas o Observador confirmou que parte dos elementos das moções mais pequenas abandonou o partido.

Além disso, recorda, houve pouco tempo para recolher assinaturas e a moção “não tem aparelho, nem funcionários. As pessoas trabalham”. O facto de haver, ainda assim, um grupo de militantes disponível para se candidatar “deve ser valorizado”, frisa.

“Já viu o que era a desgraça de não haver alternativa? Deviam valorizar muito  a participação da moção E. É a primeira vez que há uma alternativa sustentada, a nível nacional, com pessoas preparadas, que apesar das dificuldades faz debates”, argumenta Pedro Soares.

Isto apesar de a moção A ter recusado fazer debates públicos além do que foi organizado pelo portal do Bloco, o esquerda.net: “É uma forma de dizer que não há diálogo e que não reconhecem a existência de uma linha alternativa”, defende Pedro Soares. “Vamos tomar conta disto, é isso que estão a dizer. Tenho muito receio de que as coisas, a nível do diálogo interno, se agravem”, remata.

Críticas “gratuitas” levaram a afastamento

Mas os problemas não serão só externos: segundo as informações apuradas pelo Observador, junto de parte dos críticos que se desiludiram com a alternativa da Convergência e da moção E foi-se gerando a perceção de que havia uma vontade de fazer “oposição pela oposição” e de lançar críticas algo gratuitas à direção, o que causou desconforto internamente.

Um dos sinais mais claros foi, de resto, a proposta que os críticos levaram à Comissão Política para que esta convenção do Bloco fosse antecipada para o ano passado, e que acabou chumbada com apenas um voto favorável, de Mário Tomé — dos outros críticos, Ana Sofia Ligeiro e Miguel Oliveira abstiveram-se, Luísa Santos votou mesmo a favor da proposta da direção e Bruno Candeias não foi à reunião.

Mais de cem militantes tentaram antecipar convenção do Bloco, mas críticos dividiram-se e só houve um voto a favor

Os que duvidavam da gestão de Catarina Martins saíam dessa votação divididos e sob ataque da direção, que lançava duras acusações à Convergência e à moção E, num documento alternativo que ficou aprovado. “Regista-se que os camaradas da Convergência/moção E pretendem trazer ao Bloco uma cultura política que nunca foi a nossa: a avaliação de orientações e dirigentes pela bitola eleitoral”, lia-se nesse texto. O mesmo em que os críticos eram acusados de entrarem“num contínuo de ações irresponsáveis e causadoras de desgaste público do Bloco”, entre as quais a tentativa de impugnar listas de candidatos do Bloco junto do Tribunal Constitucional — “algo sem precedente na história de qualquer partido de esquerda”.

Mortágua lidera moção subscrita pelos atuais dirigentes

LUSA

Do lado da direção, a convicção é agora que os críticos estão debilitados e divididos pela postura de “destruir o partido em público”.

Entre os críticos que se afastaram da Convergência junta-se outro argumento: Mariana Mortágua é uma dirigente popular no seio do Bloco, que, apesar de estar associada à atual direção, é respeitada em setores diferentes e, pela assertividade com que defende as ideias do partido, pode ajudar a defender a ideia de que o Bloco “não está domesticado”, uma das críticas que repetem desde a fase final da geringonça.

Na convenção se verá o efeito dessas divisões nas votações finais, e o que significarão para a composição dos órgãos do Bloco. Mortágua, a julgar pelos delegados, parte com clara vantagem. A votação do fim de semana clarificará o papel das oposições no partido.

Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais o nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos