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A CEO Carolina Amorim (na fila de cima) com a equipa da EmotAI

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A CEO Carolina Amorim (na fila de cima) com a equipa da EmotAI

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Das fitas cosidas pela mãe ao sonho americano. A startup que quer ajudar a combater o burnout

Começou nos eSports, mas agora tenta ajudar a reduzir o burnout dos trabalhadores. A EmotAI usa uma banda para monitorizar as emoções e tem uma plataforma com exercícios para diminuir o stress.

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É no centro de uma Rua da Prata em obras e temporariamente cortada ao trânsito que se encontra a sede da Startup Lisboa, a incubadora que é ‘casa’ para empreendedores como Carolina Amorim. A engenheira biomédica de 30 anos criou, em 2018, uma empresa que tem como objetivo ajudar a reduzir o stress e a ansiedade, além de aumentar o bem-estar emocional em ambiente de trabalho.

Foi na faculdade que Carolina Amorim reforçou o seu interesse pela identificação de patologias. “Como é que conseguimos prevenir doenças? É que depois de as termos é muito mais difícil tratá-las”. Foi a partir daí que começou a “olhar muito” para os sinais fisiológicos do ser humano como, por exemplo, o ritmo cardíaco, com o propósito de promover a redução do burnout e da ansiedade.

Durante a pandemia, dois anos após criar a startup que recebeu o nome de EmotAI, a engenheira biomédica teve um burnout. A fita desenvolvida pela tecnológica — para por em redor da cabeça e que contém sensores biométricos para monitorizar as emoções e o estado mental dos indivíduos (através dos registos de um eletroencefalograma e de um eletrocardiograma) — ajudou Carolina. “Faço terapia, que recomendo a toda a gente; faço exercício físico, que não estava a fazer durante a Covid-19 e acho que isso foi das coisas que me afetou mais; e utilizo a banda”, explica, acreditando que não se encontra em risco de voltar a ter um burnout.

Se atualmente a startup se concentra em melhorar a saúde mental no local de trabalho com a sua solução baseada em neurotecnologia, nem sempre foi assim. Quando começou pretendia ajudar os jogadores de eSports a aumentar o foco e o envolvimento no jogo.

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A junção de forças, os eSports e a mãe que cosia bandas

Quando terminou a licenciatura, Carolina Amorim decidiu fazer uma investigação em Computação Afetiva, área que “traduz os sinais do corpo humano em algoritmos de forma a perceber como as pessoas se estão a sentir”, no Instituto de Biofísica e Engenharia Biomédica (IBEB). Foi aí que conheceu Daniel Rocha e Carlos Moreira, com quem viria a fundar a EmotAI.

Ao pensar no momento em que conheceu Carolina e Daniel, o chief technology officer lembra que “cada um estava a fazer o seu projeto nestas áreas que pretendem traduzir os sinais fisiológicos do ser humano em emoções, estados mentais, e a resposta cognitiva que tem a certos estímulos”. Carlos Moreira afirma que, como se encontravam a trabalhar com “uma tecnologia que lia as ondas cerebrais e o ritmo cardíaco de uma forma não evasiva e fácil de utilizar”, decidiram juntar-se. E começaram a pensar na sua aplicabilidade “mais como um negócio e não tanto como uma investigação”.

A escolha do nome para a empresa não foi complicada, nem demorou muito tempo. Como medem emoções e aplicam Inteligência Artificial optaram por EmotAI, ainda que pensassem que “eventualmente” o poderiam vir a alterar. “Nunca mudámos e ficou para sempre assim”, salienta a CEO. Quando o trio arrancou oficialmente com a startup estava apenas focado no desporto, uma vez que acreditava que os atletas profissionais eram os que mais poderiam beneficiar do conhecimento dos dados que a banda recolhe, como as ondas cerebrais e o ritmo cardíaco.

Emotai banda2 Emotai banda

O aspeto da banda que a EmotAI desenvolveu

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Primeiro, a tecnológica lançou-se nos eSports e depois nos MotoSports, como a Fórmula 1, 2 e 3 e ainda a Fórmula E. Atualmente, têm o foco no mundo do trabalho e nas empresas. Carolina Amorim indica que a mudança se deveu ao facto de os cofundadores terem percebido que estavam a ajudar “uma percentagem muito pequenina” da população e que os atletas “já estavam no pico da sua performance”. “Achámos que era benéfico trazermos toda a tecnologia que desenvolvemos para as pessoas que estejam a precisar”, diz.

Ao longo dos últimos anos não foi só o foco que mudou. O aspeto da banda, que emite os dados que recolhe via bluetooth para uma plataforma desenvolvida pela startup, também se alterou: “Já esteve um bocadinho pior”. “O tecido [atual] foi feito com o Citeve [centro de investigação ligado ao têxtil e vestuário]. Antes era um [tecido] que fizemos ‘um bocado à mão lá’ no escritório, e ainda antes disso a minha mãe coseu umas bandas para meter o hardware dentro”, recorda, entre risos, a CEO da EmotAI.

A “magia” da banda encontra-se nos sensores que medem a atividade elétrica cerebral. “Da parte pré-frontal, que é a parte mais evoluída do nosso cérebro, conseguimos tirar a concentração, a tomada de decisão, o procedimento de emoções e classificamos com base neste sinais — mas também em combinação com o ritmo cardíaco — os diferentes estados de stress, de energia e concentração”, explica Carlos Moreira.

As empresas, o questionário e os exercícios recomendados

Quando notam que os funcionários estão “muito cansados”, “a queixar-se” ou a “entrar em burnout“, as empresas contratam a solução desenvolvida pela EmotAI. Por norma, a startup colabora com firmas que já têm “algum tipo de iniciativas” relacionadas com a saúde mental.

“Nunca somos a única iniciativa a ser utilizada até porque existem muitos problemas de saúde mental e nós, por enquanto, estamos apenas a ajudar com o stress, a ansiedade e o burnout“, afirma Carolina Amorim, que acrescenta que a tecnológica ainda não ajuda, por exemplo, “com a depressão”, embora seja esse o plano. Para garantir que os dados dos cidadãos permanecem anónimos, as empresas não sabem quem é que se inscreveu no programa da EmotAI. “Os únicos dados que nós damos à empresa são os da utilização: quantas pessoas é que estão a utilizar a banda e se a utilizam muito frequentemente”.

Os funcionários que pretendem utilizar a banda devem fornecer os seus dados à EmotAI para a receberem em casa ou no escritório. Depois, devem aceder à aplicação da startup (que só está disponível para computador) para responderem a um questionário que vai dar a dimensão de risco de burnout em que se encontram: exaustão, distância mental, impactos cognitivos ou impactos emocionais.

Que perguntas tem o questionário?

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Desenvolvido por uma universidade de Estocolmo, o questionário utilizado pela EmotAI tem as seguintes questões, que podem ser respondidas com as opções “nunca”, “raramente”, “às vezes”, “regularmente” e “sempre”.

(Exaustão)

  1. No trabalho sinto-me mentalmente exausto?
  2. Depois de um dia de trabalho acho difícil recuperar a minha energia?
  3. No trabalho, sinto-me fisicamente exausto?

(Distância mental)

  1. Tenho dificuldade em encontrar qualquer entusiasmo pelo meu trabalho?
  2. No trabalho, não penso muito no que estou a fazer e funciono em piloto automático?
  3. Sou cínico sobre o que o meu trabalho significa para os outros?

(Impacto Cognitivo)

  1. No trabalho, tenho dificuldade em manter-me concentrado?
  2. Quando estou a trabalhar, tenho dificuldade em concentrar-me?
  3. Cometo erros no meu trabalho porque tenho a minha mente noutras coisas?

(Impacto Emocional)

  1. No trabalho, sinto-me incapaz de controlar as minhas emoções?
  2. Não me reconheço na forma como reajo emocionalmente no trabalho?
  3. No trabalho, posso reagir de forma exagerada sem querer?

Após a resposta ao questionário são fornecidos planos de exercícios personalizados, que têm em consideração o risco e o tipo de burnout e ainda a fisiologia única de cada indivíduo. Por norma, são recomendados três exercícios por dia, que vão ficando “cada vez mais difíceis” com o passar do tempo.

Os planos incluem exercícios de concentração, ativação e relaxamento. Questionada sobre se os indivíduos não se cansam de repetir sempre as mesmas atividades diárias, a CEO da EmotAI, Carolina Amorim, admite que esse foi algum do feedback recebido pela empresa, que define como grande objetivo “conseguir lançar um exercício novo por mês”.

Os exercícios, que são feitos com a banda colocada em redor da cabeça, são “todos baseados numa tecnologia de biofeedback“. Desta forma, a pessoa consegue verificar, “em tempo real, se está a fazer os exercícios corretamente”.

No final de cada exercício ainda consegues ver se teve impacto”, uma vez que é apresentada uma pontuação. “Portanto, consegues mesmo ver se está a funcionar ou não”.

A EmotAI considera que os primeiros resultados começam a ser vistos duas semanas após o início do programa, mas que normalmente requer “dois ou três meses” para sinais duradouros. Após esse tempo, quando deixarem de estar em risco de burnout, pode optar-se por devolver a banda ou entrar numa fase de manutenção em que a continuam a utilizar, mas menos vezes ao dia.

3 fotos

Para além do acompanhamento que é feito através da aplicação, a EmotAI diz ter introduzido “um psicólogo que vai rever o que é que está a acontecer e vai ver se existe alguém que não esteja a melhorar”. “Nesse caso, nós relembramos que a empresa tipicamente tem um serviço de psicologia com o qual pode falar”, garante Carolina Amorim.

A ambição de voar para os Estados Unidos, um mercado com “muita competição”

A EmotAI ainda só se encontra disponível no mercado nacional. “Idealmente” vão rumar, no próximo ano, aos Estados Unidos, um mercado que descrevem como “pouco desenvolvido a nível de saúde”. “O sistema nacional de saúde deles é muito pouco desenvolvido, mas são o mercado mais desenvolvido do mundo em termos de benefícios para os desempregados”, consideram. Embora admitam que “pode haver muita competição” acreditam que vão “conseguir” ter sucesso nesse país.

Os planos para o futuro passam ainda pela contratação de, “em princípio”, duas pessoas até ao final de 2023, embora esse número dependa de como se “vai avançando ao longo do ano”. Neste momento, a startup portuguesa conta com sete funcionários e trabalha com quatro empresas, sendo que começará a trabalhar com mais três até ao final de abril. Os nomes dessas firmas não foram revelados, limitando-se a EmotAI a dizer que são de “áreas líderes como informática, financeira e investigação”.

"Se pessoa só quer utilizar o programa durante os três meses depois tem que ter lá uma banda que não está a utilizar? Não faz sentido."
Carolina Amorim, CEO da EmotAI

Os valores cobrados a cada empresa também não foram revelados, com a tecnológica a garantir que variam com fatores como o número de colaboradores ou o período tempo em que pretendem disponibilizar a solução. O Observador perguntou a Carolina Amorim se não poderia dizer um valor mínimo e um máximo, mas a resposta foi: “É que depende mesmo.”

Entre os objetivos para os próximos tempos está ainda a produção do hardware e de software cada vez mais rápidos para conseguirem trabalhar com “empresas cada vez maiores”. Neste momento, não está a ser equacionada a comercialização da banda até porque, explica a CEO, o valor está “na forma como os dados são processados” pela startup. Além disso, se a “pessoa só quer utilizar o programa durante os três meses depois tem que ter lá uma banda que não está a utilizar? Não faz sentido”.

Para que os planos que têm em mente sejam concretizados será necessário financiamento. A tecnológica sediada na Startup Lisboa vai levantar uma ronda de investimento no final deste ano — que acredita que seja Seed apesar de ainda não ter os “valores concretos” — para acelerar o fabrico das bandas e ainda para que seja possível começar a desenvolver cada vez mais exercícios.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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