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Mino Raiola, aqui à chegada às instalações da Juventus, era um dos agentes mais influentes da atualidade no mundo do futebol
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Mino Raiola, aqui à chegada às instalações da Juventus, era um dos agentes mais influentes da atualidade no mundo do futebol

Mauro Ujetto

Mino Raiola, aqui à chegada às instalações da Juventus, era um dos agentes mais influentes da atualidade no mundo do futebol

Mauro Ujetto

De empregado de mesa a agente com a casa de Al Capone pelo meio: Mino, o agente e amigo que influenciou as últimas duas décadas do futebol

Nasceu em Itália, cresceu nos Países Baixos, jogou no Haarlem, tornou-se globetrotter fora de campo. É o sonho de jogadores e o pesadelo dos treinadores. Perfil do excêntrico e influente empresário.

“Se tivesse de adivinhar o trabalho de Mino Raiola pela sua aparência e pela sua roupa, diria que era um empregado de mesa numa pizzaria em dia de folga. Na verdade, cresceu a trabalhar no restaurante da sua família e o seu serviço continua impecável. Desde o momento em que nos encontrámos no terraço por baixo do apartamento dos seus pais, numa avenida monótona da cidade neerlandesa de Haarlem, tenta antecipar todas as minhas necessidades. Onde me gostaria exatamente de sentar, se me podia dar uma bebida energética, se estou com muito calor de casaco”. Era assim que Simon Kuper assinava um perfil no Financial Times sobre o todo poderoso agente em 2016, era a partir dessa descrição que David Walsh se assumia um fã do empresário logo no primeiro parágrafo de um trabalho para o The Times em 2017.

Mino Raiola desmente a própria morte no Twitter, imprensa italiana diz que agente está “em estado crítico”

Fora como dentro do mundo do futebol, ideia puxa ideia e milhares de palavras em diferentes publicações foram-se multiplicando por centenas de milhares de frases sobre uma das figuras com maior peso mas ao mesmo tempo menos conhecidas do público em geral – até por ser uma espécie de anti-agente a dominar o mundo dos agentes, com uma forma de ser, de estar e até de vestir muito próprias que contam em parte como cresceu o empresário com 30 anos de carreira iniciada por acaso. Era dele, sobretudo dele, que se iria falar nos próximos meses. Era sobretudo por ele, que passariam as decisões nos próximos meses. No entanto, e para já, foi notícia pelos piores motivos depois de ter dado entrado na semana passada na unidade de cuidados intensivos de um hospital em Milão após sofrer complicações na sequência de uma operação. Quando recuperar, será a máquina que ajuda a decifrar respostas para as perguntas que todos têm.

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Questão 1: para onde vai Erling Haaland, a versão mais robusta de avançado para uma década que compete com Kylian Mbappé pelos principais holofotes da era pós Ronaldo e Messi? É perguntar a quem gere a sua carreira, Mino Raiola. Questão 2: para onde vai Paul Pogba, um dos free agents mais apetecíveis a partir de 1 de janeiro para ser apresentado no verão de 2022? É perguntar a quem gere a sua carreira, Mino Raiola. Questão 3: para onde vai De Ligt, central que parece ter chegado a um fim de linha na Juventus mesmo que a Juventus considere que está apenas no início do seu trajeto em Turim? É perguntar a quem gere a sua carreira, Mino Raiola. Sempre o transalpino pelo meio, com declarações públicas que “apimentam” os verdadeiros folhetins que também gosta de alimentar para chegar no final ao resultado pretendido. No futebol como nos tempos de pizzaria, o segredo está na massa mas os ingredientes fazem toda a diferença.

Ibrahimovic, um dos jogadores com quem tem uma relação mais próxima, referiu na sua autobiografia que Raiola lhe fazia lembrar os Sopranos

Corbis via Getty Images

O jogador Mino, o trabalho na pizzaria do pai, Direito e a transferência de Nedved

Apesar de ter nascido no sul de Itália, em Salerno, a família de Mino Raiola mudou-se para os Países Baixos quando tinha apenas um ano, mais concretamente para a cidade de Haarlem. Foi ali que se começou a tornar um globetrotter do futebol, tendo até experimentado a pele daqueles que hoje representa nas camadas jovens do clube da terra, o modesto HFC Haarlem. O físico era bem diferente do que agora conhecemos mas o jeito e a vontade só lhe permitiram ir até aos 18 anos como jogador sem que com isso perdesse a ligação ao futebol e ao clube, assumindo muito novo (para o que é habitual) o cargo de de chefe da formação do clube. Todavia, já antes brilhava num outro campo. “O presidente do Haarlem vinha sempre comer ao restaurante às sextas e eu estava sempre a dizer-lhe que não percebia nada de futebol. Houve um dia em que se chegou a mim e disse ‘Ai é? Então agora tentas tu!’. Foi assim que me tornei diretor desportivo”, contou numa entrevista ao jornal Il Secolo XIX. E foi com a família que aprendeu a outra parte do que é ser agente.

O seu pai começou por abrir um pequeno estabelecimento em Haarlem. Depois, passou para uma pizzaria. Mais tarde, inaugurou um restaurante de alta cozinha. Pontos comuns: utilizar apenas produtos que eram italianos e ter o filho a trabalhar consigo. Mino foi empregado de mesa, lavou pratos e funcionou quase como um relações públicas do negócio da família. Tudo menos ir para a cozinha colocar as mãos na massa, algo que ainda hoje admite não ser propriamente o seu ponto forte. Com o dinheiro extra que fazia, prosseguiu os seus estudos e frequentou durante dois anos o curso de Direito enquanto aprendia línguas. E, com o que aprendeu na pizzaria La Napoli, conseguiu fazer dinheiro mais a sério quando comprou uma cadeia de McDonald’s e mais tarde revendeu por um preço maior. No entanto, não era aquilo que mais queria. “O meu pai trabalhava 18 ou 20 horas todos os dias no restaurante. Depois, já tinha conseguido abrir 25”.

"Para os jogadores, o Mino é uma grande pessoa porque nos ajuda a ter o melhor contrato possível. Para os clubes, é um pain in the a**", contou à Sky Sports Michel Kreek, um dos vários neerlandeses que levou para Itália na década de 90.

A primeira ligação que teve ao mundo do agenciamento surgiu através da empresa Sports Promotions, que na altura estava muito em voga com a transferências de vários jogadores neerlandeses para a Serie A de Itália. Algumas publicações falam de Bryan Roy, antigo ala formado no Ajax, como a transferência inicial em que teve intervenção quando o neerlandês rumou ao Foggia em 1992. No entanto, outros jornais vão mais atrás e relatam que Mino Raiola já terá conseguido um pequeno papel na mudança de Frank Rijkaard para o Sporting em 1988, quando o recém eleito presidente Jorge Gonçalves trazia para Alvalade aquelas que ficaram conhecidas como as “unhas do leão”. Os dirigentes sportinguistas da altura não têm memória do agente italiano envolvido no negócio, que até acabou por ter como principal dínamo um português que estava então radicado nos Países Baixos e era amigo do internacional que se “zangara” com o então treinador Johan Cruyff, mas o defesa/médio não poderia ser inscrito, foi cedido ao Saragoça e acabou depois no AC Milan.

Vink, Wim Jonk e Dennis Bergkamp foram outras transferências onde colaborou entre 1993 e 1994, altura em que, com 27 anos, decidiu arriscar a sua própria agência com uma carteira de jogadores neerlandeses um pouco mais modesta mas um olho na internacionalização. Foi assim que garantiu Pavel Nedved, uma das principais revelações da Rep. Checa no Campeonato da Europa de 1996, em Inglaterra. Foi assim que fez a primeira grande transferência a liderar a operação, quando o médio deixou o Sparta Praga e rumou à Lazio. À beira dos 30, esse seria o negócio que marcaria a sua afirmação enquanto empresário no futebol.

Agente representa também Mario Balotelli, uma espécie de enfant terrible do futebol transalpino

Getty Images

Em relação aos jogadores, a carteira que tem hoje em mãos diz tudo. No que toca à relação com os técnicos, aí a questão é diferente. Bem diferente. Entre vários outros casos, ficou conhecida a frase quando Zlatan Ibrahimovic rumou ao Barcelona em 2009 após sair do Inter e não se sabia como Pep Guardiola iria jogar com o sueco. “Se não puser a jogar o Ibra depois de ter pago 75 milhões de euros por ele, o melhor é mandarem-no para um hospital psiquiátrico”, atirou. E existe quase um compêndio de tiradas assim que levam a que alguns managers como o mítico Alex Ferguson assumissem que desde que o conheceram não gostam da personagem. “Para os jogadores, o Mino é uma grande pessoa porque nos ajuda a ter o melhor contrato possível. Para os clubes, é um pain in the a**“, contou à Sky Sports Michel Kreek, um dos vários neerlandeses que levou para Itália na década de 90. “No meu caso fez a diferença”, acrescentou.

A casa de Al Capone, a contabilidade inspirada num filme e a relação com Ibrahimovic

“Pode parecer arrogante mas acho que fui eu o fundador deste mercado. O futebol tornou-se um mundo de espectáculo e entretenimento. A minha influência? Se um diretor desportivo não conhecer o Mino Raiola é sinal de que deve procurar um outro emprego”, atirou numa entrevista à Voetbalmagazine em 2020. De forma quase desconcertante, o transalpino fala do seu papel no mundo do futebol como se fosse o centro de tudo o que mexe. Hoje parece fácil falar, tendo em conta a posição que ocupa. Antes, já era assim. E há dois episódios que mostram bem a confiança que sempre teve nas opções tomadas: ofereceu Bergkamp antes ao Nápoles, o conjunto do sul de Itália hesitou, colocou o jogador no Inter e, dois anos depois, os napolitanos já estavam predispostos a pagarem muito mais pelo avançado; encontrou-se com Luciano Moggi, na altura dirigente da Juventus, teve de esperar duas horas, criticou a postura do responsável, foi “ameaçado” de que não trabalharia com Itália se voltasse a ser insolente, tornou-se agente FIFA e torneou depois a questão.

“Segredo? Resolvo os problemas dos jogadores como se fosse um pai porque eles são a minha família. Mas não sou eu que vou à procura dos jogadores, eles é que vêm ter comigo. Não seria capaz de ir atrás de um jogador”, contou à revista alemã 11 Freunde. E foi assim que a carteira de atletas foi aumentando e aumentando ao longo do tempo, neste caso mais no mercado italiano mas a partir de determinado ponto um pouco por toda a Europa. E foi isso também que apimentou algumas extravagâncias do empresário que não raras vezes aparece em centros de treino para reunir com administrações de fato de treino. Um exemplo: quando Paul Pogba foi comprado por mais de 100 milhões de euros pelo Manchester United, o transalpino terá recebido mais de 20 milhões de euros (que depois dos documentos divulgados pela plataforma Football Leaks representou mais do dobro) e, ato contínuo, comprou nesse mesmo ano de 2016 a casa em Miami que tinha pertencido ao famoso líder da máfia, Al Capone, por cerca de nove milhões de euros.

"Segredo? Resolvo os problemas dos jogadores como se fosse um pai porque eles são a minha família. Mas não sou eu que vou à procura dos jogadores, eles é que vêm ter comigo. Não seria capaz de ir atrás de um jogador"

No caso do agente, os impostos são uma coisa que leva muito a sério e com a particularidade, como recorda o Business Insider, de ter a firma de contabilidade Maguire Tax & Legal, numa alusão à personagem de Tom Cruise no filme Jerry Maguire. Agora, além do médio francês que está em final de contrato com os red devils (tendo um dos ordenados mais altos do plantel) e que será um dos jogadores mais cobiçados dos próximos meses, Mino Raiola representa outros pesos pesados do futebol europeu como Haaland – que se perspetiva como um dos maiores negócios do próximo verão por ter ainda um contrato de longa duração com o B. Dortmund –, Donnarumma, De Ligt, Lukaku, Mkhitaryan, Insigne, Verratti ou Ibrahimovic, jogador com quem foi construindo uma relação estreita e que funciona como exemplo de como gosta de trabalhar.

“Não sabia bem que tipo de pessoa poderia esperar quando me encontrei com ele pela primeira vez, talvez uma pessoa com roupas todas vistosas e um relógio de ouro ainda maior. Mas quem raio apareceu ali à minha frente? Um indivíduo de calças de ganga, com uma t-shirt da Nike e aquela barriga… Parecia um daqueles gajos dos Sopranos (…) Toda aquela atitude que tinha, do ‘Não és nada’, foi apenas uma forma de me fazer mudar de atitude e penso mesmo que teve sucesso”, revelou o avançado sueco de 40 anos na sua biografia a propósito do encontro em que passou a ser representado pelo empresário italiano, que há muito descreve o dianteiro como um dos maiores fenómenos que passaram pela Serie A nas últimas épocas.

Mino Raiola com Zlatan Ibrahimovic, um dos jogadores com quem sempre teve e mantém uma relação mais próxima

“Percebi logo que o Zlatan era um arrogante bastard. Por outras palavras, que simplesmente gostava de mim. As coisas que aprendi do Pavel Nedved passei ao Zlatan, as coisas que aprendi do Zlatan passei ao Paul Pogba. O Paul viu no Zlatan o que vê nele mesmo, um rapaz das ruas, grande na estatura mas com muita técnica, e reconheceu a atitude do ganhar, ganhar, ganhar”, contou. “Penso que quando um jogador decide que deve sair, deve mesmo sair. Nunca faço compromissos, trabalho sempre em nome dos interesses dos meus clientes. Os jogadores são a minha fortuna e tenho grandes responsabilidades perante eles. Contudo, nunca tive qualquer atividade que não considerasse própria. Para os agentes mais antigos, os interesses dos clubes estão à frente; para mim, os interesses dos jogadores estão em primeiro lugar”, acrescentou. E é por isso que o The Guardian descreve Raiola como “sonho de um jogador e pesadelo de um manager“.

Agora, o agente estava num momento à parte. Após as notícias que davam conta de uma operação de urgência no hospital San Raffaele, em Milão, a 12 de janeiro, o empresário fez uma publicação poucas horas depois nas redes sociais dizendo que era uma situação “planeada”. No entanto, a situação acabou por agravar-se. Nove dias depois, sofreu complicações pulmonares e foi transferido agora para a unidade de cuidados intensivos em estado grave mas “melhor, dadas as circunstâncias”. O Bild escreveu ainda nessa altura que a situação se teria agravado por ter contraído Covid-19. Daí para cá, poucas foram as informações sobre o transalpino. No entanto, e se é verdade que Haaland viajou até Monte Carlo para discutir o seu futuro no verão com o pai e um amigo, o norueguês aguarda que o empresário recupere para o aconselhar em tudo. E a influência é tanta que, nesta altura, o avançado não tem uma marca que o patrocine por preferir aguardar. Não conseguiria resistir e morreu a 28 de abril de 2022, aos 54 anos.

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