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Nas eleições departamentais, os partidos têm de apresentar listas paritárias encabeçadas por um homem e uma mulher, em nome da igualdade de género
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Nas eleições departamentais, os partidos têm de apresentar listas paritárias encabeçadas por um homem e uma mulher, em nome da igualdade de género

AFP/Getty Images

Nas eleições departamentais, os partidos têm de apresentar listas paritárias encabeçadas por um homem e uma mulher, em nome da igualdade de género

AFP/Getty Images

As eleições locais onde se joga o futuro de Le Pen, Valls e Sarkozy

Este domingo é dia de eleições departamentais em França. Os socialistas podem perder a favor de Sarkozy e de Le Pen, que lidera as intenções de voto para a primeira volta.

A campanha para as eleições departamentais francesas, que decorrem em duas voltas a 22 e a 29 de março, é feita, geralmente, a nível local. São mais de 18 mil candidatos, na sua maioria desconhecidos do grande público, que concorrem aos 2.054 cantões, as subdivisões administrativas que compõem os 101 departamentos franceses e que podemos comparar, largamente, aos distritos portugueses. A escala é pequena, mas, este ano, as consequências poderão não ser tão pequenas assim.

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Os níveis de governação em França. Em dezembro de 2013 houve uma reorganização dos cantões. Agora há 2054

 

A Frente Nacional lidera as sondagens para a primeira volta com 30% dos votos, ficando à frente da UMP de Sarkozy (29%) e do PS do presidente Hollande (19%). O Governo socialista, pela voz do primeiro-ministro Manuel Valls, empenhou-se politicamente nestas eleições, dizendo que o combate contra a extrema-direita nas departamentais é o “combate de uma vida”. Nicolas Sarkozy espera também que um bom resultado o ajude a relançar a UMP.

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Nestas eleições, o partido de extrema-direita de Marine Le Pen optou por tentar ganhar tempo de antena nacional, (enquanto os restantes partidos combatem por minutos e espaço nos meios de comunicação locais) divulgando em todo o país um documento que tem como objetivo alertar os franceses para os “30 anos de traição da UMP e do PS”, denunciando, através de gráficos em flecha ascendente, a explosão do desemprego (no final de 2014, 3,5 milhões de pessoas estavam desempregadas, um número recorde em França, que, no entanto, registou uma descida em janeiro) e dos impostos e prometendo a mudança.

Marine Le Pen em campanha para as departamentais

AFP/Getty Images

O jornal Le Monde analisou o documento e denunciou aquilo a que chamou o “folheto enganador da Frente Nacional”, disponibilizando aos leitores os “gráficos reais”, que suavizam o efeito visual provocado pelos gráficos catastrofistas da Frente Nacional. Mais, lembrou o diário francês: as propostas feitas pela FN nesse panfleto – “fim da imigração”, “patriotismo económico” e “fim da política de austeridade” – não são da responsabilidade dos departamentos nos quais se jogam estas eleições e que apenas têm competências ao nível da educação, da assistência social, do ordenamento do território e da cultura.

A Frente Nacional, fortalecida pelos resultados nas eleições municipais, em março de 2014, e nas eleições para o Parlamento Europeu, um mês depois, “depende das eleições departamentais de 22 e 29 de março”, concluiu o Monde. O partido de Le Pen joga tudo neste sufrágio, no qual terá candidatos em 95% dos cantões disputados, algo inédito.

FN pede demissão de Valls

Como escreveu a France 24, espera-se que o Partido Socialista do presidente François Hollande sofra uma grande derrota nas eleições departamentais. O PS tem, neste momento, 50 departamentos, mas arrisca ficar sem mais de metade desses. A popularidade de Hollande está em queda, muito devido ao desemprego elevado (o presidente francês já disse que só se recandidatará em 2017 se conseguir baixar esta taxa). Mas, para já, o combate nas eleições departamentais não é tanto com Hollande, (mesmo que um candidato da Frente Nacional se tenha fotografado a apontar um revólver à testa de um boneco do presidente francês) mas com o seu número dois, o primeiro-ministro Manuel Valls.

O candidato da Frente Nacional em Mayenne, Damien Hameau-Brielles, colocou esta fotografia no Facebook

Valls escolheu as eleições departamentais para “estigmatizar” a Frente Nacional, como escreveu o Monde. No início do mês de março, o primeiro-ministro francês deu uma entrevista onde abriu as hostilidades, duas semanas antes do ato eleitoral. “Este é o desafio destas eleições”, disse, referindo-se aos números que davam a Le Pen um terço dos votos. “Tenho medo pelo meu país. Tenho medo que fracasse contra a Frente Nacional”, disse, acrescentando estar “ansioso”. Muita dessa ansiedade deve-se, disse à sua perceção de que o partido de extrema-direita está “às portas do poder”. “Pensam que uma Frente Nacional que consegue 25%, talvez 30% nas eleições departamentais, não é capaz de vencer as presidenciais? Não em 2022 ou em 2029, mas já em 2017!”, disse.

Os debates e as trocas de palavras entre Valls e vários membros da Frente Nacional, nomeadamente a sobrinha de Jean-Marie Le Pen, Marion Maréchal-Le Pen, têm sido duros. Num debate parlamentar, Manuel Valls enervou-se durante o confronto com a Frente Nacional e disse a Marion Maréchal-Le Pen, com a mão esquerda tremente, “vocês enganam o povo”. A Frente Nacional aproveitou a situação para tentar descredibilizar o primeiro-ministro, acusando-o de ser incapaz de “controlar os nervos” e comparando a sua mão a Hitler, que alegadamente sofria da doença de Parkinson.

https://youtu.be/N_FjQsw4d5I

O eurodeputado da Frente Nacional e conselheiro para o Ensino Superior de Marine Le Pen, Gilles Lebreton, pediu a demissão de Valls. “É perturbador ver um primeiro-ministro em tal estado, depois de menos de um ano de responsabilidades governativas. Um homem que perde o controlo dessa forma precisa de ser afastado das suas funções”, disse.

Nicholas Sarkozy também não perdeu a oportunidade de provocar Manuel Valls. “Preocupo-me por ele. A qualquer momento pode explodir. Felizmente, o botão para os ataques nucleares fica no escritório ao lado”, disse.

Manuel Valls já afastou qualquer hipótese de demissão, mesmo em caso de uma pesada derrota para os socialistas nos dias 22 e 29 de março. O primeiro-ministro explicou os ânimos exaltados no parlamento e respondeu à polémica originada com o seu nervosismo. “A extrema-direita tocou num nervo sensível, talvez. Não sei, mas o meu coração sabe”, disse, acrescentando: “não há nenhuma emoção, apenas determinação. Estou num combate. Sou como sou, muito determinado. Este é o combate de uma vida”.

Um referendo nacional para 2017

Dos 101 departamentos existentes em França, é provável que as perdas do Partido Socialista beneficiem a direita, prevendo-se que entre 30 a 40 destes corpos mudem de cor política, segundo a France 24. E, apesar de, de acordo com os resultados das sondagens, a vitória parecer inclinar-se para a Frente Nacional, o sistema de duas voltas pode reduzir bastante o peso nacional conseguido pela extrema-direita neste sufrágio.

 

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Os departamentos a rosa pertencem à esquerda, os departamentos a azul pertencem à direita. Fonte: Le Monde

Será Sarkozy quem mais capitalizará a esperada derrota do PS, aproveitando-a para fortalecer a UMP e a si próprio como líder, depois de em novembro de 2014 apenas ter conseguido convencer 64,5% dos militantes nas eleições para a presidência do partido, uma percentagem que o obrigará a disputar primárias para a escolha do candidato às presidenciais.

Perante uma sala cheia de apoiantes em Marselha, durante esta campanha, Sarkozy aproveitou para enviar um recado a Alain Juppé, o político que atualmente é o favorito dos franceses à direita para 2017. “Quando se é o líder de um partido, a atualidade chega até nós. Quando não se é, temos de ser nós a ir ter com ela”, disse o antigo presidente francês. O Figaro descodificou a mensagem: a acreditar nas sondagens, brevemente, essa atualidade será a derrota da esquerda e o aumento dos votos na UMP. 

Sarkozy aproveita as departamentais para reforçar a sua posição de líder da UMP

AFP/Getty Images

Segundo o Figaro, Sarkozy não vai “confundir os ritmos políticos”. Isto significa que não haverá referências às primárias do partido ou às presidenciais de 2017 antes do fim deste ano. Mas esta campanha permitiu ao líder da UMP pôr em prática a estratégia para as próximas eleições: sufocar os aliados de Juppé, os centristas e não permitir qualquer aliança com a Frente Nacional.

Gilles Ivaldi, um professor na Universidade de Nice, desvalorizou a importância política nacional das eleições departamentais, dizendo que estas apenas podem dar um retrato da política Francesa neste momento. Serão as regionais, em dezembro de 2015, as eleições cruciais para avaliar o “balanço de poder” e os líderes prováveis na corrida de 2017, defendeu.

“Aconteça o que acontecer nestas eleições [departamentais] apenas serão vistas como um referendo nacional. Vão permitir um retrato do atual balanço das forças políticas”, concluiu.

Eleições renovadas

Além de poderem servir a consolidação nacional da Frente Nacional e o relançamento da UMP, as eleições departamentais deste ano estão a ser acompanhadas pela imprensa francesa com algum destaque porque serão o palco de importantes mudanças no sistema eleitoral do país.

Estas eleições mudaram de nome este ano. Até aqui, eram designadas por “eleições cantonais”, designação substituída pela expressão “departamental”, que expressa uma escala maior. Em dezembro de 2013, o mapa de cantões franceses foi redesenhado mais uma vez (o desenho original remonta a 1790, um ano depois da Revolução Francesa). Dos 4035 existentes, passou-se para os atuais 2054 para que haja uma adaptação aos dados populacionais mais recentes. Cada um dos departamentos do país tem agora cerca de 20 cantões.

Pela primeira vez na sua história, a França terá eleições paritárias em termos de género. Isto significa que cada partido deve apresentar, como cabeças de lista, um homem e uma mulher. Os candidatos escolhem, assim, um suplente do género oposto ao seu. Isto acontece porque, apesar de a paridade eleitoral estar prevista na lei desde o ano 2000, considera-se que a igualdade perfeita nunca foi atingida, uma vez que as mulheres, mesmo marcando presença em todas as listas, ficam geralmente de fora dos primeiros lugares, como escreveu o Monde. Atualmente, apenas cinco departamentos em 100 são dirigidos por uma mulher.

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