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Coligação em Lisboa parece ser a ideia de trabalho em conjunto que reúne maior consenso à esquerda
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Coligação em Lisboa parece ser a ideia de trabalho em conjunto que reúne maior consenso à esquerda

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Coligação em Lisboa parece ser a ideia de trabalho em conjunto que reúne maior consenso à esquerda

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Esquerda dividida sobre resultados em França. PS rejeita "frente" e "soluções virtuosas", BE e Livre traçam paralelismos

Bloco de Esquerda e Livre, que têm promovido conversas à esquerda, entusiasmaram-se com resultado francês. PCP está cético e PS lembra "antagonismos" e problemas do passado com partidos vizinhos.

Em França, uma aliança surpreendente, e construída num repente, conseguiu o que há dias parecia impensável: a esquerda organizou-se, venceu as eleições e atirou a direita de Le Pen para o terceiro lugar. E em Portugal, naturalmente, a esquerda alegrou-se e até se emocionou. O que não significa que tenha retirado ilações iguais sobre a reviravolta francesa: se Bloco de Esquerda e Livre se entusiasmaram e já fazem traduções diretas entre a situação francesa e a portuguesa, desafiando os socialistas a virarem-se mais para a esquerda, o PS rejeita a ideia de uma frente alargada e o PCP também garante que o cenário não é “reproduzível”.

Se é costume dizer-se que as eleições nacionais dependem, em cada país, de um contexto específico, também é verdade que o resultado em França aparece num contexto específico para a esquerda portuguesa. Arredada do poder depois de anos em que governou — primeiro assente na geringonça, depois com o PS absoluto –, a esquerda em Portugal tenta agora chegar, precisamente, a entendimentos mais alargados — um esforço que tem sido promovido por Bloco de Esquerda e Livre e olhado de lado pelo PCP e, por vezes, pelo PS. Até porque a ideia de uma coligação autárquica em Lisboa parece útil aos socialistas, mas o tempo e os modos da discussão provocam desconfiança.

Também por isso, do lado dos socialistas a resposta surgiu de forma clara e da boca de Pedro Nuno Santos: “Não há nenhuma frente de esquerda, esse debate não existe. Estamos a falar da realidade francesa, cada país tem a sua realidade e uma resposta adequada à realidade nacional. Ponto final”, atirou esta segunda-feira durante as jornadas parlamentares do PS. Numa altura em que os socialistas adiam as conversações à esquerda — e os partidos vizinhos seguem atentamente os seus passos, vigiando a atitude dos socialistas relativamente à viabilização do primeiro Orçamento do Estado deste Governo — o líder do PS chutou a questão para canto.

Pedro Nuno Santos trava ideias de inspiração francesa: “Não há frente de esquerda. Ponto final”

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No topo do PS, ouvem-se mais explicações que vão dar à mesma conclusão. Um dirigente socialista defende que a tradição e a história do velho republicanismo francês — e das coligações que precederam esta Nova Frente Popular — explicam a união encontrada agora perante a ameaça da extrema-direita, o que faz com que as duas realidades, a francesa e a portuguesa, sejam “muito distintas”.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Na cúpula do PS também há quem aponte para o guião desenhado ainda antes das eleições francesas pelo presidente do partido, Carlos César, num discurso que fez a 20 de junho, num colóquio organizado pela Fundação José Saramago. Nesse discurso, César avisava que não há “receitas milagreiras” para reverter o cenário atual de maioria à direita, nem o “frentismo” de esquerda é uma “solução virtuosa”. “Creio que a inversão desse ascendente da direita dependerá menos da união da esquerda e mais da demonstração da boa governação à esquerda. É isso que deve ser feito sentir junto dos portugueses”, argumentava o presidente do PS nessa ocasião.

Para César, a união da esquerda em França também tem provado “como as esquerdas são facilmente permeáveis a fortes antagonismos, dos quais, aliás, resultaram sucessivos fracassos”. Foi nesse contexto que fez a ponte para o caso português, acusando as esquerdas, no tempo da geringonça, de terem passado o tempo “a questionarem-se e a condenarem-se mutuamente, com o velho hábito da esquerda à esquerda do PS ter “mais olho do que barriga”. Se a governação à esquerda tivesse continuado, assegura o presidente socialista, teria sido possível apresentar bons indicadores na saúde, habitação ou nas carreiras dos funcionários públicos, assegurou.

No mesmo discurso, César garantiu ainda não ser “contra a cooperação mais estreita e menos formal” entre os partidos à esquerda, uma vez que pode ser “útil e coerente”. Mas avisou: entre “confluências e contradições”, “a esquerda portuguesa tem mais condições, usemos esta expressão, de estar mais unida à chegada do que à partida. E o PS tem a vocação e as condições para ser a grande esquerda portuguesa e como tal, a alternativa às direitas”. Pensar no PS primeiro e, possivelmente, em acordos pós-eleitorais no futuro — “se isso for inevitável”, ouve o Observador no PS.

Bloco e Livre traçam paralelismos, mas exige-se mais “clareza” ao PS

Sem surpresa, foram precisamente o Bloco de Esquerda e o Livre que se apressaram a apontar as semelhanças entre a situação de França e de Portugal, desenhando os paralelismos possíveis entre os dois cenários políticos. Esta segunda-feira, Mariana Mortágua marcou mesmo uma conferência de imprensa especificamente para falar dos resultados em França, e chegou a fazer equivalências entre as políticas e os partidos dos dois países — identificando o “neoliberalismo” de Emmanuel Macron com as políticas do Governo da AD e, em parte, do PS absoluto, assim como as políticas de “extrema-direita” da União Nacional com as de André Ventura.

Prosseguindo nesta lógica, o Bloco encaixar-se-ia numa aliança que incluísse soluções à esquerda, onde se reconhece na França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon — uma tradução que não funciona em termos de dimensão, uma vez que esse é, em França, o maior partido de esquerda, superando os socialistas, o que não acontece em Portugal. Ainda assim, para Mortágua França estava “preso a uma falsa escolha”, entre o “programa neoliberal protagonizado” por Macron e o “neofascismo de Le Pen, baseado no ódio e na divisão”. E, neste contexto, a esquerda “mostrou que um programa forte, de rutura com as políticas liberais do centrão, que recusa todos os princípios da extrema-direita, pode ser uma força ganhadora, que resgata França, como outros países, desta escolha falsa”.

Questionada sobre a tradução possível entre a situação francesa e a portuguesa, Mortágua foi mais longe, defendendo que existe um “padrão”: existe um “centro liberal” que degrada o Estado Social e as condições laborais — uma política que, argumentou, também foi “em certa medida” que foi adotada pelo PS português, enquanto se agarrava a uma “política de chantagem” para crescer por oposição à extrema-direita, e “falhou”; e a extrema-direita, tendo “raízes diferentes”, baseia-se “nos mesmos princípios” em França ou em Portugal: “Exploração do mesmo ódio, da imigração, do racismo, de velhas questões não resolvidas, do ressentimento, da desesperança”.

É neste contexto, celebra agora o Bloco, que a frente de esquerda francesa entra na equação para “resgatar a França deste binómio” com um “programa alternativo”, que inclui o aumento de salários, a recuperação de serviços públicos, a taxação de grandes fortunas ou o acolhimento de imigrantes. “É essa a aprendizagem”, frisou Mortágua: a “rutura” é que vem dar “esperança” aos eleitores.

[Ouça aqui o Direto ao Assunto com Jorge Costa]

Jorge Costa, do BE: “PS tem sido ambíguo quanto ao Governo de Luís Montenegro”

À rádio Observador, o dirigente bloquista Jorge Costa batizou essa rutura como uma “polarização política virtuosa”, defendendo que uma agenda que se posicione claramente à esquerda pode “triunfar”, tornando-se a chave de uma solução política e isolando a direita de André Ventura. Tudo contra a situação de “pântano” político a que, defendeu, França foi levada por anos de uma governação ao centro que aplicou soluções liberais e fez de Macron um “guru”.

O raciocínio é até igual ao que Pedro Nuno Santos publicou na rede social X, antigo Twitter, quando foram conhecidos os resultados em França, uma vez que pegou precisamente nas palavras do secretário-geral do congénere francês, Olivier Faure, para dizer que “a França merece melhor do que uma alternativa entre neoliberalismo e fascismo”.

O deputado do Livre, Rui Tavares, acompanho pela líder parlamentar, Isabel Mendes Lopes, após a eleição de José Pedro Aguiar Branco (ausente da fotografia), como novo presidente da Assembleia da República, sucedendo a Augusto Santos Silva, que falhou a eleição pelo círculo Fora da Europa nas últimas legislativas, na Assembleia da República em Lisboa, 27 de março de 2024. FILIPE AMORIM/LUSA

Livre tem defendido entendimentos nas autárquicas e nas presidenciais, tal como o Bloco

FILIPE AMORIM/LUSA

O problema que atrapalha esta análise — e que tem atrapalhado os esforços de partidos como o Livre e Bloco para organizar reuniões e apresentar alternativas que convoquem toda a esquerda — é que a posição do PS quanto a convergências continua pouco definida.

Se quanto a essas reuniões o PS não mostrou grande entusiasmo — quando o BE marcou uma primeira ronda, em março, só quis sentar-se à mesa após a discussão do programa do Governo; agora que o Livre marcou a segunda, o PS deixou claro que quando quiser tomará a iniciativa e ainda é o único partido, apurou o Observador, com reunião ainda por marcar, por “questões de agenda” — o Bloco lamenta que os socialistas ainda estejam “longe de fazer uma rutura” com as políticas que têm sido seguidas, para apostar num “programa social forte”.

Para Jorge Costa, falta “clareza” ao PS. “Veremos que atitude quer o PS assumir perante este Governo e o seu Orçamento do Estado”, avisou na rádio Observador, poucos dias depois de o líder parlamentar bloquista, Fabian Figueiredo, ter dito ao Observador que viabilizar o Orçamento da AD seria uma opção “errada”, que a esquerda “faz mal quando não se diferencia da direita” e que, sempre que se “cria confusão“, “o que impera será a força que está a governar”.

Fabian Figueiredo: “Em temas centrais da governação da AD são recuperados antigos planos do PS”

A visão do Livre, que promoveu a segunda ronda de conversações à esquerda com base na ideia de uma coligação autárquica em Lisboa (essa sim, bem vista no PS), ficou espelhada no comunicado que o partido divulgou logo no domingo, elogiando a “enorme mobilização” dos “democratas, progressistas e ecologistas” que se inspiraram da Frente Popular de León Blum para desenhar uma aliança “plural e republicana” que deve agora responder aos “anseios” de toda a população.

Para o Livre, o que o resultado mostrou foi que a “convergência de forças progressistas, ecologistas e de esquerda é a melhor forma de, em paralelo, combater a extrema-direita e criar uma alternativa de governação”. E por isso, o partido defendeu mesmo que o resultado em França dê esperança e até “mostre o caminho” que a esquerda deve, agora, trilhar.

PS avisa: quando quiser falar com a esquerda “toma a iniciativa”. Mas ideia de coligação em Lisboa ganha adeptos

PCP cético fala em “contradições” e “riscos”

Já o PCP mostrou-se bem mais cético. Depois de ter aceitado reunir-se com Bloco de Esquerda e Livre (com este último tem reunião marcada para dia 15 de julho) mas rejeitado a ideia de uma coligação autárquica em Lisboa, o partido emitiu um comunicado, esta segunda-feira, em que registou o “recuo” dos apoiantes do “governo neoliberal” de Macron, mas também o aumento de deputados da extrema-direita, sem grandes entusiasmos.

Para os comunistas, estes resultados trouxeram “elementos contraditórios” e uma “vontade de mudança” de parte significativa da população, que pede medidas como o aumento de salários e pensões, a diminuição da idade da reforça ou a melhoria dos serviços públicos. Ainda assim, o partido lembra que o sistema eleitoral francês é diferente do português, pelo que a Nova Frente Popular foi constituída como “instrumento de disputa eleitoral” e que também ela tem “contradições” — “incluindo pela integração de forças com grandes responsabilidades na recente evolução negativa da situação em França”.

A posição dos comunistas é, por tudo isto, cética: por um lado, ainda temem o “risco” de que a vontade de mudança expressa nas urnas seja “defraudada” e que a política “antipopular e reacionária” de Macron ainda acabe no poder; por outro, lembram que “as especificidades que caracterizam a situação francesa não são reproduzíveis em realidades nacionais distintas”. Para o PCP, o que interessa, em França ou em Portugal, é a “luta dos trabalhadores” e o peso que terá na evolução da situação. A luta continua. As conversas à esquerda também, mas a ritmo pouco acelerado.

 
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