A Mesopotâmia deve o seu nome de batismo a uma palavra de origem grega que significava “terra entre dois rios”. Esses dois rios eram o Tigre e Eufrates – o seu território estendia-se por uma área que hoje corresponde ao Iraque e partes da Turquia, Irão, Síria e Kuwait. Foi aí que os sumérios desenvolveram, por volta de 3000 a.C, a escrita cuneiforme, que desempenhou um papel crucial na expressão religiosa e no poder político, sendo frequentemente encontrada em monumentos e esculturas.
Tal como a Mesopotâmia, também o antigo Egipto floresceu em margens férteis, neste caso as do Nilo. Teve uma monarquia contínua: os faraós governaram durante mais de 3000 anos, a partir de 3100 a.C. Assim, a arte egípcia caracteriza-se por um carácter constante, de continuidade, embora com alguns períodos de mudança, como o chamado período de Amarna, em que o faraó Akhenaten instaurou um culto essencialmente monoteísta, centrado em Aton, o deus Sol. Os chamados “estilos” na arte egípcia ajudam a identificar diferentes períodos cronológicos, embora devam ser interpretados com cautela.
É importante notar que o conceito moderno de “arte pela arte” não se aplicava necessariamente à produção artística destas antigas civilizações. A arte na Mesopotâmia e no Antigo Egipto estava intrinsecamente ligada ao contexto político e religioso, refletindo o poder dos monarcas e servindo como expressão da criatividade humana. Portanto, contemplar os artefactos que delas resultaram apenas como objetos estéticos pode levar à perda do seu significado original, associado à religião e à política. Ainda assim, a arte não deixa de ser uma manifestação da capacidade criativa dos seres humanos dessas épocas, pelo que a sua dimensão antropológica não deve ser ignorada.
Tanto a Mesopotâmia como o Antigo Egipto tiveram um impacto duradouro nas civilizações europeias, desde a Grécia e Roma antigas, onde já havia coleções de antiguidades egípcias. O interesse pelo Antigo Egipto intensificou-se no século XIX, com a popularização das pirâmides e múmias, levando a que ocorresse uma verdadeira “egiptomania” no Ocidente. Esse interesse refletiu-se em diversos campos artísticos, desde as chamadas “artes maiores” – arquitetura e escultura – às “artes menores”, decorativas, como a ourivesaria e cerâmica. A música, o teatro, a moda e até a publicidade também se deixaram influenciar por essa corrente.
A Mesopotâmia despertou o interesse dos europeus sobretudo durante os séculos XIX e XX, altura em que ocorreram escavações arqueológicas intensas. Da coleção de Calouste Gulbenkian consta uma peça notável: um baixo-relevo representando um génio alado, proveniente do palácio do rei Assurnasirpal II (c. 883 a.C.) em Nimrud.
Embora a influência da arte mesopotâmica se tenha feito notar na imaginação ocidental, a arte egípcia continua a ser mais popular, provavelmente devido à maior disponibilidade de artefactos e à sua acessibilidade.
A coleção de antiguidades egípcias reunida por Calouste Gulbenkian a partir de 1920 é de grande importância para a história da arte egípcia. Com um total de 54 peças, vai desde o Império Antigo ao período romano, fornecendo uma visão abrangente da história do Antigo Egipto. Nela, destacam-se peças como o baixo-relevo da princesa Meritités, em calcário, que exibe a cartela do faraó Khufu, e a cabeça do faraó Senuseret III, em obsidiana, ambas adquiridas em 1922.
As artes da Mesopotâmia e do Antigo Egito deixaram um legado duradouro e influenciaram não apenas as civilizações da época, mas também as que se lhes seguiram, principalmente no segundo caso. Isso ficou, aliás, bem evidente na exposição “Faraós Superstars”, realizada no Museu Calouste Gulbenkian em parceria com o MuCem de Marselha, um retrato panorâmico da riqueza fascinante desta antiga civilização.