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Steve Jobs apresentou o primeiro iPhone em janeiro de 2007.
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Steve Jobs apresentou o primeiro iPhone em janeiro de 2007.

Getty Images

Steve Jobs apresentou o primeiro iPhone em janeiro de 2007.

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iPhone: há 15 anos Steve Jobs tirou do bolso a galinha dos ovos de ouro da Apple. Que cartas ainda tem a empresa na manga?

Em 2007, a Apple revelou o iPhone e 15 anos depois a gama continua a ser a jóia da coroa da tecnológica. Quarta-feira há a promessa de mais equipamentos – o que é que ainda podem trazer de novo?

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É um dos momentos “one more thing” mais relevantes do legado de Steve Jobs na Apple. Após dois anos e meio de trabalho, a 9 de janeiro de 2007 o fundador da Apple tirou do bolso um dispositivo retangular: o primeiro iPhone. Tal como o iPod, o leitor de música da marca, tinha agitado o mercado no início do milénio, com a promessa de “mil músicas no bolso”, também o iPhone transformou o negócio da empresa tecnológica. E os dos telemóveis.

A diferença é que enquanto a linha iPod foi descontinuada este ano, ao fim de 21 anos de vida (em parte aniquilada pelo próprio iPhone e pelos serviços de streaming de música), o iPhone continua de pedra e cal na estratégia da empresa. 

De apenas um equipamento anual por lançamento na habitual apresentação de setembro, nos últimos anos a empresa tem apostado em lançar quatro equipamentos de uma só vez. Esta quarta-feira, 7 de setembro, a tecnológica de Cupertino tem na agenda o evento “Far Out”, onde os novos modelos de smartphone prometem assumir mais uma vez o papel principal, com a série iPhone 14.

iPhone, o telefone três-em-um que ganhou estatuto de produto de luxo

Não foi o primeiro smartphone da indústria tecnológica – e, para a Apple, também não foi a primeira experiência na área dos telemóveis. Mas que ingredientes é que permitiram à empresa norte-americana apresentar um smartphone que teve a capacidade de substituir os computadores como principal fonte de receita e até afastar o iPod?

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A resposta é simples: Steve Jobs “virou de cabeça para baixo o paradigma do que um telemóvel devia ser”, destaca o Mobile Phone Museum, fundado por Ben Wood, analista-chefe da consultora CCS Insight. “Quando Steve Jobs entrou em palco em janeiro de 2007 e tirou o iPhone do bolso, pouco sabíamos sobre o impacto que o dispositivo podia ter.” Na apresentação de 2007, o suspense que culminaria na revelação era pontuado com a ideia de que Steve Jobs apresentaria três produtos naquele dia: “Um iPod, um telefone e um comunicador de internet”. Não estava longe da verdade, a questão é que todas estas experiências estavam condensadas num só produto. “Em vez de oferecer um dispositivo com poder de processamento limitado, que era o que a maioria dos telefones tinha na altura, a Apple essencialmente apresentou um computador que cabia no bolso, com uma revolucionária experiência de utilizador”, remata o Mobile Phone Museum de Ben Wood.

A parte da experiência de utilizador é relevante neste cenário. Aqui a Apple tinha aprendido com o ROKR E1 (lido como rocker), a primeira experiência que teve na área dos telemóveis. Anunciado em setembro de 2005, resultante de uma colaboração com a Motorola e a operadora norte-americana Cingular, era posicionado como “o primeiro telemóvel do mundo com iTunes”.

Apesar da pompa, o telefone ficou aquém das expectativas, inclusive das de Steve Jobs, não conseguindo vingar no mercado. Apresentado durante um evento de setembro da Apple, nem ao fundador da Apple a demonstração ao vivo correu bem, o que poderia ser visto como uma espécie de presságio sobre os contratempos dos clientes com o equipamento. Além do aspeto do telefone, composto maioritariamente por plástico, só comportava cem músicas (o iPod permitia mil) e também estava mais limitado, já que só podia ser adquirido por clientes da Cingular.

Mas nem tudo estava perdido. É amplamente reconhecido que o telemóvel iTunes serviu de treino e aprendizagem para Steve Jobs e para a equipa da Apple, ajudando a perceber como funcionava o mercado dos telemóveis e questões como os principais canais de distribuição. Além disso, também terá permitido à empresa focar todos os esforços em tentar não repetir os erros do ROKR E1 e afinar o produto que seria o primeiro iPhone, lançado 18 meses depois.

Há 15 anos, o mercado dos smartphones ainda dava os primeiros passos; havia poucos equipamentos e o primeiro smartphone com Android, o sistema operativo que domina o mercado, só chegaria um ano mais tarde, em 2008. Além disso, os “players” dominantes na área do mercado mobile em 2007 também eram diferentes dos de 2022. Recordando dados da consultora Gartner, nesse ano a marca mais vendida era a Nokia, com uma fatia de 37,8% do mercado global, seguida pela Motorola (14,3%) e Samsung (13,4%). Havia ainda espaço para marcas como a Sony Ericsson (8,8%) ou a LG (6,8%). Nos dados anuais de 2007, a Apple nem sequer conseguia sair da categoria “outras marcas”. Também é impossível esquecer a presença da Blackberry, muitas vezes associada ao mercado corporate.

O Mobile Phone Museum, liderado pelo analista Ben Wood, ressalva que volvidos tantos anos e a presença da Apple enquanto segunda marca de smartphones mais vendida, é “fácil esquecer o cepticismo à volta do primeiro iPhone”, que era visto como um equipamento “demasiado caro e com demasiada engenharia”. “No entanto, quando as pessoas tinham um iPhone nas mãos, rapidamente perceberam que era um equipamento disruptivo que iria ter um grande impacto no próximo caminho dos telefones móveis”, nota.

Quando revelou o primeiro iPhone, Steve Jobs descreveu que era o culminar de "dois anos e meios de trabalho"

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Aos olhos da tecnologia atual, o primeiro iPhone era bastante limitado. Tinha um ecrã de 3,5 polegadas, uma câmara de dois megapíxeis e apenas 16 aplicações, a maioria disponibilizada pela Apple, onde se incluía o Mail, Notas, Câmera, Stocks, Safari ou iPod, além do YouTube e Google Maps, apps desenvolvidas pela Google. A App Store, onde hoje é possível descarregar aplicações para praticamente tudo, só chegou um ano mais tarde, em 2008. O armazenamento interno do telefone também era algo reduzido – havia apenas uma opção com 4 GB e outra de 8 GB. Nos Estados Unidos, o primeiro mercado a receber o smartphone, os preços arrancavam nos 499 dólares, precisando ainda de um contrato de dois anos com a operadora AT&T. A versão de 8 GB era ainda mais dispendiosa, ficando nos 599 dólares.

Em 2007, o iPhone já era visto como um equipamento caro. E, conforme recorda Ben Wood, do Mobile Phone Museum, os preços praticados eram muito diferentes da restante indústria. “Na altura, as outras fabricantes estavam a disponibilizar telefones com preços muito subsidiados. Esperar que os utilizadores pagassem um preço elevado destes por um telefone era considerado invulgar na altura e chocou a indústria que estava habituada a modelos subsidiados para equipamentos vendidos com contrato.” Em setembro desse ano, a Apple terá-se apercebido desta questão e retirou 200 dólares ao preço ao modelo de 8 GB, acrescentando ainda um crédito em loja de 100 dólares no mercado norte-americano. A versão base de 4GB também foi descontinuada.

Com o slogan “a Apple reinventa o telefone”, a marca conseguiu vender um total de 6,1 milhões de unidades da primeira geração de iPhone, até o modelo ser descontinuado um ano mais tarde, em julho de 2008.

Do iPhone 3G até ao 5C mais “acessível”

Ao longo dos anos a Apple tem feito várias experiências na linha iPhone. Nos primeiros anos, habitualmente era revelado um só modelo anualmente, variando a configuração de espaço; depois, já os anos Tim Cook no cargo de CEO da Apple contam com vários modelos apresentados de uma vez só. Estas não foram as únicas experiências: a marca também apostou em modelos SE (Special Edition) ou até em equipamentos que tentavam ser mais acessíveis, como foi o caso da linha 5C. Os ecrãs também foram crescendo nos últimos anos, com a marca a acompanhar as tendências da indústria e a apostar em ecrãs cada vez maiores – também para responder ao aumento do consumo de multimédia no telefone.

Em 2008, a seguir ao lançamento do primeiro iPhone, a Apple apostou no iPhone 3G. Visualmente, não era assim tão diferente do antecessor – mas tinha a vantagem de já ter compatibilidade com 3G, a terceira geração de redes móveis, permitindo uma navegação mais rápida na internet.

Este equipamento também teve um lançamento muito mais alargado do que o primeiro iPhone. Se o antecessor foi disponibilizado numa primeira fase em seis países, a disponibilidade inicial do iPhone 3G foi alargada para 22 países (hoje em dia, um iPhone é lançado em 170 países). Quando foi lançado em Portugal, em 2008, o iPhone 3G de 8 GB custava 499 euros, acima do salário mínimo nacional de 426 euros (dados da Pordata).

Em 2009, começava um dos “testes” da empresa: em junho, na conferência dedicada a programadores, Steve Jobs revelava o iPhone 3GS. Era o início dos modelos com a designação “S” que, nos anos seguintes, representariam um modelo com design igual ao do antecessor, mas com algumas arestas limadas. O 3GS era mais rápido do que o modelo anterior e também mais barato: a versão do 3GS com 8GB custava 99 dólares, menos 100 do que o antecessor. Além disso, também apresentou o iPhone com 32 GB, a maior capacidade de armazenamento de um iPhone da marca na altura.

Um ano mais tarde, o iPhone 4 trazia a primeira mudança radical de aspeto ao iPhone. Não só era mais fino, como também já incluía uma câmara frontal, coincidindo com o lançamento do serviço de videochamadas da Apple, o FaceTime. Além disso, tinha ainda um ecrã retina, na altura descrito como uma significativa melhoria na qualidade de visualização. “O iPhone 4 foi um enorme sucesso comercial e deu à Apple um impulso imparável com a franquia iPhone”, reconhece a informação do Mobile Phone Museum.

O ano seguinte foi marcado por outra edição S, uma atualização ao modelo apresentado em 2010, trocando as voltas aos clientes que antecipavam um iPhone 5. Em 2011, os analistas da indústria reconheciam que não havia grandes mudanças, mas que a introdução de um novo processador, o mesmo que era usado no iPad, já podia motivar alguns upgrades por parte de clientes. O 4S marcou uma mudança de ritmo, nem que tenha sido pela pessoa ao leme da apresentação. Steve Jobs abandonou a liderança da Apple em agosto, por motivos de saúde, sendo substituído por Tim Cook. Esta foi a primeira apresentação com Cook, em outubro de 2011. A morte de Jobs, o criador da Apple, foi anunciada no dia a seguir à apresentação, a 5 de outubro de 2011.

Se o iPhone 5, em 2012, apresentou o primeiro iPhone com um ecrã de quatro polegadas, a aposta mais arriscada da empresa chegaria em 2013, com a revelação do iPhone 5C. O conceito era claro: fazer chegar ao mercado um equipamento para um público diferente, com um preço mais acessível. Foi, até hoje a linha mais colorida da marca, com telefones de cores bem garridas. “Foi uma estreia para a Apple, que tipicamente estava a aumentar o preço dos novos lançamentos à medida que as gerações passavam. No final, não foi tão bem sucedida quanto a Apple esperava, apesar do desempenho forte em alguns países, principalmente no Reino Unido”, recorda o analista Ben Wood. O iPhone 5C, com as características do iPhone 5 mas com alterações exteriores, arrancava nos 550 dólares para a versão de 16 GB (embora fosse possível adquirir o telefone nos EUA por 99 dólares, com um contrato de dois anos com uma operadora). Em Portugal, a versão base do 5C era bem mais dispendiosa, arrancando nos 599 euros.

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O “bendgate” de 2014 e a chegada dos modelos Plus

A Apple repetiu, em 2014, a façanha de apresentar de uma só vez dois modelos de iPhone. Em setembro, eram revelados o iPhone 6 e 6 Plus – com um ecrã de dimensões mais generosas. Ben Wood, do Mobile Phone Museum, nota que esta é uma tendência que tem tido continuidade na estratégia da Apple. Estes smartphones eram mais finos e tinham ecrãs maiores: o 6 tinha um ecrã de 4,7 polegadas, enquanto o 6 Plus chegava às 5,5 polegadas. Além de processadores renovados, havia ainda tecnologia NFC, que trouxe na bagagem o serviço de pagamentos Apple Pay.

Mas o lançamento do iPhone 6 ficou marcado por outra questão, o chamado “bendgate”. Quando os telefones começaram a chegar ao mercado, vários utilizadores perceberam que os telefones dobravam-se facilmente – incluindo quando eram postos nos bolso. Do lado da Apple, chegaram garantias de que esses situações eram “extremamente raras”. No entanto, quatro anos mais tarde, vieram a público documentos que revelaram que a tecnológica teria conhecimento da fragilidade dos novos smartphones.

Além do “bendgate”, estes modelos tiveram ainda outros contratempos, desde erros com as câmaras (as fotografias ficavam desfocadas). Falhas à parte, conseguiram ser a linha mais vendida da Apple, com 222,4 milhões de unidades vendidas. Até hoje, apenas os Nokia 1100 e o 1100, modelos de 2003 e 2005, respetivamente, conseguiram ultrapassar as vendas totais dos iPhone 6 e 6 Plus.

Os anos seguintes foram marcados pela repetição do aspeto visual apresentado no iPhone 6, mas com atualização de componentes e apresentação de funcionalidades. O iPhone 7, em 2016, chegou acompanhado do 7 Plus. Em relação aos antecessores, havia uma diferença: a ausência de entrada jack. Este ponto garantiu críticas à Apple, principalmente por deixar os utilizadores mais dependentes do seu ecossistema ou a necessitar de adaptadores para continuar a usar auriculares com fios. Anos mais tarde, os equipamentos topo de gama abandonaram de forma generalizada as entradas jack.

Em 2017, no ano em que a Apple assinalou o décimo aniversário do primeiro iPhone, foram apresentados três equipamentos: o iPhone 8, 8 Plus e ainda o iPhone X. As principais mudanças estavam reservadas para o iPhone X, que trouxe uma significativa alteração aos equipamentos da Apple: o adeus ao Touch ID. Este foi o primeiro iPhone a incluir FaceID, tecnologia de reconhecimento facial (esta forma de desbloquear telefones tornou-se, aliás, numa prática comum na indústria). Mas, conforme destaca Ben Wood, do Mobile Phone Museum, esta não foi a única mudança. “O design também viu a Apple a afastar-se de uma moldura à volta do equipamento mas também apresentou o iPhone mais caro de sempre, com um preço inicial de 999 dólares.” Em Portugal, a versão base de 64 GB era ainda mais cara, arrancando nos 1.179 euros.

Apesar da confusão trazida ao mercado pela celebração do 10.º aniversário do iPhone com um numeral romano (X) e não com a designação iPhone 10, a tecnológica decidiu manter esta designação nos modelos do ano seguinte, com a apresentação do iPhone XS, XS Max ou XR. Só dois anos mais tarde, em 2019, é que a empresa de Tim Cook regressou à designação “normal”, com o iPhone 11.

Foi também na apresentação desse ano que a empresa adotou a designação Pro para incluir os equipamentos com características mais avançadas e ecrãs de maiores dimensões – uma espécie de substituição dos XS Max. O iPhone 11 Pro Max tinha um ecrã com 6,5 polegadas, por exemplo.

No ano seguinte, estávamos em 2020, eram lançados os iPhone 12, já com conectividade 5G, graças ao processador A14 Bionic. Era ainda apresentado o iPhone 12 mini, uma versão com 5,42 polegadas – uma aposta diferente, especialmente tendo em conta que durante anos a Apple estava a incluir ecrãs cada vez maiores nos telefones.

No ano passado, a geração 13 do iPhone trouxe algumas atualizações aos modelos, também com a introdução de quatro modelos, já que o 13 era acompanhado do 13 mini e dos 13 Pro e 13 Pro Max. Além da atualização de desempenho, as principais diferenças desta nova geração estavam ligadas às melhorias de câmara e às capacidades de processamento de imagem e captação de vídeo.

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O que é que acontece quando já se vendeu um iPhone a meio mundo?

Nevine Pollini, analista sénior de ações do Syz Bank, nota ao Observador que, 15 anos após o lançamento do telemóvel, as vendas do iPhone “são a principal base das receitas da Apple, representando mais de 49%”. De acordo com as contas do terceiro trimestre do ano fiscal, terminado em julho, do total de vendas de cerca de 83 mil milhões de dólares de receitas, 40,7 mil milhões pertenciam ao iPhone. No entanto, a analista vinca que “as vendas do iPhone cresceram uns meros 3% homólogos devido a, entre outros fatores, vendas mais baixas na China devido ao abrandamento do crescimento económico”. No terceiro trimestre, as vendas no gigante asiático recuaram 1,07%, passando de 14,8 mil milhões há um ano para 14,6 mil milhões.

Nevine Polline destaca que, “graças ao iPhone, assim como outros dos seus produtos, a Apple conseguiu posicionar-se como uma marca de tecnologia de luxo”. E, neste ponto, dá como exemplo as lojas da empresa – “algo que outros fabricantes como a Samsung não têm”, que também contribui para o estatuto da marca. Conhecidas pelo visual em vidro, as Apple Store estão instaladas em alguns dos pontos mais emblemáticos do mundo: o conhecido cubo de vidro da Fifth Avenue, na cidade de Nova Iorque, é um exemplo, assim como a loja da Apple nos Champs-Élysées, inaugurada em 2018.

“É definitivamente expectável que os serviços se tornem no principal motor de crescimento das ações.”
Nevine Pollini, analista sénior do Syz Bank.

Mas, na ótica da analista do Syz Bank, o estatuto conquistado nem é o ponto mais importante. “Graças à sua enorme base instalada de iPhone, a empresa conseguiu transformar-se numa empresa de serviços, com os seus Apple Music, Apple TV, Apple News, Apple Fitness ou o Apple Arcade, assim como a venda de serviços de armazenamento na iCloud”. A presença das receitas dos serviços é cada vez mais visível nas contas da Apple. “Os serviços representam 23% das receitas da companhia mas estão a crescer rapidamente, a 12% no terceiro trimestre e poderão acelerar graças ao maior crescimento da base instalada e da subida das subscrições pagas”, partilha Nevine Polline. E a analista do Syz Bank não tem dúvidas num ponto: “É definitivamente expectável que os serviços se tornem no principal motor de crescimento das ações” da Apple.

Ainda assim, o iPhone já teve um maior domínio nas receitas da Apple. Um artigo da revista Economist, de julho deste ano, notava justamente isso, referindo que a estratégia da viragem para os serviços poderia ser mais rentável para a empresa – apesar de todos os desafios. No ano fiscal de 2015, por exemplo, o iPhone gerou receitas de 155,054 mil milhões de dólares, representando mais de 66% das receitas. Ao longo do tempo, esse predomínio nas receitas tem vindo a esbater-se, orientando a empresa para a tal estratégia de serviços.

Apesar de tudo, a linha iPhone continua a ter sérios trunfos na manga – principalmente porque serve de âncora a outros produtos da Apple, numa lógica de ecossistema. O Apple Watch, gama introduzida em 2015, precisa do telefone da Apple para tirar partido de todas as funcionalidades, tal como os AirPods. Apresentados em 2016, a experiência destes auriculares sem fios também é diferente em associação com o iPhone.

O que se sabe sobre os novos iPhone até agora?

Esta quarta-feira, 7 de setembro, a Apple levanta a ponta do véu sobre os produtos que vai fazer chegar às lojas em breve. Apesar de nunca o confirmar, a apresentação desta altura do ano tem no iPhone a estrela da companhia. Afinal, esta gama continua a ser um motor de receitas para a tecnológica, especialmente na concorrida época de compras do final do ano.

Como acontece nos outros anos, os rumores da indústria tecnológica permitem vislumbrar alguns dos principais pontos ainda antes da apresentação. Na newsletter da Bloomberg dedicada à Apple, publicada este domingo, é avançado que a tecnológica poderá revelar quatro modelos: um iPhone 14 (de 6,1 polegadas), um 14 Plus (6,7 polegadas) e dois modelos da linha Pro – 14 Pro (6,1 polegadas) e 14 Pro Max (6,7 polegadas). Pela lista já é possível perceber que há um modelo que fica pelo caminho, o iPhone Mini, o que poderá sinalizar o regresso ao foco nos equipamentos de maiores dimensões.

De acordo com a Bloomberg, os modelos “normais” vão ter melhorias nas câmaras e desempenho, mas as principais mudanças estarão reservadas para os modelos Pro, os mais dispendiosos. É expectável que o equipamento tenha um processador mais rápido, o A16, e ainda uma câmara de 48 megapíxeis.

A maior alteração visual poderá estar mesmo reservada para a parte frontal do equipamento. A Bloomberg avança que a área “notch”, no topo do telefone onde estava alojada a câmara frontal, vai ser substituída por uma câmara “punch-hole”. A tendência dos pequenos “furos” no ecrã para incluir a câmara frontal, algo que permite ter molduras menores e uma maior área útil de ecrã, terá sido utilizada. A diferença da Apple para outras marcas é que a empresa terá escolhido um formato semelhante ao de uma cápsula para incluir a câmara e o sensor de reconhecimento facial.

A Bloomberg aponta que, embora as mudanças sejam mais de continuidade e menos revolucionárias, deverão ser “suficientes” para aliciar os clientes da empresa – principalmente quem tenha equipamentos de gerações mais antigas. Ben Wood, analista da CSS Insight e responsável pelo Mobile Phone Museum também aponta nesta lógica de continuidade no iPhone 14. “Esperamos uma abordagem ainda mais evolutiva no design, com várias pequenas melhorias no que diz respeito a poder de processamento, desempenho da câmara, duração da bateria, entre outros.” Wood refere ainda que é expectável que a “maioria dos consumidores vá comprar um iPhone pela primeira vez em muitos anos”, já que a consultora “estima que a maioria dos telemóveis na Europa seja mantido pelo menos durante quatro anos”. Nos casos desses consumidores, “a compra do novo iPhone já seria um upgrade considerável”.

Já Nevine Polline, analista sénior do Syz Bank, aponta que “provavelmente os novos modelos não vão ter processadores poderosos, à exceção dos modelos Pro, devido aos atuais constrangimentos de semicondutores”.

Thomas Husson, vice-presidente e analista principal da consultora Forrester, nota que as especulações ligadas ao evento tentaram tirar conclusões sobre a indicação “Far Out”. “Aumentaram as expectativas sobre um modo para fotografar o céu durante a noite ou em condições de pouca luminosidade, possíveis ligações por satélite em casa de urgência ou mesmo sobre o lançamento de um dispositivo de realidade aumentada/realidade virtual”, explica. “Acho que um novo produto imersivo e um novo formato não vão acontecer antes de 2023 e a Apple vai simplesmente anunciar uma nova série de novos iPhone topo de gama (…)”, antecipa este analista. “Há poucas dúvidas de que a nova gama de iPhone 14 vai ultrapassar a concorrência graças a processadores mais rápidos, melhoria do design, proporcionando uma maximização de ecrã e outras ferramentas inovadoras a tirar partido do iOS 16”.

“Esperamos uma abordagem ainda mais evolutiva no design, com várias pequenas melhorias no que diz respeito a poder de processamento, desempenho da câmara, duração da bateria, entre outros.”
Ben Wood, CCS Insight e Mobile Phone Museum.

Thomas Husson, da Forrester, refere que a principal dúvida “não está tanto na qualidade do produto em si, mas no preço“. “Tendo em conta a incerteza macroeconómica, a subida da inflação e as tensões nas cadeias de abastecimento, o preço vai ter muito mais importância”, sublinha. Para este analista, tendo em conta “o posicionamento premium da Apple e a elasticidade limitada de preços, devemos esperar uma subida de preço, especialmente para os modelos Pro, que vão beneficiar de um melhor desempenho a nível de processador”.

“O principal ponto a ter em conta”, diz Thomas Husson, “será a forma como a Apple vai evoluir o preço do iPhone 13 e outras gamas mais antigas para manter o crescimento num mercado de smartphones em declínio e para manter o impulso em mercados de rápido crescimento, como a Índia ou a Indonésia”.

Nevine Polline, analista sénior do SyzBank, antecipa que “os preços da gama iPhone 14 poderão ser entre 50 a 100 dólares mais altos do que os modelos iPhone 13”. A confirmar-se essa possibilidade, “preços mais altos e um ambiente económico global mais lento poderão reduzir a procura por parte dos consumidores, mas a empresa está a apostar num novo esquema de subscrição de hardware para alavancar as receitas ou, mais precisamente, para garantir à empresa receitas previsíveis e recorrentes”.

No início deste ano, a Bloomberg avançou que a Apple estaria interessada em testar um modelo em que seria possível adquirir um iPhone por subscrição. “Embora não tenham sido dados pormenores reais”, reconhece a analista do Syz Bank, “é esperado que a Apple lance um modelo de subscrição mensal para hardware, tal como tem para as aplicações.” “Os clientes pagarão uma subscrição mensal”, contextualiza esta analista, referindo que seria como “fazer um ‘leasing’ de um iPhone ou de outro produto qualquer, em vez de comprar”, além de que permitiria ligar os clientes “ainda mais ao ecossistema da Apple”.

Ter um iPhone por subscrição? Apple está preparar novo serviço para smartphones e tablets

Ben Wood, da CCS Insight, reconhece que é “difícil perceber o que a Apple planeia em relação a preços”, mas que há alguns fatores a ter em conta para tentar tirar conclusões. Um deles é o facto de, nos Estados Unidos, a empresa “ter uma relação muito forte com operadores e isto já poderá permitir lançar algumas opções inovadoras de pagamentos, quer de algum tipo de subscrição ou mesmo um modo de aluguer de alguns modelos”. Na ótica de Ben Wood, isto seria “algo que funcionaria bem para os desafios macro-económicos alargados que os consumidores estão a enfrentar”.

Além disso, poderá haver também um “maior foco na área das retomas”, com Wood a reconhecer que “o valor residual de um iPhone é uma das maiores forças da Apple”. “Tenho a certeza de que o preço será apresentado tendo em conta uma base de trocar um iPhone 12 (ou semelhante), em vez de pagar o preço total, o que dará ao cliente um montante mais acessível”.

Há mais produtos a caminho além do iPhone?

Ao longo dos últimos anos a Apple tem conseguido encaixar um número cada vez maior de anúncios de produtos e serviços nesta apresentação de outono. Por isso, é expectável que os quatro modelos de iPhone 14 que constam dos rumores sejam acompanhados por outros gadgets da marca da maçã.

É esse o cenário que a notícia avançada pela Bloomberg pinta. A Apple poderá revelar novidades na gama Apple Watch, incluindo um modelo Pro. Este não será o modelo mais apetecível para todos os utilizadores do relógio da Apple, é certo, já que deverá ter um mostrador maior e um revestimento de titânio, a apelar a desportos de maior intensidade. Aqui a lógica da Apple poderá passar por tentar morder os calcanhares à Garmin, que lidera no segmento dos modelos mais caros, acima de 500 dólares.

Ao introduzir um segmento Pro, eventualmente numa faixa já a rondar os 900 dólares, o esforço da tecnológica estará concentrado neste modelo. A Bloomberg refere que a linha de relógios inteligentes poderá ainda aumentar com o Watch SE – algo semelhante ao modelo de 2020 – mas que estes equipamentos terão melhorias ligeiras.

Estarão ainda “na calha” a nova geração de auriculares AirPods, que deverão atualizar os AirPods Pro, um modelo apresentado em 2019.

O evento “Far Out” da Apple vai ser transmitido online, a partir das 18 horas (hora de Lisboa) desta quarta-feira, 7 de setembro. As indicações sobre disponibilidade dos equipamentos serão dadas durante a apresentação – habitualmente, as pré-vendas arrancam na mesma semana e a chegada às lojas é feita na semana seguinte.

Os preços dos equipamentos para Portugal serão divulgados alguns minutos após o fim da apresentação, através da atualização da loja da Apple em Portugal.

Da Samsung à Huawei, a aposta nos telefones dobráveis ganha força. O que leva a Apple a não ir a jogo?

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