790kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

A secretária de Estado Adjunta e da Saúde, Jamila Madeira, à chegada para a conferência de imprensa para atualização de informação relativa à infeção pelo novo coronavírus (covid-19), no Ministério da Saúde, em Lisboa, 15 de julho de 2020. De acordo com o boletim epidemiológico diário da DGS, o total de mortos desde o início da pandemia é agora de 1.676 e o total de casos confirmados é de 47.426. TIAGO PETINGA/POOL/LUSA
i

TIAGO PETINGA/POOL/LUSA

TIAGO PETINGA/POOL/LUSA

Jamila Madeira: "Posso ter uma avaliação sobre Marta Temido mas não verbalizo"

Na véspera do congresso do PS, a cabeça de lista pelo Algarve acredita que Costa fica até agenda para a década estar cumprida. Sobre a saída do Governo, mantém surpresa: Temido não deu justificações.

A horas do arranque do congresso do PS, em Portimão, a cabeça de lista pelo Algarve esteve no programa Vichyssoise, da rádio Observador, e mostrou-se convencida de que António Costa está para ficar: tem “energia e determinação” para se manter para lá de 2023.

Jamila Madeira também falou da sua experiência como secretária de Estado da Saúde, que diz ter sido “muito intensa”, mas ainda hoje não sabe as razões para a sua saída abrupta, menos de um ano depois de ter assumido funções — e em plena pandemia. Nesta entrevista, recusou revelar se acredita que Marta Temido está desgastada — ainda que admita que tem uma avaliação, que não quer tornar pública.

A ex-governante mantém hoje a convicção de que não só cumpriu as tarefas que lhe foram pedidas como até foi além das exigências. E estaria disponível para um novo desafio no Governo.

Saiu do Governo por opção da ministra da Saúde. Na altura, disse que não tinha pedido para sair e confessou ter ficado “muito surpreendida”. Já teve alguma explicação?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

As mesmas alegações que fiz na altura são as que tenho hoje. Não tive oportunidade de as clarificar. Os dados que tinha em setembro de 2020, e que se confirmaram em dezembro, revelam que o ano financeiro de 2020 para o SNS foi o melhor de sempre, quer em termos de recuperação de dívida vencida, quer em termos de dívida acumulada, quer em termos de prazo médio de pagamento, quer em termos de dívida final, que ficou nos 151 milhões de euros no quadro das dívidas dentro dos 90 dias. Ou seja, o que me tinha sido proposto como tarefa era assumir que queremos assegurar a sustentabilidade do SNS, e eu sempre disse que a sustentabilidade dos serviços associados ao Estado social devem ser assegurados em momento de prosperidade económica; não foi exatamente assim, porque tivemos prosperidade económica até fevereiro de 2020 e depois uma forte retração, mas ainda assim foi possível consolidar, investir e assegurar sustentabilidade, portanto melhorar todos os indicadores para a sustentabilidade e continuar a dar resposta.

Então o que aconteceu? O que não correu bem para acabar como acabou?
Em termos daquilo que foram as tarefas que me deram, inclusive a assunção do primeiro plano de investimentos de dois anos e depois de lançamento de um plano plurianual, que ficou lançado e que suponho que brevemente será discutido, para cinco anos de investimento no SNS. Todos esses objetivos foram consolidados, e ainda mais no meio de uma pandemia onde tivemos que, em termos financeiros e de logística, assumir um conjunto de vicissitudes.

"O contexto e a abordagem da minha saída foram claramente uma surpresa"

Foi uma “opção da ministra da Saúde”, foi o que disse.
Os convites são sempre feitos pelos ministros e é natural que as saídas também. De qualquer forma, o contexto e a abordagem foram claramente uma surpresa.

Havia um problema de trabalho com a ministra da Saúde?
Que eu conhecesse, não.

Portanto, a relação profissional decorria de forma normal? Sentiu-se desconsiderada em algum momento?
Que eu saiba, não tenho nenhum registo de nada que pudesse suscitar isso, mas como costumo dizer, se alguma questão tivesse sido levantada, poderia ter sido dirimida. Ou não…

Acha que houve mais um problema de afinidades, ou pessoal, do que de competência?
Isso não me cabe a mim dizer.

Cumpriu a tarefa, como disse, e os seus objetivos estavam a ser alcançados, portanto podemos depreender que foi mais pessoal do que de competência.
Acho que é público, o relatório do Conselho de Finanças Públicas é muito claro relativamente ao que foi conquistado durante o ano de 2020. É com orgulho que vejo que o que eu disse em setembro foi consolidado até ao fim do ano e permite-nos dizer que, apesar da pandemia, foi um ano muito importante para a resiliência do SNS.

"Não creio que tenha ficado além das responsabilidades. Portanto, continuo a estar disponível [para entrar num Governo]

Considera normal esta alteração, neste ministério, em plena pandemia?
Eu disse na altura o que tinha a dizer sobre a perplexidade do momento. E portanto a normalidade cada um depois avalia.

Gostava de voltar a assumir funções de governante ou a experiência não lhe deixou saudades?
Todas as experiências são interessantes e devemos explorar as suas vertentes. Foi uma experiência muito intensa, que nos permitiu viver em cerca de um ano quase como se fossem quatro.

O primeiro-ministro tinha dito que não se mudavam generais a meio da batalha. Era uma governante na área da Saúde no meio de uma pandemia. À partida, não seria avisada a substituição…
Não são decisões que me cabem a mim. A única coisa que posso dizer é que estive com orgulho e com todo o empenho e com todos os instrumentos ao meu dispor ao serviço do meu país.

Se fosse convidada outra vez…
Não creio que em nenhum momento tenha ficado aquém dessas responsabilidades, pelo contrário. Portanto, continuo a estar disponível para aqueles que são os desafios em que o meu país e o meu partido acharem que posso ser útil.

E neste momento, quando olha para o Governo do qual fez parte, nota-o desgastado? Qual pode ser o timing para uma remodelação?
Todas as equipas têm momentos de maior fadiga e de maior energia. O momento, como costumo dizer, da silly season é sempre mais letárgico e menos rico em informação e novidades políticas. Mas depois chegam as autárquicas, o Orçamento do Estado, e todo esse bruaá e riqueza associados a um Executivo também nascem. Nunca vejo um governante como esgotado até ele me voltar a demonstrar que tem essa energia. Basta olhar para a mais recente entrevista do primeiro-ministro para perceber que o primeiro-ministro tem essa energia. E está a preparar o OE tendo em vista essa nova energia. Sobretudo se olharmos para aquilo de que o país precisa hoje: aplicar o Plano de Recuperação e Resiliência e aplicá-lo bem para recuperar a economia; continuar a convergir no âmbito do Estado Social naquilo que conseguimos durante seis anos. Dois indicadores: nunca este crescimento do salário mínimo nacional aconteceu; o salário médio nacional são hoje 1314 euros e estava abaixo dos mil quando chegámos ao Governo. Isto é só valor financeiro, mas significou ainda assim aumento do rendimento disponível das famílias, com os manuais escolares gratuitos e uma redução substancial das propinas e aumento do abono das famílias.

"A Agenda para a Década ainda está muito longe de atingir os seus objetivos plenos e acredito que o secretário-geral está com energia e determinação para o cumprir"

Há necessidade de renovar essa energia na Saúde, com Marta Temido que é uma ministra que conhece bem?
Essa é uma avaliação que posso ter mas não vou verbalizar. De qualquer forma julgo que todos os indicadores do SNS são de que cumpriu o objetivo que, ao aprovar a lei de bases, nós tivemos: dar-lhe sustentabilidade e resiliência.

Na altura da negociação da lei de bases da Saúde foi aprovada à esquerda e já houve entretanto novas PPP negociadas. A esquerda não foi enganada neste processo?
Não e isso ficou muito claro durante a negociação. Todas as PPP que já existiam poderiam ser renovadas e relançadas e foi simplesmente isso que aconteceu. Não foi lançada nenhuma. As de gestão que existiam poderiam continuar, por isso não houve um defraudar de expectativas. Admito que a esquerda preferisse outra opção, mas isso ficou absolutamente claro durante a negociação.

Este congresso, ao contrário do último, não foi precedido de nenhum congresso ideológico. Faz falta debate interno no PS?
Este congresso teve, em junho e julho, várias sessões espalhadas pelo país com membros do secretariado nacional a promover esse debate. É evidente que a pandemia bloqueou um bocadinho esse contacto e interação muito viva.

Acontece com todos os partidos que estão no Governo, mas no caso do PS não está anestesiado? As figuras de há três anos são as mesmas de agora, Costa é um líder incontestado, não há corrente alternativa tirando Daniel Adrião que tem pouca expressão. Não faz falta esse confronto de ideias?
Há uma linha importante que é a da Carta de Princípios do PS que foi muito trabalhada e levou à Agenda para a Década que ainda não passou. Ainda está em construção, passaram apenas seis anos, e portanto não creio que possamos dizer que ultrapassámos os objetivos. A construção dessa sociedade ainda está muito longe.

E António Costa também ainda tem muito para construir na liderança do partido, até quando acha que ele vai ficar a liderar o PS? Fica para lá de 2023? Ou depende de convites europeus?Sobre esses convites gostava de clarificar que não havendo convites isso nem sequer se coloca. Tudo o resto são especulações que não servem o país nem o PS. Tudo o mais, como disse aqui, a Agenda para a Década ainda está muito longe de atingir os seus objetivos plenos e acredito que o secretário geral está com energia e determinação para o cumprir, mas como ele próprio disse é uma avaliação muito longínqua e difícil de fazer.

É desejável que avance para mais um mandato, numa partido que está anestesiado?
Não concordo que esteja anestesiado e basta estar no grupo parlamentar do PS para perceber a riqueza e a diversidade de posições que existem. Divergir e não conseguir fazer o país avançar não interessa a ninguém.

Faz sentido, então, que António Costa cumpra a década e faça esse terceiro mandato, é isso?Salvo se não estiver com energia para isso, acho que faz sentido.

Há um dia em que se vai colocar a questão da sucessão, há quatro nomes de que se têm falado. Desses há algum que prefira ou de que se sinta mais próximo?
Essas opções não se colocam a esta distância. Conheço todos razoavelmente bem.

"Devemos trabalhar para ter o acordo do Bloco de Esquerda no Orçamento"

E tem uma afinidade ideológica maior com algum deles?
São todos do PS [risos].

Há outros nomes que podiam ser tidos em conta além dos quatro de que se fala?
Julgo que sim. Há uma coisa que é muito interessante que é perceber que o congresso em vários momentos conseguiu trazer novos rostos e novas realidades e visões. E isso também acontecerá e é essa dinâmica — não letárgica — que se sente na nossa estrutura que faz com que isso aconteça. Portanto, essas pessoas vão posicionar-se quando tiver de ser. Esses quatro, outros… julgo que a riqueza do PS gera isso mesmo.

Antevê alguma dificuldade para o PS e qual deve ser a meta para dizer que o partido teve uma boa noite eleitoral?
Em 2013 tivemos um super resultado eleitoral e em 2017 ainda mais.

E é possível superar agora?
E, portanto, nós estamos sempre a querer mais e, naturalmente, nós temos no nosso código genético querer mais. O PS é um partido autárquico, um partido que mudou o rosto do país pela mão dos autarcas do PS. E, portanto, é com orgulho que continuamos a ver crescer as pessoas que confiam nesse trabalho autárquico. Era por isso importante que se conseguisse prosseguir esse caminho. Naturalmente, é difícil porque já temos um número esmagador de municípios. Mas uma coisa é certa: se houve momento em que foi possível perceber a diferença entre o papel de um autarca socialista e de outros autarcas que tivemos no país foi a pandemia. Os autarcas tiveram um papel muito estruturante na resposta e no apoio entre o poder central e o apoio às populações e em muitos municípios notou-se claramente a diferença desse apoio. Julgo que isso também será avaliado por quem não teve essa resposta nestas eleições autárquicas.

Acha que o resultado que sair das autárquicas pode ter alguma influência no dia seguinte nas negociações que estão a existir ao mesmo tempo para o Orçamento do Estado. Pode criar um problema, por exemplo, com o PCP que saiu muito lesado nas últimas autárquicas?
Julgo que as negociações no espaço parlamentar e as eleições autárquicas são caminhos diferentes, salvo se tivéssemos a concorrer coligados e, aí, seria outra análise. E, portanto, a responsabilidade na construção de um Orçamento do Estado que dê resposta aos cidadãos e continue a construir este Estado Social forte e que os portugueses sintam que os apoiam cada vez mais em caso de necessidade é aquilo que deve fazer com que os partidos, o PCP, o PAN, o BE e o PEV, sintam a responsabilidade de: se não for com o PS, com quem é que dialogam? E que tipo de contributos estão a dar para este reforço do Estado Social. E, portanto, neste sentido julgo que o momento das eleições autárquicas é para os partidos se disputarem sozinhos — é assim salvo um outro caso em que há coligações — mas naturalmente a responsabilidade é manter o país na rota de crescimento e convergência que nos trouxe até aqui, apesar da pandemia. Portanto, julgo que essa responsabilidade está bem presente nas mentes dos líderes dos demais partidos.

E é possível contar com o Bloco de Esquerda também no orçamento? Acredita nisso?
Julgo que temos de fazer esse diálogo, com a maior honestidade de perceber — como fizemos aliás na lei de bases da saúde, que em muitos momentos achámos que teríamos perdido o BE nessa negociação — o que de verdadeiramente é bom para os cidadãos portugueses. Por muito que algum taticismo apareça nalgum discurso mais extremado. Julgo que temos de avaliar na discussão do Orçamento do Estado aquilo que queremos verdadeiramente construir para o nosso país e dar aos cidadãos. E isso, naturalmente, também terá de ser colocado ao Bloco de Esquerda: se é um retrocesso ou a continuação dos avanços que alcançámos.

Há motivos para a esquerda estar apreensiva em relação ao Orçamento?
Não há nenhum motivo. Eu não estou na construção do Orçamento do Estado e por isso não tenho alguns detalhes, mas julgo, daquilo que conheço do ministro das Finanças e do primeiro-ministro que haja qualquer qualquer indicador que implique uma deriva daquilo que tem sido a construção relativamente ao Estado social e ao reforço do Estado social que temos feito até agora. E isso é a maior bitola que a esquerda pode e deve ter para entrar aos portugueses.

Resposta de sim ou não. É provável ou não que o BE esteja neste acordo de orçamento?
Só eles é que podem responder. Nós devemos trabalhar para isso.

Vamos passar à fase de carne ou peixe. Em caso de necessidade absoluta, preferia ter de cumprir isolamento profilático preventivo na companhia de Marta Temido ou de Graça Freitas?
Risos. Graça Freitas.

Preferia beber um drink de final de dia após o congresso com Ana Catarina Mendes ou Mariana Vieira da Silva?
Ambas são boas companhias.

Então e se fosse para partilhar um Dom Rodrigo? Pedro Nuno Santos ou Fernando Medina?
Os dom Rodrigos não se partilha com ninguém. Mas, solidariamente, para ninguém engordar, podíamos partilhar todos. 

A quem é compraria um carro em segunda mão: António José Seguro ou António Costa?
Nunca comprei um carro em segunda mão, a não ser à minha avó. Como não percebo nada de carros a não ser de os conduzir, ficava sempre desconfiada. Mas eu confio em ambos e acho que um foi e o outro é um grande secretário-geral do PS. Nenhum deles me induziria em erro.

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora