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Jorge Sampaio. As muitas histórias de uma vida

Maria João Avillez foi uma das jornalistas que mais de perto acompanhou Jorge Sampaio. E conta as conversas no Flórida, os jantares privados em que gostava de conversar e os pormenores das viagens.

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Jorge Sampaio morreu esta sexta-feira, 1o de setembro, aos 81 anos. Líder da contestação estudantil dos anos 60, ex-líder do PS, ex-presidente da câmara de Lisboa e Presidente da República por dois mandatos, são muitas as histórias da vida de um político que faz parte da História de Portugal. Maria João Avillez foi uma das jornalistas que mais acompanhou Sampaio. Neste artigo, escrito originalmente no 80.º aniversário de Jorge Sampaio, recorda alguns dos episódios pessoais e políticos (e não foram poucas as polémicas e as intrigas) que viveu com ele e que são significativos para traçar o seu perfil. Desde as conversas no Flórida aos jantares privados em que gostava de conversar e aos muitos pormenores das viagens em que o acompanhou.

A entrevista no rés-do-chão e a gata Kitty sobre a toalha de crochê

Era Setembro e ainda era verão nesta fotografia. Dias depois ocorreriam as eleições legislativas de Outubro de 1991, era preciso ouvir os candidatos. Foi o que fiz, reivindicando para mim conversar com Jorge Sampaio, líder do PS, depois de já o ter feito com Cavaco Silva, então primeiro-ministro, que se recandidatava pelo PSD.

Uma das muitas entrevistas que deu a Maria João Avillez

“Não está cá mais ninguém”, disse-me Sampaio, meio atrapalhado, ao abrir-me a porta nessa manhã. Não estranhei, estava habituada. Em Portugal não se cultiva a pompa nem se valoriza o protocolo. Os Presidentes da República atendem os telefones de casa, os primeiros-ministros vão à porta, e Mário Soares um dia deu-me uma entrevista de roupão e chinelos.  Não costumam usufruir por aí alem das mordomias dos cargos: nem elas os interessando excessivamente, nem eles lidando com gosto com tal logística.

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Falo do que ia podendo observar e que, sem surpresa, testemunhei de novo nesse dia, em casa do candidato Jorge Sampaio.

Era um pequeno rés-do-chão de onde se avistava uma nespereira num pátio um pouco abaixo e onde havia uma gata loura chamada Kitty, que era “da família” e se passeava diante do meu gravador sobre a toalha de crochê da mesa da sala. Havia também um cartaz eleitoral que o país ainda não conhecia (“Isto por enquanto é segredo!”) em que ele surgia em mangas de camisa com uma “descontração” algo encenada. E havia um Sampaio que se apressava: tinha de ir “tirar dois cafés” para nós conforme “rigorosas instruções” deixadas por Maria José, sua mulher, antes de sair.

Era um pequeno rés-do-chão de onde se avistava uma nespereira num pátio um pouco abaixo e onde havia uma gata loura chamada Kitty que era “da família”, e se passeava diante do meu gravador sobre a tolha de crochet da mesa da sala. E havia um Sampaio que se apressava:  tinha de ir “tirar dois cafés” para nós conforme “rigorosas instruções” deixadas por Maria José, sua mulher, antes de sair.

Sentado à minha frente com a disciplina que sempre punha quando se tratava de coisas sérias — e para ele uma entrevista nas vésperas das legislativas era um exercício sério –, o candidato lembrou projectos, evocou causas, anunciou disponibilidades, estabeleceu diferenças. Fiel a si próprio, foi fiel a alguns temas que o preocupavam mesmo que remotos, difusos, improváveis. E fiel às raízes: “Há raízes através dos tempos, os marxistas, com certeza, Gramsci, mas também Mendés France, como forma de síntese republicana e social, Marcuse, a Revista ‘Esprit’ dos primeiros tempos…”.

Temas, ideias, teses, argumentos conhecidos de outros encontros e que por vezes lhe acontecia desembrulhar mal, mas aquela era também a forma de rever a (sua) matéria. E se havia matéria: Sampaio podia gabar-se disso, escreveu linha a linha, sozinho e a pulso, a sua biografia.

A solidão e o pequeno grupo de amigos do peito

Nada lhe foi oferecido, ninguém o protegeu. A sua família não era poderosa, nunca teve dinheiro, não pertencia a igrejas, não era da maçonaria. A vida não o mimou especialmente. Agiu por ele, amparado num pequeno grupo de amigos do peito, sempre os mesmos, há meio século.

Como os bons vinhos, soube amadurecer. O tempo e as coisas deixaram nele boa marca mas — erro meu? — houve momentos onde eu talvez não tivesse apostado na sua capacidade de conquista e de imposição. Sim, os sinais estavam lá, mas também estavam as hesitações, as crispações, as indefinições. E pequenas ansiedades e súbitas inseguranças.

Afinal, o outro lado levaria a melhor: a veemência e a convicção para galvanizar uma grande parte da juventude do país na tensa e densa década de sessenta. A obstinada persistência para a partir daí talhar-se um espaço e cativar um lugar à esquerda com a certeza irrefutável que seria lá que iria ancorar. (Mesmo que o lugar fosse de início de contornos ideológicos brumosos e por isso confundisse outros lugares políticos.)

Havia ainda — last but not least —  a farta dose de seriedade, a vontade política, o desejo, prioritário, de cumprir: Sampaio era um cumpridor.

Mas o que sobretudo houve – e eis o que confere dimensão ao personagem – foi a grande parte da solidão em tudo isto. E a forma de resistência que ela reclama.

Quando sucedeu a Vitor Constâncio no PS, em 89

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Sim, é verdade, através da minha memória recheada de imagens suas, vi Sampaio quase sempre apenas com os seus amigos e igual a si próprio: entrevistas — algumas excessivamente palavrosas ou recheadas de áridas elaborações teóricas, mas eram os tempos revolucionários e ele acreditou — e quis — a revolução: alimentando algumas utopias terceiro-mundistas e acreditando em enviesadas formas de socialismo.

As proibições que o PS lhe impunha e o papel de que não gostaria

Tinha em cima da mesa uma caixa de chiclets verde, um maço de tabaco azul e um caderno de apontamentos, também azul. Estávamos em Fevereiro de 1989, Jorge Sampaio era líder do PS  e nesse dia eu fora visitá-lo à Rua da Emenda, então a sede nacional do partido. Ao lado havia uma secretária ajoujada em papéis (sempre o vi com papéis) e, ao fundo, uma televisão apagada apesar de ser hora de notícias. Não sei se as quereria ouvir: o PS e ele haviam descido nas sondagens.

O que sei é que a chefia do PS impunha uma agenda feroz que lhe vetava “ler os jornais no café”, frequentar “o Estádio José Alvalade”, ir a “um concerto de rock” ou, simplesmente, “passear na  rua”. Não tinha tempo, mas tinha saudades: “Gostava de não perder agora o que sempre fiz com naturalidade e gosto”.

A chefia do PS impunha uma agenda feroz que lhe vetava “ler os jornais no café”, frequentar “o Estádio José Alvalade”, ir “um concerto de rock” ou, simplesmente, “passear na  rua”. Não tinha tempo, mas tinha saudades : “Gostava de não perder agora o que sempre fiz com naturalidade e gosto”.

Nesses anos recordo-me de testemunhar alguém com mais vocação para a intervenção — ou condução — parlamentar, onde se exaltava mais com facilidade e romantismo do que como o (contrafeito?) “condutor” político. Ou o timoneiro preocupado com o quotidiano do país, o seu rumo, a resolução dos seus adiados problemas. A verdade é que nunca chegou a ser totalmente convincente na liderança da sua família política, pelo menos tão convincente para passar a meta em primeiro lugar, à frente dos outros corredores. Nunca, enfim, me pareceu um homem realizado na sua valsa com o PS.

O humor, a paixão por Le Carré e Eastwood e as conversas com a mãe em inglês

Lembro-me do seu humor subtil, das boas maneiras, da sobriedade. Dessa, enfim, indefinível mistura de que é feito e que sempre levou o mundo a dizer que ele era “civilizado” apesar de uma crispação à flor da pele (“perante a pressão e o calendário dos acontecimentos reconheço que reajo mal”).

Recordo-me de comportamentos democráticos — que as novas gerações políticas não conhecem e seriam mesmo talvez incapazes de praticar — como aquele que presenciei nas legislativas de 1987, era ele cabeça de lista por Santarém: fui encontrá-lo numa rua de Tomar esvaído em suor e desfeito pelo calor mas heroicamente ocupado, com paciência e humildade, a oferecer propaganda eleitoral num modestíssimo porta-a-porta. Nesse mesmíssimo Verão em que Portugal conheceu, por diversas vezes, 40 graus de temperatura e o PSD obteria nas eleições a sua primeira maioria absoluta.

Retenho também um entusiasmante pequeno-almoço num hotel, em tête-a-tête, era Sampaio presidente da câmara da capital: falava-me de Lisboa com paixão e ideias, tinha projectos, gostava do que fazia, acreditava em si. Discorrendo sobre a crucial  importância dos “bairros” na vida das cidades ou desabafando a sua pena de que, “tal como em Londres”, as pessoas não usassem muito mais o metropolitano, por exemplo para ir à ópera ao S. Carlos, “mesmo se em noite de gala e vestidas de smoking”.

Lembro a sua afabilidade algo retraída quando nos sentávamos diante do meu gravador (“então como é que vamos trabalhar isto, doutora?”); relembro como ele gosta de John Le Carré ou de Clint Eastwood ou de como o grande melómano que ele é, sonhou ser maestro; revejo a sua espantosa mãe, Fernanda Bensaúde Branco, que conheci um sábado de sol no final dos anos oitenta, na casa familiar de Sintra, um delicioso chalé do principio do século XX.

Lembro a sua afabilidade algo retraída quando nos sentávamos diante do meu gravador (“então como é que vamos trabalhar isto, doutora?”); relembro como ele gostava de John Le Carré ou de Clint Eastwood ou de como o grande melómano que ele era sonhou ser maestro; revejo a sua espantosa mãe, Fernanda Bensaúde Branco, que conheci num sábado de sol no final dos anos oitenta, na casa familiar de Sintra, um delicioso chalé do principio do século XX. De pequena estatura e têmpera forte, a mãe era ao primeiro relance uma personagem de Agatha Christie, uma Miss Marple arguta e jovial a quem nada escapava (mais tarde haveria de perceber que ela era bem mais do que isso). Mal nos abriu a porta nessa manhã começou de imediato um vivo diálogo com o filho num inglês brilhantíssimo, como se eu ali não estivesse. Professora de inglês, habituara-se a falar assim com os filhos desde crianças, o que pelo menos explica que Sampaio, sempre prolixo na sua língua materna, muito agradasse quando recorria ao extraordinário inglês que falava.

Numa maratona em Lisboa, quando era presidente da Câmara

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As conversas no Flórida antes do 25 de Abril e o fosso para Soares

Conhecia-o desde os tempos em que nos alvores da revolução de Abril de 74 ele almoçava todos os dias no Flórida, então ali ao Marquês de Pombal, e eu também, integrada na equipa do Expresso, onde trabalhava. Era a nossa “cantina” mas era também o fidelíssimo ponto de encontro diário do grupo de amigos de Jorge Sampaio, com os quais atravessou a vida e fez a sua. Por vezes havia diálogo de mesa para mesa, pediam-se reciprocamente “informações”, cruzavam-se algumas “graçolas”. E a partir daí nunca mais deixei de o ver, de conversar, de por vezes o entrevistar no papel ou no ecrã, de o encontrar, enfim, profissionalmente ou privadamente, dentro ou fora de portas.

O tempo ia andando mas durante aqueles primeiros anos — e ainda hoje me lembro disso — Jorge Sampaio parecia-me quase sempre, digamos, embaciado na definição do seu modelo de sociedade, na delimitação das fronteiras entre as esquerdas ou nem sempre sintonizado com a marcha do mundo. Guardando por vezes entusiasmos quase pueris face a alguns dos seus próprios gestos, insistindo numa retórica demasiado palavrosa, usando clichés gastos (“é possível alterar o quotidiano”) ou datados (“mudar o futuro”).

O retrato que então eu tentava tirar começara justamente a ser desenhado nesse Flórida, em 1974/75, quando Sampaio e o seu grupo se entusiasmavam com a revolução, abençoavam a esquerda militar, votavam em Otelo e estavam como peixes nas águas tormentosas daqueles dias. Ao mesmo tempo que Mário Soares separava as águas, conspirando com militares anti-comunistas e arrastando multidões atrás dele. Um fosso, entre os primeiros e o segundo.

O retrato que então eu tentava tirar começara justamente a ser desenhado nesse Florida, em 1974/75, quando Sampaio e o seu grupo se entusiasmavam com a revolução, abençoavam a esquerda militar, votavam em Otelo e estavam como peixes na água nas águas tormentosas daqueles dias. Ao mesmo tempo que Mário Soares separava as águas, conspirando com militares anti-comunistas e arrastando multidões atrás dele. Um fosso, entre os primeiros e o segundo.

Meses depois, como secretário de Estado da Cooperação Externa de Melo Antunes (amigo admirado e “teórico” seguido), Sampaio — com a disciplina e a ênfase habituais – acolitava o ministro na defesa de uma política externa que, rompendo com a tradição da diplomacia portuguesa, alimentava veleidades terceiro-mundistas, buscando “uma via” entre o Ocidente e as suas Natos, e as teses comunistas do bloco de leste, capitaneada por Moscovo. Um fosso, sim.

Numa entrevista que lhe fiz em Fevereiro de 1980 — estava a AD de Sá Carneiro no poder – Jorge Sampaio insistia ainda num “projecto de sociedade novo”, apelando à “grande capacidade de invenção” que tal novo figurino exigiria e classificando-o como “a única alternativa possível” entre o “capitalismo” e as “sociedades do leste europeu” que ainda vigoravam. Tudo isto podia ser  preocupante, descabido, o que se queira, mas havia, houve sempre, a sua vital seriedade: Sampaio, acreditava no que dizia mesmo que o seu discurso fosse redondamente enrolado em objectivos e práticas pouco definidas.

Um abraço a Soares já em tempos recentes: politicamente nunca foram grandes amigos

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Em Maio de 1984, embora prioritariamente entregue às lides da advocacia (“não se pode andar a entrar e a sair da profissão”) Sampaio esgrimia, com a veemência habitual, a “actualidade da sua mensagem socialista nesse ano de 1984”, expondo, sem porém nunca as fundamentar substancialmente, uma soma de “boas intenções” que dificilmente passariam à prática política. Era sempre preciso “repensar tudo”.

Em 1991, como líder do PS na campanha eleitoral para as legislativas desse ano, Jorge Sampaio, não defendendo exactamente o mesmo, andou perto. Perdeu, ingloriamente. Mas nem sempre seria assim. Pelo contrário.

Os cavaleiros da Távola Redonda que o ajudaram a ser Presidente: da câmara e do País

Os seus amigos foram as suas tropas. Foi com eles que se meteu à política como outros se metem ao mar, quando com pouco mais de vinte anos foi o rosto e a bandeira lisboeta da crise académica de 1962 que incendiou a juventude e enervou o regime. O que talvez não se soubesse nesses dias é que também seria com eles que Jorge Sampaio faria tudo o resto e chegaria onde chegou. Uma forma de fidelidade que traduzia uma forma de ser mas que era, ao mesmo tempo, um caso único na política portuguesa de então: vencer sem tropas, ganhando o direito de habitar por duas vezes um palácio cor-de-rosa frente ao rio. É certo que Sampaio chegou ao topo escolhido pelo povo e legitimado pelo voto mas, repito, sem exércitos. Nunca os teve. Teve os “sampaistas” e voltemos aos amigos: um núcleo duro, uma rectaguarda de aço, um senado, um naipe de conselheiros, os amigos do peito. Foram tudo isso e estiveram na génese de todas as aventuras políticas de Sampaio e algumas foram grandes aventuras.

Foi dessa “mesa” onde, quais cavaleiros da Távola Redonda, eles se sentavam para sonharem em conjunto essas aventuras, que Jorge Sampaio sempre partiu: para ser um líder juvenil tão ardoroso quanto definitivo, um tribuno convicto, um parlamentar veemente, um empolgado chefe da bancada socialista, um governante discreto, um infeliz líder do PS, um entusiasmado autarca, presidindo aos destinos da sua cidade. Lembremo-lo, sim. Há gestos que indiscutivelmente definem um homem e classificam um político: quando no PS todos empurravam todos para a autarquia de Lisboa mas nenhum se decidia, Sampaio, deixando o partido de boca aberta e os oligarcas atrás de si, avançou solitariamente para a conquista da capital. Tinha 52 anos e ganhou. Sozinho. E mais: foi bom autarca.

Quando no PS todos empurravam todos para a autarquia de Lisboa mas nenhum se decidia, Sampaio, deixando o partido de boca aberta e os oligarcas atrás de si, avançou solitariamente para a conquista da capital. Tinha 52 anos e ganhou. Sozinho. E mais: foi bom autarca.

Houve momentos – erro meu? — onde talvez não tivesse apostado na sua capacidade de conquista e de imposição. Sim, os sinais estavam lá. Mas também lá estavam hesitações, ambiguidades, crispações, estranhas cumplicidades. Venceu o resto: a seriedade, a vontade política, a obrigação de cumprir, o empenho sempre activo.

Ouvi-o, ao longo dos anos, recordar este ou aquele passo, alguma luta, a sombra da desilusão, vitórias, derrotas. Fizeram-lhe bem, aprendeu com elas. Mas, numas e noutras, repito, ele sempre pesou mais que as tropas.

“Era líder parlamentar no PS aquando da crise Vítor Constâncio, decidi avançar e avancei. Quanto à câmara municipal, foi o mesmo… Sim, há um conjunto de passos e atitudes que determinaram os seguintes: era a altura de cortar a direito. Foi o que fiz. Avancei. Corri riscos, claro, mas foram muito interessantes…”

A finta a Guterres e a Soares na candidatura a Belém

Décadas após a crise académica  de 1962, Jorge Sampaio repetiu o gesto e o risco. Mas desta feita o gesto era mais improvável e o risco, de muito maior amplitude sísmica: uma candidatura a Belém anunciada com um ano de antecedência sobre a data do acto eleitoral? Quem se atreveria a tanto? Ao seu lado, na linha de partida para a caminhada, só os da Távola Redonda.

Após se ter sentado uma vez mais à mesa com eles, discutindo à exaustão prós e contras, vantagens e desvantagens, um belo dia o país estupefacto ouviria, na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, o anúncio solitário de uma candidatura à Presidência da República. Mas, um ano depois, Sampaio ganharia com tensão a Cavaco Silva e a seguir, com facilidade, a Joaquim Ferreira do Amaral.

"+Quando no PS se começou a pensar na questão presidencial e nas escolhas do sucessor de Mário Soares, o influente António Guterres não queria Sampaio e o poderoso Mário Soares também não: este teria preferido que após o “soarismo”, o Palácio albergasse outro hóspede que não Jorge Sampaio e mexeu-se para isso. Soares e Sampaio nunca se apreciaram por aí além.

Foi outra boa história: quando no PS se começou a pensar na questão presidencial e nas escolhas do sucessor de Mário Soares, o influente António Guterres não queria Sampaio e o poderoso Mário Soares também não: este teria preferido que, após o “soarismo”, o Palácio albergasse outro hóspede que não Jorge Sampaio e mexeu-se para isso. Soares e Sampaio nunca se apreciaram por aí além. Mário Soares vira como uma “rendição” a entrada de Sampaio e dos seus amigos para a família socialista, em 1978, não se coibindo de usar de uma ironia sulfúrica para com eles. Chegando de resto a preferir — ou mesmo a optar — desvalorizar o “arranjão” político que os sampaistas lhe faziam ao cobrir-lhe a esquerda do PS, na altura em que o seu partido, sem felicidade nem préstimo, se coligava com o CDS num mau governo. Guterres também se mexeu, também desconfiava de Sampaio, mas Guterres andava entretido com a sua própria entrada em cena na liderança do PS e Sampaio apanhou-o distraído: contra as marés socialistas, como quase sempre sucedera até aí, saiu à frente e distanciou-se da “melée”. Ganhou.

Uma das muitas saídas para um almoço onde conversava horas sem fim

Rematando uma vida política em posição que não é para todos: no topo. Em Belém, exerceu por duas vezes como Chefe de Estado.

Os longos almoços e jantares onde gostava de conversar

Sim, são muitas recordações. Por isso, como não recordar também a sua cordialmente empenhada participação na radiofónica “Prova dos 4” da Rádio Renascença. O programa era semanal, ia para os ares aos sábados de manhã, e naquele dia 20 de Maio de 2000 seria abrilhantado pelo Presidente da República. A seguir, Jorge Sampaio convidou para almoçar os comentadores da “Prova”,  Maria José Nogueira Pinto, Guilherme d’Oliveira Martins, João Amaral e eu própria, autora e pivô do programa. Saímos de um restaurante no Chiado às quatro da tarde, Sampaio sempre apreciou mesas com gente sentada à sua roda, em tertúlias suculentas. Como outra que houve, numa casa no Oeste, onde, rodeado de amigos comuns, jogou futebol, fez honras ao almoço e pôde praticar outro dos seus desportos: conversar. E fê-lo muito bem. Num outro dia, no verão de 2002, voltei ao magnífico terraço do Palácio de Belém onde, por sugestão sua, a entrevista que eu lhe pedira para uma estação televisiva ocorreu na Presidência, com o azul do rio confundindo-se ao longe com o azul de Julho. Sampaio foi enérgico, loquaz, civilizado e político. O público gostou. Jorge Sampaio amadurecera bem. Era de boa colheita.

No programa da Renascença “Prova dos 4”

Continuando a olhar para trás, também vislumbro agora um cidadão em excelente forma, “doublé” de Presidente, a passar, costas ligeiramente arqueadas e passada sincopada,  por entre os faustos presidenciais: foi em Abril de 2005 numa viagem de Estado a França, onde — num gesto que não esqueço — o acompanhei a seu convite, integrando a sua comitiva pessoal. Uma viagem de Estado que foi mais que isso ao trazer-lhe, intacta e inteira, a lembrança de outras deambulações pelas “rive gauche” de Paris e da (sua) própria vida, conforme haveria de recordar, com gosto e verve, no decurso da visita, num pequeno círculo de amigos. (Com os quais  ainda houvera uma “folga” para um jantar a cinco, “quase clandestino”, numa brasserie de “toda a vida”.)

França: onde se sentia em casa e écharpes horríveis em Saint Michel

Sim, ali em Paris Sampaio revelava-se. A França influenciara-o. Fermentara-lhe as ideias, afinara-lhe uma matriz ideológica. Não deixava por isso de ser interessante observar o regresso deste cavalheiro — tão britânico na sobriedade, na descrição, no gosto – às suas origens culturais e ideológicas e o emocionado fervor com que o fez, consentindo que o ar de todos esses Maios de 68 descesse naturalmente sobre si ou que a marca vibrante desse passado pairasse sobre ele durante os quatro dias em que, como Chefe de Estado, “ocupou” instituições debruadas a dourado: jantando no Eliseu, discursando na mairie de Paris, almoçando em Matignon, intervindo em muito celebrado (e mediatizado!) discurso na Assembleia Nacional, dialogando, num francês digno dos clássicos, com estudantes universitários, empresários e artistas, e claro, fazendo política: “É preciso avançar, avançar, na construção política da Europa…”, numa alusão ao referendo europeu de Maio que então dividia ao meio uma França preguiçosa e instalada e muito alarmava a União Europeia. Houve honras e aplausos na visita mas, muito provavelmente, ele mereceu-os bem.

No regresso a Portugal percebi que Sampaio conseguira apresentar-se aos franceses na dupla pele do Presidente que era e do cidadão que nunca esquecera o contributo intelectual e as ilusões recebidas há cinquenta anos naquela “casa mãe”, por si e pelos “seus”. Muito mais tarde, num dia de Primavera de 2013, precisei de lhe falar, ia pedir-lhe um encontro.

“Estou em Paris, falamos depois, está um frio terrível, tive que ir comprar uma daquelas écharpes horríveis ali a Saint Michel…”. Sampaio estava em casa: a sua geração política era do boulevard Saint-Michel como se podia ser do Saldanha.

A visita aos últimos 11 concelhos, sem se emocionar

Aos primeiros acordes do hino nacional, Jorge Sampaio reedita pela milionésima vez o mesmo gesto que fez ao longo dos últimos dez anos: endireita ligeiramente as costas, o olhar fixo, a postura firme. É o último hino, do último dia, da última Presidência Aberta, no último concelho que visitava em Portugal. Tarouca vestira-se de festa, havia gente nas ruas, bombos, meninas e meninos vestidos com trajes regionais, executando danças que mereceram coreografia para a ocasião. Antes, nos dez concelhos que lhe faltara visitar, no distrito de Viseu, repetira-se o ambiente, o tom nunca destoara.

O tempo era de despedida mas o Presidente vetara-se à emoção à flor da pele: quando muito, um ou outro desabafo entre portas, no subir apressado de escadas, no balanço das terríveis curvas da serra.

Eis uma vivíssima lembrança que guardo de Sampaio. Destas que automaticamente ficam inscritas no nosso passado e para sempre arquivadas na memória: os últimos onze concelhos para visitar num duro périplo pelas curvas da Beira, em Fevereiro de 2006, já quase em final do segundo mandato. Onde, como lhe era habitual, ele nunca tocou de ouvido: lera os papéis e estudara os dossiês. Números, mapas, estatísticas, informações sobre aqueles aglomerados de gente, castigada pela distância, o esquecimento, as assimetrias. Povo perdido, entre a serra e a pedra.

Os temas preparados que levava sempre que descia ao Portugal profundo

O Presidente ouvia habitantes e forças vivas e depois, “sempre em jogo” (como adorava dizer de si mesmo em funções), entrava em acção: “Desculpe, já terminou? É que agora quero eu acrescentar umas coisas…”. E então ei-lo a questionar, dia fora, os seus diversos interlocutores. E, apesar do olhar por vezes turvado de cansaço, perguntava, interrompia, discordava, propunha, desafiava. Talvez porque não pudesse levar mais nada – não mandava e podia pouco — levava-se a si mesmo.

E, depois, voltava a ouvir, ouvia incansavelmente. Era sempre assim quando saía de Belém e descia ao Portugal profundo. Como nessa ocasião, no concelho de Armamar, onde o seu presidente da Câmara exibiu orgulho “por ter ali os símbolos da nação, o Presidente, a bandeira e o hino.”

E Jorge Sampaio lá continuou, cinco dias e cinco noites, por entre agrestes penhascos e frias serranias. A sério, como sempre.

As conversas no quarto de hotel com o gravador ligado

Consciente de que era a sua derradeira “volta” a Portugal, movia-se entre o imperativo do “serviço” ao país e a porventura indefinível impressão de “última vez”, disfarçada na passada enérgica com que nunca regateou tão intensas deambulações. No Falcon que nos transportara para o Porto no início desta derradeira tournée na qual eu fizera questão em estar presente, percebi que Jorge Sampaio teria porventura gostado de conversar também sobre “outras coisas”: trocar uma ou outra impressão sobre os amigos comuns, o livro que andava a ler, a vida. Sobretudo gostaria de me ter “industriado” mais sobre o sucesso da reunião de onde regressara dois dias antes, em Dresden, com meia dúzia de ex-chefes de Estado, uma iniciativa internacional com a sua assinatura, nascida um dia em Arraiolos (Arraiolos Meeting). Limitou-se a pincelá-la de breves comentários para “d’emblée” mergulhar no mar de dossiês à sua frente.

No regresso ao hotel, caía a noite, recolhia às suas instalações só acompanhado pela sua mulher, tentando isolar-se do mundo no silêncio daquelas serranias. Mas um desses serões disse-me que subisse à sua suite, num hotel em Viseu. Maria José andava por ali, sempre simpaticamente acolhedora para comigo, ele de pullover de lã vermelha e whisky na mão, estava disponível para conversar.

No regresso ao hotel, caía a noite, recolhia às suas instalações só acompanhado pela sua mulher, tentando isolar-se do mundo no silêncio daquelas serranias. Mas um desses serões disse-me que subisse à sua suite, num hotel em Viseu. Maria José andava por ali, sempre simpaticamente acolhedora para comigo, ele de pullover de lã vermelha e whisky na mão, estava disponível para conversar. Agarrei no gravador, sorrimos ambos: já havia alguma “antiguidade” no gesto de ligar o meu gravador diante dele.

Minúsculo excerto:

“Não se pode ter mágoas. Prefiro o reconhecimento realista do caminho imenso que ainda há a fazer. Mais difícil com a crise que temos, com o mundo globalizado etc.. Admito também que nem todas as prioridades foram as mais correctas. Podíamos ter chegado mais cedo a várias coisas. A sensação que tenho é que não temos muito mais tempo a perder. Andei, como sabe, pelo país todo e julgo ter sido um elemento de equilíbrio entre um Portugal mais rico e um Portugal mais pobre. Partimos muito atrasados, o salazarismo deixou as finanças sãs mas não houve desenvolvimento efectivo, embora sim, na parte final se tenha crescido muito…”

As muitas reuniões e as divisões quando empossou Santana Lopes

Ficou dez anos em Belém. Mas é indispensável enumerá-los: foram dois mandatos onde viu sumirem-se dois primeiros-ministros, um de moto próprio, o outro controversamente convidado por ele a sumir-se; por duas vezes e fora do calendário político, foram convocadas eleições legislativas; o poder foi mudando de mãos com aparato e vertigem, o país atordoou-se mas Jorge Sampaio não.

Com polémica, deu posse a Santana sem eleições. Cinco meses depois demitiu o Governo

Pelo meio sofreu uma delicada intervenção cirúrgica ao coração, que se traduziu num abalo físico e psicológico, por  entre os abalos de origem política. Também vale a pena recordar: o Presidente Jorge Sampaio não hesitara em pôr fora de jogo o governo de Pedro Santana Lopes, assente num confortável apoio parlamentar maioritário. Antes, já a polémica porém estalara: após a partida do então chefe do Governo Durão Barroso para Bruxelas, e as pesadas preocupações que ela suscitara, os dias seguintes foram densos e tensos. Após demoradas consultas onde no Palácio se ouviu meio mundo e na sequência de inúmeras reuniões da sua (dividida) Casa Civil, Sampaio optara por empossar Santana Lopes como primeiro-ministro: mantinha-se a coligação entre centristas e sociais-democratas, mudava — sem eleições – o primeiro-ministro. Foi sol de pouca dura e não se pode excluir ter sido essa espécie de antevisão do desastre que levou o Presidente a ter dado, cinco meses antes, luz verde a Santana Lopes, com a antecipada convicção da pouca dura desse sol… Seja como for a decisão de pôr um ponto final numa governação de apoio maioritário — uma “estreia absoluta” — deu brado, criou polémica, dividiu. Um gesto até hoje nunca esquecido.

Talvez porque ele também não se esqueceu de deixar os “seus” onde eles queriam estar.

A amizade com Cavaco para que Soares não ganhasse

Relembrarei sempre uma noite absolutamente memorável que vivi na ilha de S. Miguel onde o Presidente Sampaio recebia os reis de Espanha, em visita aos Açores. Após o belíssimo jantar nos deslumbrantes jardins do Palácio do Governo, oferecido por Carlos César, então presidente do Governo Regional, após discursos e brindes, Sampaio, acompanhado por João Serra, chefe da sua Casa Civil, quis conversar: “interessava-lhe” ouvir falar do “ar daquele tempo” e para isso desafiou Teresa Gouveia, Francisco van Zeller e eu própria que, de férias na ilha, também estávamos no banquete oferecido a Sofia e a Juan Carlos de Espanha e que o Presidente encontrara com viva surpresa. O “ar do tempo” nesse tempo era o de Cavaco Silva, que punha em ordem e em marcha a sua candidatura presidencial.

Quando recebeu Juan Carlos, então rei de Espanha, nos Açores

O Presidente, Jorge Sampaio, convidara algumas vezes o ex-primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva para almoçar consigo no Palácio de Belém. Almoçavam a sós. Houvera uma quase aproximação entre ambos. Começaram a conhecer-se melhor. Com pouco para se entender, entendiam-se. Partilhavam do mesmo rigor austero, praticavam a mesma sobriedade, estavam a sério nas coisas. Nascia um elo de quase cumplicidade entre ambos, ao qual não era de modo algum alheia a relutância com que, embora por razões diversas, os dois olhavam para Soares. E na ocorrência, para a sua surpreendente reentrada em cena na pele de candidato presidencial do PS às eleições de 2006, Cavaco sabia que Sampaio queria tudo menos que os seus dois mandatos presidenciais ficassem na mente dos portugueses (e na História) “entalados” entre os reinados de Mário Soares. E Sampaio, et pour cause, ainda menos o desejava. Prudente mas avisado, interessava-se: falando com gente da ala cavaquista, seguindo o andar da carruagem, dando muito discretamente fôlego político a Cavaco Silva. De longe mas com empenho, amparava na sombra os desígnios presidenciais do candidato “da direita”.

Não era pois senão disso mesmo que Jorge Sampaio iria tratar naquele estrelado serão açoriano ao levar-nos consigo, no final do banquete dos Reis de Espanha, para o hotel onde se hospedava. Terá aliás, estou certa, ficado na memória dos hóspedes aquele singular quinteto trajando de gala, subindo silenciosamente para uma sala deserta. E então, frente ao mar de Ponta Delgada, ouvimos Jorge Sampaio fazer perguntas: como e em que pé estavam as “coisas”, subentendido, a campanha avançava ou não? Qual o ponto da situação? Quem estava com o candidato? Quem fazia o quê? Quais as perspectivas? E depois — e como nos apercebemos bem daquela sua espécie de urgência — Sampaio foi direito ao que mais o preocupava: era urgente que a entourage de Cavaco Silva acautelasse a competência daquele desafio presidencial; era indispensável que a campanha não cometesse faux-pas, era imprescindível não cair em alçapões políticos. Era, enfim, conveniente ganhar aquelas eleições. O Presidente Jorge Sampaio queria ter a certeza que “do nosso lado” havia gente à altura da empreitada.

Percebemos todos o recado. Meses depois, o recado cumpria-se.

O jantar onde contou pormenores, como os encontros clandestinos com Cunhal

Foi num dos últimos onze concelhos visitados pelo Chefe de Estado em Fevereiro de 2006, não me lembro qual. Mas lembro com absoluta nitidez o extraordinário espectáculo a que tive o privilégio de assistir, exclusivamente protagonizado pelo cidadão Jorge Sampaio.

O programa presidencial, naquele final de manhã ensolarada, indicava uma visita às (magníficas) instalações da Vranken Pommery. Num ambiente simpaticamente cosmopolita,“regado” por bem vindas taças de champanhe, o Presidente, após ouvir Paul Vranken fazer-lhe com brio e leveza o tour du proprietaire, desfiando a história da Pommery e apresentando-lhe com gosto as suas equipas, recebeu do seu anfitrião um convite para um “jantar íntimo”, nessa mesma noite. Horas depois, numa morada campestre, meia dúzia de pessoas sentavam-se a uma mesa e, milagrosamente, eu era uma delas (generosamente levada por Jorge Sampaio). Boa gastronomia, bons vinhos, boa atmosfera, conversa civilizada. E eis que, entre um prato e outro, o dono da casa se interessa verdadeiramente sobre o cavalheiro de costas ligeiramente arqueadas, sentado à sua frente. E, dans l’occurence, o mais alto magistrado da nação que acolhera a Vranken Pommery: quem era aquele homem? Qual a sua história?

O Portugal da sua juventude — e o seu próprio protagonismo nesses  anos – os encontros clandestinos com Cunhal em Paris, a madrugada de Abril de 74, a revolução, a advocacia, a conquista da democracia. Com o “contador” — ele próprio — sem sombra de vaidade, “estampado” no fresco que acabara de pintar. Entre o enlevo e o puro espanto a pequena plateia levantou-se da mesa, subitamente depositária de uma vida que valera a pena.

Seguiu-se então um dos momentos certamente mais interessantes da minha vida, não forçosamente profissional: no seu francês invejável e usando de uma qualidade discursiva igualmente invejável, Jorge Sampaio contou-se como nunca eu o tinha visto fazer: como num grande fresco, surgiram personagens e episódios contados em tom certo e na medida justa mas com o desarmante desassombro de quem os vivera assim, e a sério. O Portugal da sua juventude — e o seu próprio protagonismo nesses  anos – os encontros clandestinos com Cunhal em Paris, a madrugada de Abril de 74, a revolução, a advocacia, a conquista da democracia. Com o “contador” — ele próprio — sem sombra de vaidade, “estampado” no fresco que acabara de pintar. Entre o enlevo e o puro espanto, a pequena plateia levantou-se da mesa, subitamente depositária de uma vida que valera a pena.

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