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Moderada, "ma non troppo". Como Giorgia Meloni pôs Salvini no bolso e encantou Von der Leyen

Desde que chegou ao governo, a PM italiana, líder de um partido que alguns apelidam de fascista, aproximou-se do centro na política externa e manteve algum radicalismo em casa. Moderou-se no poder?

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Giorgia Meloni e Viktor Orbán encontraram-se no Hotel Amigo, com vista para a Grand Place de Bruxelas. Estávamos no final de janeiro e os dois primeiros-ministros estavam na capital belga para participar na cimeira de líderes europeus onde se discutia um novo apoio de 50 mil milhões de euros à Ucrânia. O húngaro estava a resistir e a italiana decidiu fazer uma ofensiva de charme.

No encontro de cerca de uma hora, Meloni e Orbán falaram a mesma língua. Segundo o New York Times, o primeiro-ministro húngaro, do partido Fidesz, queixou-se de ser ostracizado pela União Europeia pelas suas políticas mais à direita; a homóloga italiana, dos Irmãos de Itália, disse que o compreendia. “Mas, em vez de atacar a UE, tento trabalhar de boa fé”, terá dito Meloni. No dia seguinte, na cimeira de líderes, Orbán deu luz verde ao apoio a Kiev.

“Ela tentou várias vezes servir de ponte e a impressão que ficou é que, desta vez, resultou”, resumiu um diplomata de um terceiro país ao Politico. Antes de chegar ao poder, a líder do governo italiana era vista com desconfiança dentro de Bruxelas, por fazer parte de um partido de direita radical que alguns apelidam mesmo de fascista. Agora, Meloni faz a ponte entre o coração da Comissão Europeia, representado por Ursula von der Leyen, e um dos líderes europeus que mais se rebela contra Bruxelas.

Giorgia Meloni terá conseguido influenciar Viktor Orbán para apoiar o mais recente pacote de apoio à Ucrânia

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A questão é inevitável: Giorgia Meloni moderou-se depois de chegar ao poder? As opiniões dividem-se. Cecilia Sottilotta, por exemplo, acha que a mudança é apenas de forma e não de conteúdo: “A imprensa estrangeira teve um papel aqui, exagerando a ameaça que ela representava antes da eleição, o que fez toda a gente ter expectativas muito baixas”, nota ao Observador a professora de Ciência Política na Universidade para Estrangeiros de Perugia. “Quando ela alcançou o poder e começou a comportar-se de forma institucional, toda a gente ficou agradavelmente surpreendida. Mas não creio que tenha mudado nem um bocadinho. É a líder de um partido de direita radical que está a jogar a longo prazo.”

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Já Daniele Albertazzi, professor de Ciência Política que acompanha o percurso de Meloni a partir do Reino Unido, considera que é matéria de facto que a primeira-ministra italiana está a aproximar-se do centro no que diz respeito “à relação com a União Europeia (UE), com os Estados Unidos e com a NATO”. “Mas, para fazer isso, ela continua a ter de agradar aos seus eleitores e a ser mais radical dentro de casa.”

À direita em Itália, ao centro quando sai do país. É essa a “estratégia óbvia” que Meloni tem vindo a usar desde que foi eleita, há quase ano e meio, diz este académico. Para já, parece estar a resultar: a líder dos Irmãos de Itália tem neste momento uma taxa de aprovação de mais de 50% no seu país (bem acima das de líderes como Olaf Scholz e Emmanuel Macron). Agora, a quase dois meses das eleições europeias (que serão a 9 de junho), Meloni começa a fazer o caminho para ser também bem sucedida a nível europeu e conseguir vir a influenciar a política da próxima Comissão Europeia.

Uma primeira-ministra pró-EUA e pró-NATO que já influencia a política de imigração da UE

“Tornámo-nos amigos.” Foi assim que o Presidente norte-americano, Joe Biden, classificou a sua relação com Giorgia Meloni quando a recebeu na Casa Branca, em julho do ano passado, num encontro em que elogiou repetidamente a postura pró-ocidental do executivo da italiana. Isto apesar de, um ano antes, Biden ter usado a eleição de Meloni como um dos exemplos de que “a democracia está em risco” em todo o mundo.

Ao contrário do que defendera no passado, quando Meloni chegou ao poder assumiu uma postura claramente atlanticista e pró-NATO. A sua defesa convicta da Ucrânia e condenação da Rússia, em contraste com a de outros partidos europeus de direita radical, consolidou essa perceção a nível mundial. “Até agora, ela tem estado muito bem na política externa”, comentava o histórico cientista político Francis Fukuyama em setembro do ano passado.

Os elogios não vieram só de Washington. Em Bruxelas, desde cedo se começaram a aplaudir em off “as maneiras educadas” e “a linguagem delicada” de Meloni. Em on, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deixava claro que trabalhava facilmente com a líder italiana, aparecendo em vários eventos ao lado dela. Inclusivamente na ilha de Lampedusa — símbolo maior da questão da imigração na Europa, um tópico que em tempos fez Meloni usar uma retórica mais agressiva, prometendo um bloqueio naval a qualquer barco que se aproximasse da costa italiana.

"Tornámo-nos amigos", disse Biden sobre Meloni

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No passado, Meloni fez discursos onde se definia como “italiana, cristã, mulher, mãe”, por oposição a um mundo que dizia querer apagar a sua identidade. Falava também num plano para uma “substituição étnica” que roçava a teoria racista da “Grande Substituição”. Mas, desde que chegou ao poder, Meloni moderou o tom e não foi tão longe na política migratória que defendia, por exemplo: em vez de um bloqueio naval aos barcos que chegam a Itália, a primeira-ministra italiana passou a defender “a criação de hotspots em territórios não-europeus, geridos pela União Europeia, para avaliar candidaturas de asilo”.

Ao mesmo tempo, a primeira-ministra tem promovido aquilo a que chama de Plano Mattei: um investimento significativo de Itália em países africanos, esperando que em troca estes limitem os fluxos de imigração em direção à Europa. Uma estratégia que não é nova e já tinha sido posta em prática pela própria UE, com acordos para limitar a imigração assinados com a Turquia e com a Líbia, o primeiro inclusivamente promovido por Angela Merkel.

“Em termos da política económica europeia, Meloni tem trabalhado dentro das regras e cumprido as expectativas da Comissão”, nota Cecilia Sottilotta. “Já em termos de imigração, ela tem tido uma postura dura, mas essa é a postura da UE, que passou a adotar uma estratégia mais securitária. Não é difícil para Meloni integrar-se.”

“Em termos da política económica europeia, Meloni tem trabalhado dentro das regras e cumprido as expectativas da Comissão. Já em termos de imigração, ela tem tido uma postura dura, mas essa é a postura da UE, que passou a adotar uma estratégia mais securitária. Não é difícil para Meloni integrar-se.”
Cecilia Sottilotta, investigadora da Universidade para Estrangeiros de Perugia

Uma leitura com que o professor Daniele Albertazzi concorda: “A UE moveu-se para a direita em termos de imigração. A direita radical tem conquistado este espaço em vários lugares — podemos ver o Reino Unido, onde os conservadores aplicam agora políticas que em tempos eram defendidas apenas pelo UKIP.”

Agora, acordos na linha do Plano Mattei parecem ser o instrumento favorito da Comissão para as políticas migratórias. Em vez da redistribuição de migrantes pela UE, a Comissão foca-se em defender o combate aos traficantes e em alargar este tipo de acordos de outsourcing a outros países. Não por acaso, Meloni tem aparecido ao lado de Von der Leyen em viagens a locais como Egipto e Tunísia, para propor programas semelhantes a esses países.

A cumplicidade entre Meloni e Von der Leyen é notória em público, alicerçada na postura da italiana — que não contesta as regras do Pacto Orçamental e que até ajuda a convencer Orbán a apoiar a Ucrânia. Uma moderação, contudo, que alguns consideram não ser ideológica, mas sobretudo pragmática: “Por um lado, há constrangimentos sistémicos: muitos dos investimentos italianos dependem agora dos fundos do PRR e Itália tem de cumprir as regras para os receber”, nota ao Observador Mattia Zulianello, especialista nas direitas radicais da Universidade de Trieste. Com uma dívida de quase três biliões de euros (equivalente a 145% do PIB), a economia italiana depende em muito de apoios como o PRR e também de instrumentos como o esquema de compra de dívida por parte do BCE. Portanto, Meloni sabe que não pode agitar o barco.

Giorgia Meloni e Ursula von der Leyen têm aparecido juntas em vários eventos

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“Por outro lado, há uma questão de reputação”, ressalva Zulianello. “Meloni e o seu partido querem parecer atores do poder, moderados e credíveis, em vez de apenas serem oposição. Isto implica um equilíbrio entre uma imagem radical e outra de responsabilidade”.

Seja por ter mudado de ideias e se ter moderado, seja por oportunismo político, o certo é que Giorgia Meloni se tornou uma primeira-ministra muito mais ao centro do que era esperado, no que diz respeito ao plano internacional. Mas o professor Albertazzi considera que é irrelevante “perceber o que vai na cabeça dela”. “A questão é: Meloni podia ter feito outra coisa? Não creio. Todos os primeiros-ministros de Itália, desde a II Guerra Mundial, têm cultivado uma boa relação com a UE e a América, porque consideram que isto é o mais benéfico para os interesses de Itália.”

O “pós-fascismo” dos Irmãos de Itália. A faceta de direita radical de Meloni vem ao de cima na política interna

Nada disto significa que Meloni tenha abandonado todas as suas bandeiras mais radicais. O exercício é de equilibrismo, como nota o professor Zulianello, e a faceta mais extrema é aplicada na política interna. Um exemplo prático que ilustra esta duplicidade dentro e fora de portas é o caso da crise climática: em julho, quando se encontrou com Biden, Meloni disse estar comprometida com o combate às alterações climáticas, que definiu como “ameaça existencial”; na semana seguinte, num comício de apoio ao líder do partido espanhol Vox, fez declarações onde denunciava “o fanatismo ultra-ecológico da esquerda”, que dizia estar a atacar “o nosso modelo económico de produção”.

O discurso a favor da “família tradicional” é outro dos pontos que Meloni não larga e uma das áreas onde tem apresentado medidas é na limitação de direitos da comunidade LGBT: o seu governo, por exemplo, passou a proibir que casais gay possam ambos registar-se oficialmente como pais de uma criança (algo até aqui permitido) e está a criminalizar o recurso a barrigas de aluguer no estrangeiro — até aqui, apenas era crime se o processo tivesse lugar em Itália, razão pela qual muitos casais do mesmo sexo recorriam a agências estrangeiras de barrigas de aluguer.

Meloni mantém elevados índices de popularidade em Itália

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É aquilo a que Daniele Albertazzi chama “dar um rebuçado ao seu eleitorado”. “Ela não irá tão longe em questões como por exemplo o aborto, tentando reverter a atual legislação, porque essa é uma questão que tem amplo consenso em Itália. Meloni não tem força para isso e não se quer dar a esse trabalho”, afirma o académico da Universidade de Surrey. “Mas nos direitos de adoção por parte de casais gay, por exemplo, ela acha que terá o apoio de muitos italianos. Portanto, é uma vitória fácil.”

Meloni gosta de se definir como uma “outsider”, mas a verdade é que está na política desde sempre, quando na adolescência se juntou à juventude partidária do Movimento Social Italiano (herdeiro do Partido Nacional Fascista de Benito Mussolini). Essa herança ideológica marcada tem sido um problema para Meloni, que diz denunciar erros do fascismo como “a supressão da democracia” e “as detestáveis leis anti-judeus”. Mas o seu partido mantém uma posição ambígua relativamente à herança fascista, rejeitando o termo, mas mantendo alguma iconografia do fascismo italiano como a chama tricolor, símbolo dos Irmãos de Itália.

Certas figuras do partido não são tão contundentes como Meloni a criticar esse passado — Ignazio La Russa, atual presidente do Senado, mantém um busto de Mussolini na sua secretária, por exemplo. A estratégia do partido, diz a professora Cecilia Sottilotta, é a de descrever o fascismo como “uma coisa do passado” e, por isso, evitar condená-lo. “Eles dizem que é História e que vivemos em tempos diferentes. Mas isso é apenas brincar com as palavras”, considera.

“A sua ideologia central continua a assentar no nativismo (a ideia de que a população nativa deve ter prioridade face aos não-nativos), no autoritarismo (apoio a políticas de ‘lei e ordem’ e à família e aos papéis de género tradicionais) e no populismo (a ideia de que há um conflito entre ‘o povo’ e ‘as elites’).”
Mattia Zulianello, professor especialista em direitas radicais da Universidade de Trieste

Mattia Zulianello, especialista nas direitas radicais, tem um entendimento diferente. “Meloni e o seu partido não são fascistas”, afirma taxativamente. “Mantêm mais uma ligação afetiva a uma tradição política do que uma continuidade ideológica.” Concretamente, diz o investigador da Universidade de Trieste, os Irmãos de Itália são “exemplos típicos” de atores da direita radical populista: “A sua ideologia central continua a assentar no nativismo (a ideia de que a população nativa deve ter prioridade face aos não-nativos), no autoritarismo (apoio a políticas de ‘lei e ordem’ e à família e aos papéis de género tradicionais) e no populismo (a ideia de que há um conflito entre ‘o povo’ e ‘as elites’).”

Já Daniel Albertazzi reforça a ideia de que o partido é de direita populista radical, mas admite que os Irmãos mantêm nas suas fileiras membros claramente fascistas. Mas, independentemente da definição científica da ideologia do partido, o académico acha mais importante sublinhar como Meloni “está constantemente a dirigir-se a duas audiências” diferentes. De um lado, os eleitores da direita mais centrista, historicamente ligados ao Forza Italia de Silvio Berlusconi (agora liderado por Antonio Tajani); do outro, os eleitores da direita radical, que gostam de se definir como “pós-fascistas,” a quem Meloni nunca aliena, porque “nunca os condena”.

Como Meloni encurralou Salvini, que nunca arriscaria deitar abaixo o governo. “Seria do reino da ficção científica”

Esta estratégia tem sido particularmente eficaz a esmagar por completo Matteo Salvini. O líder da Liga é, ao mesmo tempo, um aliado (faz parte da coligação de governo de Meloni), mas também um adversário (porque compete pelo mesmo eleitorado da extrema-direita). Depois de ter transformado o seu partido de uma força regional (Norte vs. Sul de Itália) para uma força nacionalista (focado no combate à imigração), Salvini conquistou parte desse eleitorado. Mas a experiência governativa com o Movimento 5 Estrelas — que se define como estando à esquerda no espectro político —, que por sua vez deu lugar ao governo tecnocrata de Mario Draghi, fez a Liga de Salvini perder o domínio do eleitorado da direita radical.

“Esse é o génio de Meloni: ela foi paciente”, nota o professor Albertazzi. “Sempre fez oposição a todos e pode dizer ‘Eu nunca cedi’. Quando Salvini se meteu na cama com o 5 Estrelas e Draghi se meteu na cama com a esquerda, perderam credibilidade.” E, nas eleições de setembro de 2022, Meloni ali estava, imaculada, sem nunca ter estado no poder nem feito alianças. Quando finalmente chegou ao poder, montou uma coligação à direita (com a Liga e com o Forza Italia), mas colocou o adversário Salvini numa pasta pouco apetecível — a das Infraestruturas.

As sondagens dizem que está a resultar. Os Irmãos de Itália estão próximos dos 30% nas intenções de voto, enquanto a Liga não chega aos 10%. “Os eleitores nunca perdoariam Salvini se ele deitasse o governo abaixo”, diz Daniele Albertazzi. “Eu sei que a política italiana é a política italiana, mas… Isso seria do reino da ficção científica.”

Matteo Salvini é aliado de Meloni no governo, mas competem pelo mesmo eleitorado

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Nem mesmo o tema que mais separa Meloni de Salvini — o apoio à Ucrânia — prejudica a primeira-ministra. Tradicionalmente, a direita italiana sempre se manteve próxima de Vladimir Putin. Meloni também não contestava essa orientação, tendo em 2014, por exemplo, criticado as sanções à Rússia na sequência da anexação da Crimeia. Mas, a partir da invasão de larga escala da Ucrânia em fevereiro de 2022, Meloni fez uma mudança de 180 graus. Passou a proclamar claramente o direito à defesa de Kiev, promoveu os apoios europeus de armamento e financiamento à Ucrânia e criticou abertamente Vladimir Putin.

Para a professora Sottilotta, é evidente que os Irmãos de Itália são o partido “menos pró-Putin” da atual coligação de governo. Mas a académica avisa que a postura de Meloni pode mudar: “Se o governo norte-americano se alterar depois das eleições, ela irá adaptar-se à posição do novo governo sobre este tema, seja ela qual for. Chamemos-lhe uma líder pragmática.”

Mas, por enquanto, a posição de Meloni é muito diferente da de Salvini, o homem que em tempos chegou a usar uma camisola com a cara de Putin, e que não se tem distanciado de Moscovo. Nada que a prejudique, apesar de Itália ser um dos países europeus onde se regista menor apoio à Ucrânia: “Não há competição possível: Meloni está com Von der Leyen enquanto Salvini está a inaugurar uma nova estrada. Ele não tem qualquer influência na política externa”, considera Albertazzi. É apenas, diz o professor, “teatro político”: “Quando há votos no Parlamento sobre matérias de política externa, a Liga apoia sempre as propostas do governo. Não teriam a coragem de deitar abaixo o executivo por isso, porque os prejudicaria.”

A proximidade a Von der Leyen e o plano para uma aliança com o PPE. Como Giorgia Meloni quer influenciar a Europa

Em Itália, a perspetiva da maioria dos eleitores é que Giorgia Meloni tem conseguido uma estabilidade que há muito não se vivia na política do país: “Os italianos estão desiludidos e querem políticos que façam o que prometem. Não é que ela faça exatamente tudo o que prometeu, mas a sua postura nos direitos LGBT, por exemplo, é exatamente a que defendeu na campanha”, sublinha a professora Cecilia Sottilotta. “No caso da imigração, ela está pelo menos a conseguir promover a sua visão dentro da União Europeia. Comparada com outros líderes, como Salvini, Meloni parece bastante consistente.”

Essa influência na Europa é mais visível na questão da imigração, mas Meloni alimenta o sonho de conseguir estendê-la a outras matérias. Perante as eleições europeias de junho, a primeira-ministra italiana tem liderado um movimento de aproximação da família europeia a que pertence (os Conservadores e Reformistas Europeus, CRE, que incluem partidos como o PiS e o Vox) ao Partido Popular Europeu. “Uma aliança entre os Conservadores e o PPE é provável. Eles estão claramente a trabalhar para isso, Von der Leyen já foi várias vezes a Itália, por exemplo”, nota Albertazzi.

Giorgia Meloni tem tido vários contactos com membros do PPE

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A ideia desagrada profundamente ao outro grupo europeu que reúne partidos da direita radical, o Identidade e Democracia (ID, que inclui a União Nacional de Le Pen, a AfD alemã e o Chega de André Ventura). O principal tema que divide os dois grupos é, precisamente, o apoio à Ucrânia — com a maioria dos membros do ID a manterem uma postura muito mais próxima do Kremlin.

Certo é que as sondagens deixam claro que estes dois grupos devem crescer substancialmente após as eleições de 9 de junho, beneficiando não apenas de uma subida eleitoral dos seus partidos nos respetivos países, como também da adesão do Fidesz de Viktor Orbán, que se desfiliou do PPE depois de estar em risco de expulsão, e deverá agora juntar-se a um destes blocos. Dentro do ID, muitos sonham com uma possível aliança entre toda a direita radical — incluindo o próprio Chega, como explicou ao Observador Diogo Pacheco Amorim em novembro do ano passado).

Chega na Europa: Ventura fica na família política de Le Pen e quer ser “ponte” para união das direitas

Mas os Conservadores, encabeçados por Meloni, parecem ter outras ideias. Perante o desagrado de alguns partidos do grupo à possibilidade do Fidesz de Orbán se juntar àquela família política, principalmente pela sua proximidade a Moscovo, o mais certo é que o caminho venha a ser outro: o de um CRE que se aproxima do centro.

A porta já foi aberta pelo Forza Italia e várias fontes dentro do PPE reconhecem que o partido está a cortejar Meloni nesse sentido: “As viagens constantes a Itália dizem tudo”, insinuou um operativo do partido ao Politico recentemente. Segundo o mesmo jornal, o próprio presidente do PPE, Manfred Weber, tem-se reunido com Giorgia Meloni e, em privado, tem sido levantada a a possibilidade de os Conservadores apoiarem um governo europeu de Von der Leyen — ou, em alternativa, os Irmãos de Itália juntarem-se ao PPE.

“Ela está a trabalhar para que os Conservadores consigam influenciar a maioria de governo. E está a fazê-lo através de uma boa relação com Von der Leyen e com o PPE.”
Daniele Albertazzi, especialista em Ciência Política

Não seria uma adaptação difícil, nota Daniele Albertazzi: “Recentemente foi publicado um artigo académico que analisava as votações do CRE no Parlamento Europeu e que concluiu que, muitas vezes, eles votam mais ao lado do PPE do que do ID.” O objetivo de Meloni, diz o professor, é “claro”: “Ela está a trabalhar para que os Conservadores consigam influenciar a maioria de governo. E está a fazê-lo através de uma boa relação com Von der Leyen e com o PPE.”

Que Giorgia Meloni se anda a moderar no estrangeiro para ganhar influência no futuro é, neste momento, o segredo mais mal guardado da política europeia. Há pouco mais de um mês, Nicola Procaccini, eurodeputado dos Irmãos de Itália e um dos amigos mais antigos da primeira-ministra italiana, apresentou todo o plano ao Le Figaro, numa entrevista: “O nosso objetivo é atrair a direita em direção ao centro e o centro em direção à direita, para que o eixo central do próximo Parlamento seja mais à direita”, resumiu. “Mesmo que não haja grandes flutuações no Parlamento, a próxima Comissão será muito mais à direita do que aquela que termina o mandato agora.”

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