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Leonardo Negrão

Leonardo Negrão

O leão de Luanda que foi prodígio nos EUA e fez negócios pelo mundo: a campanha de Ricardo Oliveira às eleições do Sporting

Assume sucesso desportivo, preocupa-se com parte financeira. Elogia treinador, teme que clube fique seu "refém". Garante que há sempre financiamento para bons projetos. O que defende Ricardo Oliveira.

Às vezes, até Lisboa se torna pequena quando se fala de universo Sporting. E o próprio Ricardo Oliveira, que se candidata pela primeira vez à presidência do clube, não demorou a perceber por coincidência isso mesmo: na noite em que organizou um jantar de lançamento da campanha com todos os membros aos órgãos sociais e alguns apoiantes, cruzou-se com Rogério Alves, presidente da Mesa da Assembleia Geral do clube que está a poucos dias de deixar o cargo qualquer que seja o resultado eleitoral. Alguns cumprimentos, uma pequena pitada de embaraço pelo sucedido de forma inadvertida, muitos sorrisos para quebrar qualquer gelo que se pudesse ter criado. Como o gestor de 51 anos já disse vezes sem conta, “no final é tudo sportinguista com mais coisas a unir do que a separar”. As análises ao presente e os projetos para o futuro, esses sim, diferem. E o do atual presidente da Federação Portuguesa de Padel transporta consigo uma visão mais internacional.

[Ouça aqui a entrevista a Ricardo Oliveira no Sob Escuta da Rádio Observador]

“O que não quero é ficar mais 19 anos sem ganhar”

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Nem Ricardo Oliveira nem muitos outros elementos das suas listas como Miguel Frasquilho, Luís Natário, Mário Patrício, Jorge Gurita, Jorge Sanches ou Carlos André Dias Ferreira são propriamente novos numa eleição do Sporting. Longe disso. Aliás, vários chegaram a fazer parte dos órgãos sociais em diferentes fases da vida do clube da última década. No caso do gestor, concorreu como vice com o pelouro das finanças nas últimas eleições na lista que tinha Dias Ferreira como candidato e que acabou por ficar com apenas 2,35%. Culpa do voto útil? Mensagem que não passou? Vítima da bipolarização criada pelos debates? Ninguém sabe ou saberá ao certo. No entanto, houve um grupo de pessoas que ficou e que ganhou um novo fôlego com a iniciativa “Sporting com Rumo”, um ciclo de debates/conferências que juntou várias individualidades dos leões para discutir modelos de governance, sustentabilidade financeira, as melhores políticas desportivas para futebol e modalidades, revisão estatutária, marca e comunicação ou estratégias mais institucionais.

“Avanço pela junção de uma série de fatores mas essencialmente pela preocupação que tenho em relação ao rumo que o Sporting leva ao dia de hoje. Obviamente que essa preocupação não está ligada com a parte desportiva. Tem de haver alguém que pague as contas e sei que é um momento difícil. Sei que um dos candidatos parte em larga vantagem pela parte desportiva mas não podia amanhã, se alguma coisa corresse mal, viver em consciência com o não ter tentado fazer alguma coisa para ajudar o Sporting. Essa é a minha principal razão”, explica Ricardo Oliveira, um dos organizadores do “Sporting com Rumo” a par do antigo líder do Conselho Fiscal e Disciplinar Agostinho Abade, em entrevista ao Observador. E foi também aí que detalhou a importância desses debates e o momento em que decidiu em definitivo avançar com uma lista.

[Veja aqui a entrevista de Ricardo Oliveira no Sob Escuta da Rádio Observador]

“Levei muito tempo para tomar a decisão e não foi tomada só por mim, foi por um grupo de pessoas que foram debatendo Sporting ao longo do tempo. Depois do ‘Sporting com Rumo’ criaram-se ali uma série de amizades, de pessoas que engraçaram umas com as outras, que foram conversando sobre Sporting e fazendo uma análise depois da entrega desse documento que resultou do ‘Sporting com Rumo’. Continuaram a analisar a performance, a ler os jornais, a ver notícias preocupantes, eu como acionista do Sporting a ir às Assembleias Gerais da SAD e também do clube mas às da SAD que me preocupavam mais e pela forma como lá chegava e me transmitiam uma situação que o Sporting vivia, que não era a que correspondia à que analisava perante as contas que eram apresentadas. Com essas pessoas todas, a maioria até com mais anos de Sporting do que eu, decidimos. Foi só em janeiro que houve um jantar para essa tomada de posição e depois tivemos de fazer tudo a correr mas com um período de reflexão grande…”, salienta. O nome ou a lista?

“Não estar dependente de um treinador e das suas relações pessoais para a gestão”: Ricardo Oliveira apresenta candidatura ao Sporting

“Decidimos em conjunto. Eu era um dos perfis preferidos das pessoas que entendiam que podiam avançar dentro das características que seriam favoráveis e que melhor poderiam servir o Sporting. Tive sempre apoio nesse sentido e ao mesmo tempo mostrei disponibilidade para, havendo essa candidatura, poder liderar a mesma. Já liderei outras coisas na minha vida e com o apoio deles entendi dar esse passo porque não podemos virar as costas à guerra, não podemos assobiar para o lado e também porque além da parte financeira, e apesar do sucesso desportivo, há uma parte que nos incomoda muito que é ver que o Sporting não está unido. As diversas fações do Sporting estão todas unidas à volta de Rúben Amorim, da equipa de futebol e do Sporting ao fim ao cabo mas… Qualquer candidato não é o Sporting, deve entender o seu lugar quando são presidentes. Têm de entender o seu lugar, que são alguém que chega, que passa por lá, que se vai embora e que o Sporting já existia e continuará a existir. É normal que as pessoas estejam unidas à volta do sucesso desportivo protagonizado grandemente por Amorim e pela sua equipa e é o que vale…”, frisa.

O prodígio do golfe que foi pioneiro com uma bolsa para os EUA (e daí para o mundo)

Apesar de saber que enfrentaria um adversário, neste caso o atual presidente Frederico Varandas, que não teria propriamente de fazer campanha (mesmo tendo conhecimento de algumas conversas que iam sendo mantidas numa perspetiva eleitoral), Ricardo Oliveira não deixou de tentar fazer um caminho parecido com o que tinha existido em 2018 dentro do contexto atual – ou seja, sem debates a dois, a seis ou sete, com várias entrevistas e algumas visitas a Núcleos. Tudo desde 1 de fevereiro, uma semana depois do estipulado por ter contraído Covid-19, o dia em que fez o anúncio oficial de que seria candidato à presidência dos leões.

Nas redes sociais, a máquina do candidato foi comunicando à luz do quotidiano do clube, entre as conquistas desportivas, as mensagens de condolências pelo desaparecimento de algumas figuras como o sócio número 1 Eduardo Hilário e as partilhas das entrevistas que ia dando. Mas era também a partir dessas plataformas que ia anunciando e divulgando as visitas a vários Núcleos pelo país como aconteceu em Matosinhos, Braga, Batalha (por altura do Marítimo-Sporting), Quinta do Conde ou Condeixa. Pelo meio, e após o encontro no Dragão com o FC Porto, teve também uma palavra com Frederico Varandas: “Quero expressar a minha solidariedade inequívoca com o presidente do Sporting, que foi vítima de mais um conjunto de atitudes inaceitáveis que não têm, nem podem ter, lugar no desporto. Estive presente no estádio e constatei in loco como, fruto de um inconcebível clima de intimidação e ameaça, sob um manto de total impunidade, o futebol português voltou a escrever uma página negra da sua história, com claro prejuízo para o Sporting”.

Ricardo Oliveira passou por vários Núcleos na semana passada entre Matosinhos, Braga, Condeixa e Batalha, entre outros

Com várias paragens no Estádio José Alvalade ou no Pavilhão João Rocha, fez uma mini volta pelo país após uma vida onde fez uma macro volta pelo mundo: nasceu em Luanda, onde esteve até aos cinco anos e com um pai que ainda hoje é o presidente do Sporting Clube de Luanda (com tudo verde em casa), viveu depois em Portugal e no Brasil, foi estudar para os EUA numa viagem onde acabou por ser um pioneiro.

Depois de ter ganho dezenas de títulos nacionais e mais alguns em provas internacionais em golfe, Ricardo Oliveira tornou-se o primeiro português a receber uma bolsa de estudo para uma universidade dos EUA, por sinal aquela que liderava naquela altura o ranking do país, os Oklahoma Sooners. O convite de Greg Gorst aos 19 anos foi aceite, depois de uma primeira abordagem que teve a recusa da mãe. Começou por estudar Economia mas apenas um ano depois, no verão de 1991, foi para a Califórnia beneficiando de uma bolsa de Santa Bárbara, onde foi estudar Psicologia (após terminar a licenciatura, fez ainda mais um bacharelato em gestão desportiva). Chegou a trabalhar ainda na Merrill Lynch em análise de dados mas voltaria a Portugal, onde se manteve dedicado aos estudos, neste caso uma pós-graduação em Business Management e Finanças na Católica, uma em Imobiliário, no ISEG, e ainda um mestrado executivo em Finanças Aplicadas. Pelo meio, teve um período em que escreveu e comentou alguns torneios de golfe.

Sporting em debate: o trunfo de Sousa (Inácio), os investidores de Oliveira e os contra-ataques de Varandas

Já por questões meramente profissionais, voltou a Angola e trabalhou em “projetos de grande dimensão” como a fundação do Banco Angolano de Negócios e Comércio, o desenvolvimento imobiliário do Morro dos Veados ou a auditoria à construção do Consulado Geral de Angola em Portugal entre intermediação em áreas como pescas, petróleo, banca, construção e jogo. Quando voltou a Portugal já trabalhava com o antigo embaixador e então ministro dos Negócios Estrangeiros António Martins da Cruz, com quem ainda tem uma sociedade e partilha escritório na Avenida da Liberdade. Entre as várias funções que foi assumindo passou por países como Iraque, Venezuela, Brasil, China e Macau, além da Europa e dos EUA. Por cá, e em paralelo com a atividade empresarial, lançou a Federação de Padel, que em qualquer conversa faz questão de destacar que, à exceção do futebol, é das que mais crescem no país ao longo dos últimos anos.

“Havia uma operação triangulada que iria injetar 160 a 180 milhões no Sporting”

De forma muito pragmática, Ricardo Oliveira assume que, “neste fase, o sucesso desportivo do Sporting é algo evidente”. Não esquece os dois primeiros anos de mandato de Frederico Varandas, as contratações que no plano desportivo não tiverem resultado e o desfile de treinadores, mas admite que Rúben Amorim abriu uma nova era em Alvalade. É por isso que, até pelo que se percebe no programa eleitoral apresentado, a grande tónica passa pela vertente financeira. E é aí que revela as principais preocupações, da antecipação de receitas ao aumento da dívida a curto prazo passando pelas condições mais estruturais para enfrentar um futuro onde os Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis (VMOC) são chave. Após a entrevista, o candidato revelou o parceiro que estaria disposto a investir os tais 150 a 200 milhões: a Youngtimers, uma holding registada na Suíça, líder mundial na facilitação, gestão e manutenção de investimentos alternativos em carros colecionáveis, que possui e opera empresas que prestam serviços a esta indústria.

A ligação que foi tendo ao Sporting foi sobretudo através de Assembleias Gerais, sobretudo da SAD enquanto acionista. Nessas assembleias não gostava mais do que via nas contas ou da atitude do Conselho de Administração que podia corporizar o tal “não unir o Sporting”?
Vou às Assembleias Gerais do clube e da SAD e obviamente que a minha postura como presidente do Sporting jamais será nas Assembleias Gerais do clube enviar beijinhos para as bancadas para os adeptos do Sporting ou nas da SAD referir-me aos acionistas que ali estão presentes como alguém que não me diz nada e que não tem quase de lhes dar satisfações àquilo que são as perguntas que os acionistas estão a fazer. Não é a minha postura, confesso que me incomoda porque não é o papel de um líder que quer unir o Sporting. Se queremos unir o Sporting, temos de nos sentar, de dialogar, de tratar todos de forma igual. Não podemos dizer que há uns de primeira categoria e outros de segunda categoria, não podemos mandar tirar os sapatos a uns à entrada do estádio e outros podem entrar calçados, não podemos fazer uma série de coisas que ao fim ao cabo não permitem que todos se sintam bem-vindos. O ambiente nas Assembleias Gerais não são os mais propícios, é um ambiente ruidoso…

Mas percebeu por exemplo o chumbo dos Orçamentos e do Relatório e Contas, sobretudo este que seria sempre igual?
O Relatório e Contas tinha de ser aprovado até para bem do Sporting mas acho que quando os associados chumbam um Relatório e Contas é uma manifestação de insatisfação para com a gestão do Sporting, aí sim uma gestão. Temos de dissociar aqui duas coisas: a gestão e a parte desportiva. O Conselho Diretivo está lá para gerir, não está lá para jogar futebol nem para treinar. Em termos de gestão, o nosso último Relatório e Contas da SAD evidencia um prejuízo de 32 milhões de euros e o relatório dos auditores manifesta a preocupação de o Sporting não conseguir cumprir aquilo que são as suas responsabilidades financeiras. Só há uma interpretação para isso, que o Sporting está em risco de falência, de não cumprir. Aliás, as notícias na imprensa normalmente não são notícias a dizer que o Sporting cumpre os seus pagamentos a agentes ou à UEFA, há muitas reclamações nesse sentido. Sei que o principal fator para se obter um financiamento em boas condições é a confiança e notícias desse género e comportamentos desse género em nada beneficiam a confiança que possa haver entre o Sporting e outras instituições.

Não acredita que este próximo exercício da SAD de 2021/22 possa ser o exercício de viragem? Olhamos para receitas de Champions que é cerca de 75% dos custos com pessoal, além das alienações de jogadores como deverá acontecer com Nuno Mendes…
Pode ser. Pelo menos espera-se que o capítulo das vendas e das entradas de dinheiro da Liga dos Campeões venham lá refletidas. Mas existe uma série de despesas e custos que virão também lá refletidos e é essa comparação que teremos de fazer. O serviço de dívida destas obrigações, dos empréstimos dos fundos, há uma série de custos que vão aparecer também aí. E algumas das receitas que foram antecipadas servem para pagar custos que já havia. Temos de ver tudo. Se isso acontecer, é óbvio que ficarei contente por duas razões: porque o Sporting está melhor e porque se for presidente encontrarei um clube que é mais fácil de gerir.

Nesta altura quando olha para o último Relatório e Contas o que é que o preocupa mais? A antecipação de receitas, o aumento da dívida a fornecedores, uma outra coisa paralela que é não encurtar muito o gap nas receitas em relação aos rivais apesar do sucesso desportivo?
Tudo aquilo que disse mas posso pôr por ordem. Os VMOC é o que mais me preocupa…

Parece que não há Sporting sem VMOC…
Não há Sporting sem VMOC e a SAD já não é realmente do Sporting, está ali tomada refém pelos bancos, o Sporting pode resgatar outra vez. Preocupa-me a transformação do passivo a longo prazo em passivo a curto prazo, aquilo que referiu da responsabilidades e da dívida aumentarem a curto prazo, dívidas a um ano por norma. Há uma redução na dívida a longo prazo mas há um grande aumento da dívida a curto prazo e elas compensam-se mais ou menos. A outra é o fosso que existe nas receitas, nas vendas, que não são a mesma coisa porque se referem a documentos contabilísticos diferentes mas para aqui percebe-se. Essa é uma das bandeiras da minha forma de gerir que é dizer que não estou tão preocupado com o corte das despesas mas sim que os enganos das contratações não sejam tão frequentes, o que ficou resolvido desde a entrada de Rúben Amorim porque havia esse fator muito preocupante antes…

Os tais 30 milhões em dois anos que já falou antes…
Por aí, números redondos. Muitas tinham contribuído por exemplo para que este último ano que teve um resultado negativo de 32 milhões fosse diferente. Preocupa-me bastante que na minha gestão exista um aumento de vendas, de receitas.

"O Sporting precisa um balão de oxigénio. Temos de reestruturar a dívida, temos de pagar a quem devemos para estar ao dia porque isso gera mais confiança no mercado e quando nos precisarmos de financiar vamos ter um juro mais baixo"

É por aí que passa o futuro, não é cortar mais custos?
Claro que não, temos de investir. Quando é que a SAD gerou resultados que permitissem depois investimento na SAD? Chegamos ao final do ano, se fosse uma empresa normal, e os acionistas sentavam-se para definir como se distribuíam os dividendos ou se não se vão dividir, ou se é 50% para reinvestimento… Há sempre qualquer coisa para pagar e é isto que tem de acabar. Por isso é que acho que o Sporting precisa um balão de oxigénio. Temos de reestruturar a dívida, temos de pagar a quem devemos para estar ao dia porque isso gera mais confiança no mercado e quando nos precisarmos de financiar vamos ter um juro mais baixo e também porque precisamos de gerir o clube de forma confortável no dia a dia, sem estarmos preocupados e dar melhor condições à nossa equipa e ao nosso treinador no futebol e nas modalidades para que sejam mais competitivos lá fora e não sejamos só campeões nacionais…

Falámos já que Sporting e VMOC são sempre dois termos que andam juntos mas a questão da reestruturação financeira ou da dívida também não é diferente, já há mais de uma década que se fala e vem uma e outra e outra. Foi feita recentemente mais uma. O que é que falhou nesta para não ser a última e o que pode ser feito na próxima para que seja mesmo a última?
Desconheço alguma reestruturação financeira que tenha sido feita no atual mandato e no mandato anterior. Havia um projeto de reestruturação preparado que quando esta Direção entrou não seguiu em frente. Isso sei que havia e tive acesso a esses documentos. A Direção entendeu que não queria e não era obrigada a isso…

E havia também um início de acordo com uma financiadora para a recompra dos VMOC…
Exatamente, estava lá. Havia uma operação triangulada entre o Sporting, uma boutique de investimento e um investidor que iria injetar 160 a 180 milhões de euros no Sporting e isso permitiria ter dinheiro para recomprar os VMOC e ter dinheiro para fazer outras coisas. Havia algo que foi posto no papel e foi assinado, depois não seguiu para a frente.

O que viu era bom, até perante o contexto que existia em 2018?
Aquilo que tenho conhecimento, que me chega e que não é oficial, porque me chega através da imprensa e de pessoas próximas, esse valor de juro era melhor do que aquele que tem sido veiculado que o Sporting tem pago hoje em dia. O Sporting entendeu não fazer isso e portanto não sei de que reestruturação financeira se fala porque as contas…

Foram anunciados alguns pontos à CMVM, nomeadamente baixar a percentagem que reverte para os bancos nas vendas a partir de um determinado valor…
Não chamo a isso reestruturações financeiras…

Portanto, é uma questão de léxico…
Não são, de todo. O Sporting tem de fazer troca de dívida, porque se paga alto aos credores, incumpre-se com os credores, tem de se pagar a esses credores e a dívida que vamos buscar é uma taxa de juro mais baixa do que aquela que o Sporting tem hoje em dia. Isso sim. Depois há aspetos como os VMOC que permitem que fiquem pagas com o dinheiro que se está a pagar. Podemos abdicar de parte dessas ações ficando ainda com mais capital do que temos hoje em dia mas valorizando essas ações com um parceiro estratégico que tenha interesses nesse setor e que valorize uma participação de peso, que tenha assento no Conselho de Administração. Podemos vender essas ações que vamos comprar a 30 cêntimos acima do valor de cotação. Vamos imaginar que haveria uma venda de 25%, o Sporting passava de 88% que terá com a recompra dos VMOC para 63%, que é mais do que tem hoje, que são 62%. Vamos imaginar que eram 200 milhões de euros, o Sporting gasta 40 milhões, fica com 160 milhões mas entretanto vende a este parceiro 25% imagine que por 100 milhões e fica com os 160 milhões na mesma para fazer todos os projetos que tem de fazer.

E uma solução mais fácil, até perante as receitas conseguidas na Liga dos Campeões, de agarrar no dinheiro da venda de Nuno Mendes e recomprar os VMOC?
Não sei é se não há dívidas para fazer face a outras obrigações e se esse dinheiro de Nuno Mendes não está já destinado a alguma coisa…

Mas seria uma solução ideal, certo? Comprar com esse dinheiro, ficar com 88% e depois poder vender parte desse capital sem perder maioria, se for o caso…
Tenho de ser justo e dizer o seguinte: claro que sim, o ideal seria isso, mas pode haver situações que desconhecemos no Sporting de hoje em dia, até processos judiciais, que não sei, ou alguma dívida em incumprimento que possa gerar consequências graves para o Sporting e tenha de ser paga de forma mais urgente do que os VMOC que só vão vencer em 2026. Agora, há aqui um fator muito preocupante em relação a isso…

Ricardo Oliveira garante parceiro que possa trazer 150 a 200 milhões de euros para fazer face ao gap existente no final do mandato com antecipação de receitas

E qual é?
Se o Sporting tiver três anos de antecipação de receitas em relação ao contrato com a NOS, que o presidente do clube me disse no único debate que foi feito que seriam só dois… Tenho de me reportar ao que me foi dito pelo administrador financeiro na última Assembleia Geral da SAD, onde estava Frederico Varandas, onde lhe perguntei e disse que o Sporting tinha dois anos e muito mais de dois anos e meio. Apontámos para os três. O que quer dizer? Se o contrato dos direitos televisivos acaba a 1 de julho de 2028, os direitos televisivos de 2027/28, de 2026/27 e de 2025/26 já foram. Quem chegasse no dia 1 de julho de 2025 já não tinha nenhum dinheiro a receber dos direitos televisivos porque já foram antecipados, tinha de gerir a SAD sem esses direitos. Não confundo Sporting e SAD…

E essa é uma das verbas mais importantes, para o Sporting ou para qualquer clube português…
É, se olhar para os resultados líquidos vai sempre haver lá essa rúbrica e se não fosse esse dinheiro, que imagine que eram 50 milhões deste ano, teríamos 82 milhões de euros negativos. O presidente que entrar não tem receitas a partir dessa fase, tem de dar os jogos na mesma mas de borla. Se é 2025/26 que estamos a falar, o último dinheiro que recebe é de 2024/25, que recebe a 1 de julho de 2024. Os VMOC vencem em dezembro de 2026. Quando é que as vamos comprar? Se se esperar até aí… Ou seja, o Sporting não vai ter 50 milhões de euros em 2025, não vai ter 50 milhões de euros em 2026 e vai ter de comprar por 40 milhões os VMOC. Estamos a falar de 140 milhões de euros que vão ser precisos para que o Sporting continue a sua atividade normal. Onde é que vai buscar esse dinheiro? E se em vez de três se forem só dois anos, são 90 milhões e é um número preocupante na mesma. Os sportinguistas têm de ter noção disto.

É daí que radica a urgência dessa questão?
Os VMOC têm de ser resolvidos, já se fizeram antecipações para tudo menos para isto. Façam negócio, tentem associar isto a um investidor de referência no setor para criarem uma situação de mais valia como esta que estive a explicar, que é agarrar nos VMOC e não precisamos de 88%. Pode haver quem defenda a manutenção dos 88% mas eu pergunto, para quê? O Sporting tem uma posição dominante e aprova o que quer na SAD com os 62%. Podíamos dizer que o Sporting gerava todos os anos resultados líquidos positivos e faz distribuição de dividendos todos os anos, recebe 20 ou 30 milhões. Aí sim, faz diferença mas nunca foi feito. Para a generalidade das coisas e como não se antevê essa distribuição, não há diferença nenhuma.

Dentro desse intervalo entre 62% e 88%, tem algum valor fixo de possível venda?
Depende, claro. Quanto mais alienarmos, mais se gera entre 10%, 15% ou 20%, sendo que os sócios têm sempre de aprovar algo assim e existe aqui todo o trabalho jurídico e financeiro para ser possível…

Há quem defenda que existiu uma decisão em Assembleia Geral que permite vender sem ter necessariamente a autorização dos sócios…
Isso seria a única vez na vida em que poria algum sportinguista em tribunal ou o Sporting em tribunal… Se existe, na minha cabeça não pode existir. Iria ter todos os esforços possíveis para que isso não acontecesse, sendo ou não presidente.

"Podemos vender essas ações que vamos comprar a 30 cêntimos acima do valor de cotação. Vamos imaginar que haveria uma venda de 25%, o Sporting passava de 88% que terá com a recompra dos VMOC para 63%, que é mais do que tem hoje, que são 62%. Vamos imaginar que eram 200 milhões de euros, o Sporting gasta 40 milhões, fica com 160 milhões mas entretanto vende a este parceiro 25% imagine que por 100 milhões e fica com os 160 milhões na mesma para fazer todos os projetos que tem de fazer."

Dentro do contexto dos tais parceiros que podem ajudar com os tais 150 a 200 milhões, não achou arriscado falar nisso numa campanha pelos maus exemplos no passado até no Sporting? E porque é que esses parceiros só trabalhariam consigo?
Houve no passado pessoas que se agarram a chavões desse género para tentar obter votos ou serem eleitos e até parece que houve quem fosse eleito e isso não acontecesse. Não sou esse candidato, a minha vida nos últimos anos tem sido fazer operações desse género, gerir dinheiro, mexer em dinheiro, investir dinheiro, não o meu mas o dos outros. Nessa minha carreira, foi conquistando algumas amizades, foi conhecendo pessoas com muita capacidade financeira, muitas instituições com muita capacidade financeira e fui conversando com elas estabelecendo laços de confiança porque nunca incumpri nem deixei de pagar em qualquer negócio, como sócio ou como representante de quem estava a fazer negócio. É um problema de credibilidade.


Quando me pergunta porque é que essas pessoas não investiriam é porque se calhar sou eu que fomento o interesse dessas pessoas no projeto Sporting, sou eu que vendo a essas pessoas que o Sporting é um projeto rentável para elas e como tal rentável para nós primeiro, e essas pessoas podem entusiasmar-se, podem ter acesso aos números que apresente e as expetativas de como esses números se vão transformar na minha opinião e sob a minha gestão. É algo que não trará só uma parte financeira mas que aportará também algo importante que são as relações com pessoas que se movimentam no mundo financeiro e que podem garantir ao Sporting que se abram outras portas. Agora, não vou chegar aqui como aconteceu há muitos anos com o tal da IBM que ia investir 400 milhões. O que digo é que tenho a capacidade de influenciar pessoas para investirem no Sporting porque lhes vou vender um projeto credível e fruto da experiência de coisas que fizemos juntos têm confiança em mim. Porque não fazem com a atual Direção? Primeiro, não conheço o projeto deles, sei o que fizeram até agora e não iria investir perante o que são hoje as contas…

Ou melhor, poderia investir mas por aquilo que são os resultados desportivos…
Sim, na parte desportiva sim. Se me dissessem que o Sporting sendo campeão vai ter não sei quanto de receita e ponho aqui dinheiro se me pagarem ‘x’ da receita disso, sim. Agora, investir da forma que estou a dizer, ser acionista, aportar o financiamento a longo prazo e a juro baixo, abrir portas e participar naquilo que é o redimensionamento do Sporting para aumentar a sua grandeza e o seu acesso a outros palcos que permitirão bater-se de igual para igual com equipas internacionais, provavelmente estes acionistas vão olhar e vão dizer ‘Mas nós não conhecemos estes senhores e a performance que estes senhores nos demonstram’.

E se Frederico Varandas em caso de eleição o chamasse para dizer ‘Este é o meu projeto, somos todos Sporting, consegues ajudar-me nisto’? O que diria?
Não tenho clivagem com qualquer sportinguista, tentei passar isso…

Ricardo Oliveira anunciou formalmente que iria ser candidato no dia 1 de fevereiro, uma semana depois do previsto por ter contraído Covid-19

Pedro Rocha

Mas sentiu essa clivagem no debate, entre Frederico Varandas e Nuno Sousa…
Somos todos candidatos. Uma das minhas bandeiras da minha candidatura é unir o Sporting e portanto acho que o presidente do Sporting deve ter uma postura de presidente de Sporting, tem de ser um Sporting que fale por todos os sportinguistas, que não determine classes e graus de sportinguistas e conciliador pelo menos entre os sportinguistas. No debate quando assisti às balas e às flechas que iam sendo atiradas, tive de dizer isso porque é muito mais o que nos une do que separa e vamos tentar conversar de uma forma conciliadora. Não quero andar aos tiros com ninguém. Se amanhã o atual presidente do Sporting Frederico Varandas for o vencedor, a primeira coisa é que terei todo o gosto e apertar-lhe a mão e desejar os maiores sucessos porque os sucessos dele são os sucessos do Sporting. Se entender conversar comigo, apresentar-me um projeto para o Sporting e pedir a minha ajuda para captar investimento para o Sporting e se entender que aquele projeto é credível e que estão as pessoas que darão andamento, se o risco não for gigante, estarei sempre disponível. Fica aqui este compromisso. Só quero unir os sportinguistas e para isso é preciso dialogar…

Mas pelo que percebo agora, considera que o risco é grande…
Claro… O risco é uma variável da finança que é muito interessante, às vezes é fácil de calcular e outras nem por isso. Temos o spread que toda a gente conhece mas depois há sempre ali umas coisinhas… É mais fácil estar num setor bastante estudado, que olhemos para as contas e saibamos o risco, já podemos indexar aos riscos AAA e BBB. Mas em cima disso há uns pozinhos. Uma delas é sempre o medo do investidor ou aquilo que ele espera obter. Isso normalmente é proporcional ao risco, de não cumprir aquele acordo. Isso vai lá dentro, umas pessoas que põem mais por cima ou por baixo… O futebol não é o mesmo do que o imobiliário. Olhe, neste momento infelizmente os ucranianos nem o risco do imobiliário é baixo porque pode haver esse perigo… Existem circunstâncias da vida que os cálculos matemáticos não conseguem prever e o risco é assim. A prova de que a gestão não é de confiança é que o juro é sempre alto, até em comparação com os outros…

O all in em Rúben Amorim, um treinador que faz bem até mais do que a sua parte

Pelo futebol, elogios. Para Rúben Amorim, agradecimentos. No entanto, Ricardo Oliveira não esquece o momento em que o técnico foi contratado. “Tenho por hábito nunca comentar qualidade técnica nem de jogadores nem de treinadores. São do Sporting e enquanto estiverem no Sporting são os melhores. Mas comento o negócio financeiro dessas aquisições ou vendas, que é completamente diferente. É óbvio que um analista financeiro que tivesse visto aquela operação teria ficado escandalizado. Treinador que não tinha um clube grande, o nível para estar no banco, 13 jogos de Primeira Liga e custava mais de dez milhões de euros mais um salário que não aconteceria muitas vezes. Sob o ponto de vista financeiro, teve um elevadíssimo risco mas não estou com isso a dizer que o treinador não é bom. O Rúben Amorim naquele momento do tempo financeiramente não era um bom negócio. Hoje, financeiramente é um excelente negócio para o Sporting”, admitiu a propósito do contexto que se vivia em março de 2020.

“O presidente contratou vários treinadores, este foi mesmo um all in. Foi como um jogador que andou no casino a pôr as fichas, foi gastando e gastando e que de repente fez o tudo ou nada. Teve outros treinadores e quando contrata o Silas por exemplo até teve uma apresentação que não foi a mais feliz. Pelo meio tenta contratar mais uns, José Mourinho, Leonardo Jardim e há uns que não se sabe. Jorge Jesus já depois disso, leva umas negas… É um all in porque também não sei quantos iriam aceitar, as alternativas que tinha. E isto não é qualquer desprimor pelo Rúben Amorim, sou a pessoa que mais o elogia em termos de competência como treinador e outras coisas que se calhar nem sequer deviam ser da sua competência mas que felizmente ocupa-se delas com bons resultados. Se esse pode ser um problema? É difícil num modelo profissional bem enraizado dentro de um clube que seja compatível que esse treinador venha e que se ocupe de todas as áreas porque depois também é difícil substituir. Não estou a dizer que não quero, eu quero mas quando o Rúben Amorim se for embora vai ele, vai a equipa técnica dele, vai o Antero Henrique, vai o Raúl Costa e vai uma série de coisas que trouxe com ele. Vai ficar um vazio muito grande…”, destaca.

Rúben Amorim

Ricardo Oliveira considera que Rúben Amorim é a chave do sucesso desportivo e admite que clube possa ficar refém da importância do treinador

Getty Images

“Se abriu portas? Nas boas contratações, certamente. Há dois níveis de contratações no Sporting: aqueles jogadores cirúrgicos que vêm a um preço bastante acima para o Sporting e esses são trazidos, tenho quase a certeza, pela equipa do Rúben Amorim e depois temos outros negócios de dez ou 20 milhões que são trazidos por outra pessoa que tem uma relação com o Sporting há muito tempo e a quem se fazem contratações que às vezes não percebemos muito bem se são para compensar a outra que se fez ou não se fez… Eu gosto mais das contratações da equipa do Rúben Amorim mas repare no vazio que fica quando se for embora. Um clube que tenha um modelo estruturado e capacidade financeira normalmente não tem esse modelo, contrata só um treinador. Aqui não será apenas um treinador a sair, sairá muita coisa e os vazios que lá estão vão implicar uma série de contratações que dificilmente vai suprir o vazio e com a qualidade que traz”, frisa.

É neste contexto que o gestor faz uma divisão naquilo que gostava de ver refletido nas urnas a 5 de março: que os associados leoninos não votassem no sucesso desportivo do treinador mas sim no trabalho a todos os níveis do presidente leonino. Mais: concorda com a ideia que o fenómeno Rúben Amorim foi de tal forma forte ao longo de dois anos (cumpridos em dia de eleições) que o clube se tornou quase “refém” dele.

“Olhando para os dois primeiros anos, entre todas as contratações não há um que calce, foram-se e levaram 30 milhões que são mais, falo apenas dos custos das operações. No final desses dois anos, havia lenços brancos no estádio, criaram-se slogans para o presidente, existiam manifestações de milhares de pessoas que não queriam mais Frederico Varandas ali. Havia este ambiente em Alvalade, ninguém estava unido à volta da equipa, ninguém estava unido à volta de nada. Rúben Amorim chega num jogo dúbio mas era preciso dar tempo. Nesse mercado de verão, começa a meter o seu know how e muda tudo. Rúben Amorim é uma pessoa simpática, sempre de sorriso na cara, seja a altura que for… Gere tudo, aqueles jogadores quando entram em campo dão a vida pelo treinador e pela equipa, deixam tudo. O clube está refém de Amorim e não tenho dúvidas que quando forem as eleições as pessoas que votarem no presidente Frederico Varandas estão a votar no Rúben Amorim. Por isso é que vou sempre repetir o mesmo: não votem no Rúben Amorim porque ele vai lá estar, ele é funcionário da SAD do Sporting e votem numa pessoa que lhes dê soluções para os problemas a curto prazo e que tem um projeto para o futuro, o Rúben está assegurado, está lá”, garante.

"O clube está refém de Amorim e não tenho dúvidas que quando forem as eleições as pessoas que votarem no presidente Frederico Varandas estão a votar no Rúben Amorim. Por isso é que vou sempre repetir o mesmo: não votem no Rúben Amorim porque ele vai lá estar, ele é funcionário da SAD do Sporting e votem numa pessoa que lhes dê soluções para os problemas a curto prazo e que tem um projeto para o futuro, o Rúben está assegurado, está lá"

“O próprio entrar no Sporting, ser presidente e a abordagem a Rúben Amorim dentro do sistema que está montado certamente será um projeto em si de muita negociação porque não podemos chegar, entrar e dizer que as regras são esta, esta e esta. Aquela fórmula está a funcionar, está a ganhar. Hugo Viana? Eu tenho um homem forte para o futebol mas não vou falar nisso porque o Hugo Viana também é funcionário da SAD e o treinador não ganha jogos sozinhos, há todo um projeto fora do campo com pessoas que se têm de entender, que têm de comunicar. Acho que muito do modelo em prática, se não for todo, é de Rúben Amorim. O Sporting precisa ter um modelo próprio, não pode ficar refém do modelo do treinador. Até pode ser parecido mas tem de ser um modelo de identidade Sporting e no dia em que o Rúben Amorim teremos de ir buscar um treinador com as mesmas características ou parecidas com as dele para se adaptar ao modelo implementado. O problema é que ele não é só o modelo, é uma série de coisas e será muito difícil substituir Rúben Amorim e continuar a ter resultados bons”, realça em mais uma visão sobre o “segredo” do futebol.

“Ganhámos o Campeonato, acredito que ainda lutamos pelo título apesar de todas as forças que inclinam o campo mas em 1999/00 e 2001/02 o Sporting também foi campeão, esperava-se que o Sporting fosse disparar mas ficámos mais 19 anos sem ganhar. O que não quero é ficar mais 19 anos sem ganhar. A sustentabilidade desportiva precisa de ter sustentabilidade financeira. A segurança desportiva precisa de segurança financeira. Aposta no sucesso desportivo? É uma pescadinha de rabo na boca, claro. É mais fácil ir buscar dinheiro com o sucesso desportivo, não se podem separar. Quando tivermos uma segurança financeira, nada garante que vamos ganhar a Liga dos Campeões mas garante que temos mais chances na Liga dos Campeões. Agora, a parte desportiva sem dinheiro não vai ganhar nunca”, conclui sobre o tema.

O projeto de uma Cidade do Desporto com inspiração norte-americana (e sem Alcochete)

A conversa segue depois para a formação e para um ponto de clivagem no debate entre Frederico Varandas e Ricardo Oliveira. Por um lado, o modelo centrado no jogador que o Sporting adota e que já mereceu até um reconhecimento internacional por parte da Associação de Clubes Europeus (ECA), que em muitos casos vai colocando jogadores mais novos em escalões acima para acelerar o processo de crescimento; por outro, a necessidade de haver um crescimento com o culto de vitória para criar uma mentalidade diferente.

“O Sporting é um clube de formação, não temos dúvidas. Esse é o modelo que desconheço, calculo que seja do Rúben Amorim para retirar isso dos jogadores de formação, implementando esse método. Se fosse algo aceite de forma universal, todos faziam isso mas não fazem. O Sporting faz. Não discuto que possa até criar um melhor jogador a nível individual em certos aspetos. Se treinar um carro a 100km/hora e só andar com quem anda a 100km/hora, não vou aprender a guiar a 300km/hora. Entendo o conceito mas temos o aspeto psicológico da formação, aquele que é o lançamento nos últimos segundos, o que é um campeão como o Michael Jordan. Toda a gente sabia que a bola ia para ele, podiam pôr quatro em cima dele que ia na mesma. Era aquela frase do Phil Jackson, ‘winners always want the ball‘. Para querer a bola, tem de criar confiança e o Jordan não construiu a confiança que tem naquele ano, foi um trajeto. Foi campeão em North Carolina, sofreu adversidades, não foi o número 1 do draft mas criou-se um vencedor puro, um animal competitivo e nunca o puseram dois anos acima. A mentalidade vencedora tem de ser criar. Fui desportista de alta competição desde muito cedo e aprendi logo, ganhei o campeonato no bairro, na cidade, na região, no país, lá fora e foi por isso que sempre me senti confortável nas decisões. Há jogadores que até podem ser moles, andam desligados e depois aparecem. São esses que fazem a diferença”, explica.

Ricardo Oliveira, aqui na chegada à apresentação oficial da candidatura, considera que Cidade do Desporto poderá custar 100 a 150 milhões de euros

Pedro Rocha

E esse acaba por ser o mote para a parte final da conversa, ligada a um outro projeto bandeira que passa por uma Cidade Desportiva com muito do que é o conceito dos EUA adaptado à realidade nacional.

É alguém que tem muita ligação a essa cultura norte-americana, até pelos anos em que viveu lá, e tem também no seu projeto a Cidade Desportiva Sporting. O que é que já existe em termos concretos disso? É só uma coisa conceptual?
Se calhar é uma visão muito de quem viveu uma experiência americana, se calhar é. Fui jogador da First Division, numa universidade que por acaso nessa altura era a número 1 do ranking, ganhámos… Os americanos têm o desporto organizado de uma forma que gosto e que considero ser a forma certa. Estão na universidade mas já são profissionais, é tudo a trabalhar e a estudar para a transição ser depois mais fácil. No futebol americano já só ganham peso e músculo, por exemplo. Em qualquer universidade se vê isso, na primeira em que estive em Oklahoma o Dome deles onde jogava a equipa de basquetebol tinha 11.000 espectadores e era uma em 4.000 universidades na altura. Os centros desportivos têm dez ou 12 campos de basquetebol que depois passam para o voleibol, há os campos do futebol americano… É óbvio que estamos a falar de universidade mas aqui para mim o importante é a infraestrutura e as sinergias.

É assim que concebe, as infraestruturas como nos EUA mas adaptado à formação…
Exatamente isso. Para financiar, volto a dizer: para bons projetos há sempre financiamento e o Sporting tendo uma Cidade do Desporto que seja a maior, que seja a referência, que nem o governo português tenha algo daquela dimensão e que se torne a casa da formação do Sporting para ser referência nacional e internacional, pode até ser algo lucrativo ou que pelo menos não dê prejuízo, que seja pago ao longo do tempo. O Sporting também tem uma responsabilidade social e nesses locais podemos aportar essa mesma responsabilidade. Uma zona perto de Lisboa, que tenha transportes, que faça com que os pais não tenham de fazer deslocações, daí que olhe para opções como Oeiras ou Odivelas. Depois, é preciso ver o contexto…

"Pelo que sei da minha equipa e de pessoas que conheci e que conheço e que fazem parte das minhas relações nos EUA, uns que são arquitetos e engenheiros de infraestruturas desportivas, outros que geriram e construíram instalações desportivas e a nível de sports management, as estimativas por cima aplicadas ao mercado português estão entre os 100 e os 150 milhões de euros."

Mas quanto é que algo assim poderia custar, em termos práticos?
Uma Cidade do Desporto? Pelo que sei da minha equipa e de pessoas que conheci e que conheço e que fazem parte das minhas relações nos EUA, uns que são arquitetos e engenheiros de infraestruturas desportivas, outros que geriram e construíram instalações desportivas e a nível de sports management, as estimativas por cima aplicadas ao mercado português estão entre os 100 e os 150 milhões de euros. Mas não é tudo pago no primeiro dia, leva seis anos a construir e não são todos pagos pelo Sporting, a autarquia pode pagar alguma coisa, o governo pode pagar alguma coisa…

Mantendo sempre Alcochete?
Não, não, não… Alcochete vai servir para a triangulação do negócio, Alcochete vai funcionar enquanto isto não estiver pronto e vai servir de moeda de troca para aplicar o que Alcochete render em venda ou em desenvolvimento de projeto imobiliário, ou se criarem ali um aeroporto com a valorização dos terrenos para fazer face às dívidas deste projeto até estar concluído. A equipa de futebol profissional vai para lá… Sim, é uma área muito grande e por isso é que ao pé de Lisboa só há duas autarquias possíveis. Mas Alcochete está muito mal distribuído. Diz-se que para construir um campo de golfe são necessários 65 hectares mas Tróia, que é o melhor campo em termos de layout para mim, foi construído em 45. Temos aquela área mas com as coisas bem espalhadas. Vai ser um espaço otimizado, com toda a formação e com a parte profissional a ter a sua área. Isso gera sinergias, a mentalidade dos mais novos a ver os mais velhos… Partilhar? Estaria disposto a partilhar o know how todo. Como já disse, estou disponível para ser presidente de todos os sportinguistas. A minha ideia é unir o clube e que todos percebam que são bem-vindos, todos mesmo. Estarei sempre disponível para partilhar qualquer solução. Eu não ajudo Frederico Varandas ou outro, ajudo o Sporting. Agora, também digo que não vi até hoje da parte do presidente do Sporting uma atitude de chamar o conhecimento dos outros a ele e será algo improvável de acontecer…

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