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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Os relatos de quem sobreviveu e de quem salvou vidas nos incêndios de Pedrógão Grande

A parte do capítulo do relatório sobre Pedrógão Grande divulgada na sexta-feira pelo Governo revela pequenos relatos de quem sobreviveu e de quem salvou vidas nos incêndios de Pedrógão Grande.

Já passava das 20h15 da noite. Labaredas de um lado, chamas do outro. Ladeados de fogo, seguiam, a uns possíveis 20km por hora, Francisco (nome fictício) e outros dois colegas da Equipa de Reconhecimento e Avaliação da Situação, da Força Especial dos Bombeiros, pela estrada que ia dar ao Outão. Foi então que, perto da aldeia de Ramalho, e “no meio do fumo”, avistaram, “caída no asfalto”, uma criança inconsciente. Estava de calções, t-shirt e sandálias, não tivesse sido o 17 de junho o dia mais quente deste ano. Este é o início de uma das histórias contadas no capítulo seis do relatório sobre os incêndios de Pedrógão Grande, cujo alguns pontos foram divulgados na sexta-feira pelo Governo.

As partes que permanecem ocultas ou rasuradas, que são ainda muitas, serão divulgadas em breve aos familiares das vítimas. Voltando à história de Francisco e aos dois colegas que encontraram a criança, os três rapidamente se dirigiram até ela e perceberam que tinha “queimaduras na parte posterior do braço e nas pernas” e que “tinha dificuldades respiratórias”. Pegaram na criança ao colo, levaram-na para dentro da 4×4, fizeram inversão de marcha, e voltaram a Pedrógão Grande, a uns 10 longos quilómetros dali. No caminho, Francisco ligou para o posto de comando operacional (PCO), mas a resposta chegou do coordenador aéreo do helicóptero da Força Aérea a quem informou que precisava de uma equipa médica “com urgência e que ia para Pedrógão Grande”. As localidades em Outão já tinham sido tomadas pelo fogo.

Nova chamada do Comandante das Operações Aéreas: deviam ir para a zona industrial, onde viriam a estar cerca de uma hora, e onde a criança recebeu assistência médica. Mas o trabalho dos três bombeiros, que tinham saído do posto de comando pelas 20h00, e que antes desta criança já tinham ajudado a retirar carros de civis parados na estrada nacional 350 — cortada pelo fogo –, estava longe de estar concluído. A ideia era fazerem o reconhecimento do perímetro do incêndio que tinha começado nessa tarde em Pedrógão Grande e que não mostrava qualquer sinal de vir a dar tréguas.

A paragem seguinte seria Vila Facaia, a mando do Comandante Nacional. Os ponteiros batiam nas 22h00 quando saíram para a nacional 236-1. “Com tudo a arder em redor” chegaram à Barraca da Boavista onde encontraram, numa garagem, quatro ou cinco idosos, um dos quais com queimaduras no braço direito. Francisco voltou a pedir socorro. Chegaram algumas ambulâncias que já estavam a ir para Castanheira de Pera e “mais duas ou três que fizeram a evacuação das pessoas que não tinham queimaduras graves”. Idosos a salvo, regressaram à mesma 236-1. E foi aí que o cenário piorou. Começava ali “todo o procedimento de levantamento dos corpos que iam vendo”, lê-se no extrato do, inicialmente oculto, capítulo seis do relatório independente sobre os incêndios de Pedrógão Grande, que foi divulgado nesta sexta-feira à noite.

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O primeiro corpo estava logo junto ao tronco do pinheiro caído. “Nesse troço contaram 19 ou 20 corpos e fizeram essa comunicação, uma vez que não conseguiram falar diretamente para o PCO (não tinham rede telemóvel e o SIRESP também não permitia fazer isso), para Lisboa, via rádio.” Disseram as coordenadas do sítio onde estavam, “o cenário que tinham encontrado até ali e o número de vítimas mortais que já tinham conseguido contabilizar”. Francisco informa que “identificaram 19 vítimas, de pessoas nesse troço, mas que o número seria superior”. Eram 22h30. “Já não havia nada a arder, nem carros”. Nem mais ninguém. “Havia muito fumo.”

"T103 indica que identificaram 19 vítimas, de pessoas nesse troço, mas que o número seria superior. Isto pelas 22:30, já não havia nada a arder, nem carros. Havia muito fumo. Nessa altura não havia ninguém, passado 15 minutos passou uma patrulha da GNR. As instruções que receberam de Lisboa foi para continuarem aquela missão."
Capítulo 6 do relatório de Xavier Viegas

Só passado um quarto de hora passou uma patrulha da GNR e quatro ou cinco ambulâncias que queriam ir para Castanheira de Pêra, onde as chamas também lavravam, mas que não conseguiram passar por causa do pinheiro e dos carros abandonados na estrada. “Durante esse tempo não viram nenhuma viatura de combate.” Prosseguiram com a missão que lhes tinha sido adjudicada naquele final de dia: “ver se havia mais casos de vítimas mortais”. E assim seguiram para Vilas de Pedro, onde encontraram dois corpos. E, ao lado, uma senhora com queimaduras numa mão, “consciente” mas que “não reagia”. A GNR também lá estava. Francisco mandou vir uma ambulância que chegou passados 20 a 25 minutos. Os dois corpos ficaram tapados, com um perímetro de segurança de 20 metros.

Os três bombeiros iam sempre dando coordenadas e comunicando o número de pessoas que iam encontrando. Quando não era possível contactar o comando operacional, informavam o nacional, “via rádio ou via telemóvel quando tinha rede”. E por volta das duas ou três da madrugada de sábado para domingo voltaram ao comando, a Pedrógão Grande, para entregar os dados que tinham. “Nas zonas onde andaram já estava tudo queimado em redor.”

Ao nascer do dia encontraram mais mortos em Nodeirinho. Foram confirmar outros casos a Balsa. E pelas 11h00 de domingo foram à Moita, “onde estaria um casal de idosos” que foi “mais tarde identificado pelo filho do casal”. E ainda a Pobrais.

“Encontrei dez corpos. Quatro ali, três lá em cima, outros dois ali…”

Perto do IC8 comunicaram outra vítima e por volta do meio dia de domingo, dia 18, “perceberam que a maior parte das vítimas estavam identificadas”. Entregaram o ficheiro no comando operacional. “Missão concluída.”

O adjunto responsável por um dos primeiros registos na fita do tempo. 19h25

Antes de Francisco, já o adjunto Paulo (nome fictício) tinha iniciado a sua missão. Foi “um dos primeiros Bombeiros a sair do quartel em Pedrógão Grande para se dirigir ao incêndio de Escalos Fundeiros, quando foi dado o alarme”, levando consigo um funcionário da Câmara de Pedrógão Grande que já tinha sido bombeiro e conhecia bem o terreno.

Apercebeu-se logo de uma circunstância que “complicou muito a situação”: antes de Valongo, num vasto terreno, tinha sido feito um corte do eucaliptal, mas os resíduos “muito secos” tinham sido deixados no chão. “Com a chegada do incêndio e de um vendaval que se registou depois das 19h00, houve uma grande quantidade de resíduos a arder que se espalharam por uma vasta área, criando centenas de focos secundários”, lê-se no capítulo agora divulgado.

Por onde ia passando, muitos lhe pediam ajuda: os populares pediam-lhe que “ficasse a defender as suas casas”. Explicou mais do que uma vez “que o seu carro não dispunha de água e que estava a colocar meios que iam chegando”. Passou “dentro do fogo”, próximo das Fontainhas e, na volta de reconhecimento, quando se dirigia para Mosteiro “deparou-se com dois homens junto de uma viatura todo-o-terreno acidentada” numa das curvas da estrada.

O bombeiro parou a viatura sem sair dela, abriu as portas e disse-lhes para entrarem. Apareceu, nesse momento, outro homem. Todos tinham queimaduras e um deles estava ferido, tendo Paulo pedido “imediatamente a vinda de ambulâncias”. Esse pedido, registado pelas 19h25, foi um dos primeiros pedidos de socorro que está registado na fita de tempo. Um dos três homens, o que conduzia o todo-do-terreno, “perdeu a visibilidade” com “o fumo e o fogo” e despenhou-se contra um muro. O despiste também terá sido provocado por o “rebentamento de um pneu”, segundo o relatório.

O bombeiro Paulo conta então que transportava os três feridos quando o carro ficou “completamente rodeado pelo fogo”. Ao contrário de “outras situações que o bombeiro tinha vivido” em que “se percorre uma determinada extensão da estrada com chamas, mas depois sai-se dela, neste caso, o incêndio ia acompanhando a viatura e andando pelo menos tão depressa como ela”. Segundo consta do documento, a sensação dos três era de que “não havia meio de saírem do fogo e sentiram que aquele seria o seu fim“.

O bombeiro Paulo (nome fictício) conta que tanto ele como os feridos que levava no carro sentiram que "não havia meio de saírem do fogo e sentiram que aquele seria o seu fim".

Apesar disso, conseguiram chegar ao centro da aldeia de Mosteiro e encontraram uma médica que os ajudou. Pouco depois, chegaria o INEM de Figueiró dos Vinhos. A tripulação insistia que só levaria um dos feridos, mas o bombeiro insistiu que fossem levadas as três pessoas que ajudou. E assim foi: o ferido mais grave seguiu na maca, os outros dois sentados. Apareceram então mais seis pessoas — uma mulher com as duas filhas e outra mulher com um filho bebé e a sua mãe — que não estavam feridas, mas queriam fugir do incêndio. Seguiram na viatura do bombeiro Paulo, que acabaria por sair de Mosteiros com uma pequena caravana de carros atrás, onde seguiam “20 a 30 pessoas”. Aconselhou-os para não saírem dos carros durante o percurso e disse-lhes para não pararem.

Seguiram para Campelos e, pelo caminho, o bombeiro convenceu mais dois carros a inverterem a marcha e a seguirem atrás dele. Acabaram por parar no lugar de Adega, junto ao café. Mas a ambulância começou a arder e o bombeiro Paulo foi forçado a passar a maca para a sua viatura. Por sorte, havia uma carrinha de nove lugares de transporte de doentes no local, para onde passou as restantes pessoas. Conseguiram chegar ao Centro de Meios Aéreos de Figueiró dos Vinhos, onde uma viatura de emergência médica recolheu os feridos. O fumo em redor do Centro de Meios Aéreos não permitia ao helicóptero aterrar, tendo sido decidido que a carrinha e o veículo de emergência seguiriam para Avelar.

O bombeiro tentou então voltar ao posto de comando. Entrou na Estrada Nacional 236 (a chamada então “Estrada da Morte”) numa altura em que “o fogo já tinha passado”, mas havia “um grande braseiro e muito calor e fumo”. Num determinado momento “viu um vulto de uma pessoa em pé no meio da estrada, mesmo ao lado do vidro do carro e quase encostado a ele.” Era uma mulher “que estava queimada.” Sem sair do carro “por causa do extremo calor e desconforto que existia lá fora”, abriu a porta por dentro e “disse à senhora para a entrar.”

Paulo acabou por ver o aglomerado de carros a arder no troço do acidente e virou em direção a Barraca, onde avistou outra vítima, que estava “à espera de familiares”. O bombeiro recolheu essa vítima e dirigiu-se para Pedrógão Grande, onde deixou as duas mulheres com queimaduras para serem tratadas.

Os relatos de sobreviventes

O excerto do relatório revelado pelo Governo esta sexta-feira também tem pequenos relatos de sobreviventes. José (nome fictício) chegou a casa, em Vila Ficaia, no dia 17 de junho às 19h00. Ao chegar, foi tomar um banho e, enquanto se vestia, sentiu o vento e a queda de “velhas” (partículas incandescentes mas em combustão lenta ou apenas a fumegar). Meia hora depois decidiu ir até à aldeia da Graça “para ver o aspeto do incêndio”. Sentiu, por essa hora, uma forte rajada de vento. Decidiu então voltar para Vila Ficaia para proteger a sua casa e a que ficava em frente. Entretanto, ficara sem eletricidade, mas ainda tinha “água da rede”. Com os escassos recursos que tinha foi “apagando os pequenos focos que iam aparecendo” e acabou por conseguir salvar ambas as casas.

Maria, outra das sobreviventes, também chegou a Vila Ficaia por volta das 19h45. A sua casa é de alvenaria (tijolos) e situa-se num primeiro andar. Ao aperceber-se da aproximação do fumo “foi à janela para apanhar a roupa que estava no estendal”. Depois fechou decidiu fechar a janela, embora não soubesse se deveria ou não fechar os estores, acabando por optar deixá-los abertos. Ao abrir a janela, deixou entrar “muito fumo dentro de casa”. Nesse momento viu que já não corria água nas torneiras e, pouco depois, faltou a luz.

Ao ver um “clarão do incêndio no exterior que a assustou” Maria decidiu refugiar-se nas escadas, que “são de pedra e dão diretamente para a porta da rua”. Nesse momento, “ouviu uma grande zoada no exterior e pôs-se a rezar, à espera que passasse“. Pouco depois, abriu “a porta da rua para ver o que se passava no exterior e viu que havia muito vento”.

Ao ver um "clarão do incêndio no exterior [da casa] que a assustou" Maria (nome fictício) decidiu refugiar-se nas escadas, que "são de pedra e dão diretamente para a porta da rua". Nesse momento, "ouviu uma grande zoada no exterior e pôs-se a rezar, à espera que passasse". 

Mais tarde “voltou a abrir a porta” e caminhou pela rua onde encontrou “uma pessoa que estava queimada e lhe pediu ajuda”. Maria ligou para o 112, mas não obteve resposta. A pessoa pediu-lhe água e Maria lembrou-se que costumava guardar uma garrafa de água de reserva no autoclismo. Subiu a casa para a ir buscar, e deu-a à pessoa. Mais tarde, às 21h30, passou um veículo de comando tático dos bombeiros que “parou mas disse que não podia levar o queimado, pois já levava outras pessoas para o Centro de Saúde de Figueiró dos Vinhos”.

Perto dali, na aldeia Pobrais, Luís (nome ficíticio) e a sua esposa “viram sair da aldeia um grande número de pessoas nos seus carros”, mas decidiram “manter-se para defender a sua casa”. Entendeu que a habitação “oferecia boas condições de segurança, mas em sua volta havia alguns quintais de vizinhos que tinham muito material incandescente”.

Recorrendo a mangueiras e, mais tarde, a baldes de água, Luís conseguiu apagar focos de incêndio nos terrenos em volta e nos quintais vizinhos, “tendo conseguido salvar não apenas a sua casa, mas a do seu vizinho”. Um casal vizinho não teve a mesma sorte e viu a casa arder. Outro dos seus vizinhos, que morava um pouco mais da abaixo da sua rua foi um dos 64 mortos dos incêndios de Pedrógão Grande.

A casa acabou por arder e ruir, provocando a morte do seu ocupante. Em Vila Ficaia morava ainda um bombeiro que tinha “uma agenda ocupada” no dia 17: ia levar os filhos a diversas atividades e ia a casa de amigos. Para poder cumprir os afazeres familiares, pediu ajuda ao cunhado. Deixou-o na Aldeia da Cruz e voltou a Vila Ficaia, para ajudar a família. Quando chegou viu que a sua mulher estava a prestar socorro a uma vítima com queimaduras. “Como a ambulância que haviam solicitado tardava em chegar, pegou no seu veículo e dispôs-se a levar a pessoa queimada para Pedrógão Grande, para receber tratamento”, conta o relatório.

Conseguiu e quis voltar a Vila Ficaia para recolher mais pessoas. A GNR quis impedi-lo de entrar no IC8, mas ao explicar que “estava a tentar salvar pessoas queimadas e que tinha o conhecimento de que havia pessoas feridas no lugar de Adega, os agentes deiaxaram-no prosseguir”, embora deixassem claro que o estava a fazer “por sua conta e risco”. Ao regressar a Vila Ficaia, recolheu mais pessoas que transportou para Pedrógão Grande para serem socorridas.

Governo divulgou parte do relatório e só vai revelar tudo às vítimas

O Governo divulgou esta sexta-feira alguns pontos do capítulo 6 do relatório realizado pelo Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais sobre os incêndios de Pedrógão Grande, que caracteriza as circunstâncias em que cada uma das vítimas morreu. Esses pontos, que foram autorizados a ser divulgados, fazem uma análise detalhada a casos de sobrevivência, a vítimas mortais encontradas e a problemas nas comunicações.

Capítulo oculto divulgado esta sexta-feira, mas só a parte autorizada

Os pontos em causa no relatório elaborado pelo Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, analisam várias situações, entre elas casos de sobrevivência por as pessoas terem permanecido em casa ou em tanques de água, alguns feridos que foram socorridos, as pessoas que foram encontradas já sem vida, mas salvaguardam a identidade dos envolvidos, bem como alguns dos locais onde ocorreram as situações.

Uma das informações que é possível consultar é o local e as circunstâncias em que foram apanhadas as vítimas mortais dos incêndios de junho. Apenas quatro estavam dentro de casa ou de outras estruturas, 11 estavam a pé fora de casa e a esmagadora maioria estava ou dentro do carro, 31, já fora do automóvel, 16. Estes casos ocorreram sobretudo na Estrada Nacional 236 e em vias de acesso. O documento refere um morto por causa não especificadas, num mapa que só contabiliza 63 vítimas onde são mostrados os locais onde as mortes ocorreram.

A Comissão Nacional de Proteção Dados (CNPD) vetou a publicação integral do capítulo 6 do relatório elaborado por Domingos Xavier Viegas sobre os incêndios de Pedrógão Grande, permitindo apenas que os familiares das vítimas tenham acesso à informação. Apesar do veto, a Comissão Nacional de Proteção Dados autorizou a publicação de alguns pontos do capítulo 6, desde que previamente sejam colocados no anonimato “alguns elementos que podem permitir indiretamente a identificação dos intervenientes” e que “cada um dos intervenientes der o consentimento”.

O ministro Eduardo Cabrita já disse que, a partir da próxima semana, os familiares diretos passarão a ter acesso às partes do relatório que lhe dizem respeito e a partir desta sexta-feira serão publicados esses três pontos do capítulo seis, salvaguardando o anonimato das vítimas. Recorde-se que o próprio autor do estudo, Xavier Viegas, já pediu ao Governo para divulgar o capítulo seis, sublinhando que “era de toda a justiça para o país saber o que se passou”.

Também a AVIPG já pediu a divulgação do capítulo. Em entrevista ao Expresso, o coordenador do relatório já tinha considerado este capítulo “o mais importante do relatório”. Também disse que, no seminário “As Lições de Pedrógão Grande”, que realizará em Coimbra, a sete de dezembro, vai “relatar o que foi investigado”. Não era uma promessa de ignorar a decisão da CNPD mas a garantia de que abordaria com alguma liberdade a informação recolhida. Contactado pelo Observador, Xavier Viegas disse que não se vai pronunciar, para já, sobre a decisão da CNPD.

Só “daqui a uns dias” o professor universitário dirá se revela ou não informações sensíveis do seu relatório. Foram elaborados outros dois relatórios sobre os incêndios florestais que lavraram em junho na zona de Pedrógão Grande (distrito de Leiria) e em concelhos vizinhos: um da comissão técnica independente nomeada pela Governo, coordenado por João Guerreiro, e outro da responsabilidade do Centro de Estudos e Intervenções em Proteção Civil e coordenado por Duarte Caldeira, ex-presidente da Liga dos Bombeiros.

O incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande e alastrou a outros concelhos, em junho deste ano, provocou, segundo a contabilização oficial, 64 mortos e mais de 250 feridos. Registou-se ainda a morte de uma mulher que foi atropelada quando fugia deste fogo.

Quando o relatório foi divulgado a resposta dos especialistas pode ser dividida em duas partes: as previsões meteorológicas previstas para aquele período não foram devidamente tomadas em consideração pelas autoridades responsáveis e a resposta ao incêndio não foi a que se exigia.

Rui Esteves, que em setembro deste ano se demitiu do cargo de Comandante Nacional da Proteção Civil, não escapa ileso às críticas dos técnicos independentes, depois de ter atribuído o controlo das operações ao segundo comandante, Albino Tavares — que o substituiria, meses mais tarde, no cargo. “Na pior e mais fatídica ocorrência no País provocada por incêndio florestal, tendo estado presentes as mais altas individualidades do país, esta operação de socorro exigiria a presença dos operacionais mais qualificados, designadamente do Comandante Operacional Nacional (CONAC), que deveria ter mantido a avocação desta operação de Socorro”, pode ler-se no relatório. Não foi isso que aconteceu.

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