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"O que posso formular é um desejo muito sincero de que o PSD possa estar preparado para os tempos que aí vêm", limitou-se a dizer Passos

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

"O que posso formular é um desejo muito sincero de que o PSD possa estar preparado para os tempos que aí vêm", limitou-se a dizer Passos

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Passos sai de cena com presente armadilhado para Montenegro

Mesmo dizendo que "este tempo" pertence a Luís Montenegro, Passos acabou por obrigar direção do PSD a reagir a um tema que julgava enterrado - o Chega. Apoio tímido à atual liderança foi intencional.

A notícia começou a correr na véspera. Pedro Passos Coelho tinha sido notificado por WhatsApp para depor como testemunha no julgamento de Manuel Pinho, à boleia do “Caso EDP”. Alguns dos seus mais próximos foram fazendo circular a tese de que o antigo primeiro-ministro aproveitaria o momento para não deixar nada por dizer. Na manhã seguinte, terça-feira 19 de dezembro, Passos cumpriu o guião que tinha definido: sair de cena (“este tempo não me pertence”), manifestar apoio ao PSD (sem grande foguetório) e apontar diretamente a António Costa (“apresentou a demissão por indecente e má figura”). Seria de esperar que fosse o suficiente para dar balanço a Montenegro, mas não foi isso que aconteceu: na semana que o líder do PSD escolheu para desembrulhar a nova Aliança Democrática, Passos deixou, voluntária e involuntariamente, um presente armadilhado a Montenegro.

Desde logo, porque existiu uma sobreinterpretação mediática e política das palavras do antigo primeiro-ministro a propósito de coligações ou não com André Ventura. Enquanto prestava declarações, à porta do Tribunal Criminal de Lisboa, os jornalistas iam perguntando sobre eventuais alianças com o Chega. Nunca respondendo a essas perguntas, e sem interromper a linha de raciocínio, Pedro Passos Coelho limitou-se a concluir: “Precisamos de um governo esclarecido, que tenha um rumo bem definido e força. Vai depender das estratégias que os partidos venham a definir e das condições que os portugueses ofereçam aos partidos que terão a responsabilidade de governar. Espero que ambos tenham uma aguda consciência da importância dos tempos que aí vêm e que seja possível fazer um governo que tenha autoridade moral. E a força só pode ser dada pelas pessoas, pelos eleitores, para que se faça o que é necessário fazer.”

Ora, a referência a “ambos” os partidos e o facto de Passos estar a responder a esta questão enquanto os repórteres ali presentes tentavam introduzir o tema do Chega foi interpretada como sendo Pedro Passos Coelho a pressionar Luís Montenegro a inverter a estratégia e a fechar eventuais alianças com André Ventura. O Observador sabe, no entanto, que nunca foi essa a intenção do antigo primeiro-ministro: apesar das convicções que tem sobre esta matéria, Passos nunca apareceria em público a fazer fogo amigo nesta matéria; limitou-se a despachar a questão para as direções partidárias, que têm o dever (e o direito) de definir as estratégias que bem entenderem.

Coisa diferente é o entendimento que Passos tem sobre esta questão. O Observador sabe que o antigo primeiro-ministro sempre considerou um erro de palmatória que se traçassem cordões sanitários em torno do Chega por entender que é uma cedência à agenda do PS e dos partidos à esquerda do PS, uma concessão que limita as hipóteses do PSD de regressar ao poder, e que pode acabar por alienar, inevitavelmente, eleitores essenciais, arriscando o descalabro. De resto, a discordância em torno da estratégia que deveria ser seguida em relação a Ventura foi uma das primeiras dessintonias entre Passos e Montenegro, o primeiro irritante de uma relação que começou bem (os dois a posarem juntos, no calor da Festa do Pontal) e que está gelada neste momento.

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Em boa verdade, Montenegro sempre torceu o nariz a eventuais acordos com o Chega. Em 2020, na primeira vez que se candidatou à liderança do PSD, repetiu várias vezes que o PSD “não tinha condições para fazer qualquer entendimento com o Chega” e que não contava com André Ventura para eventuais alianças. Todavia, quando chegou à presidência social-democrata, dois anos depois, Montenegro começou por optar por uma estratégia menos fechada, recusando-se a nomear o Chega e ‘limitando-se’ a dizer que não contava com “políticos racistas, xenófobos, oportunistas e populistas”. Não resultou.

A relativa ambiguidade tornou-se tema central de todas as entrevistas a Luís Montenegro, o cerco mediático estava a contaminar a mensagem, e algumas das figuras mais influentes do partido – como Luís Marques Mendes, muito próximo de Montenegro – exigiam clarificação. O presidente do partido sentiu a necessidade de adaptar o discurso e foi aí que surgiu o “não é não” a Ventura, enterrando de vez o assunto. Assim esperava, pelo menos, o núcleo duro do líder social-democrata.

Previsivelmente, Pedro Nuno Santos aproveitou a campanha interna do PS e os primeiros dias como secretário-geral socialista para acenar com o papão do Chega, sugerindo que, à primeira oportunidade, Montenegro daria o dito pelo não dito e atirar-se-ia para os braços de Ventura. O discurso do novo líder socialista não surpreendeu a direção do PSD, que estava (e está) convicta de que basta repetir “não é não” e deixá-lo sozinho a falar sobre o Chega para esvaziar a linha de argumentação do PS.

Mas eis que surge Pedro Passos Coelho e o debate em torno do que tinha ou não dito o antigo primeiro-ministro sobre o Chega. E depois ataques políticos, à esquerda e à direita, de Pedro Nuno Santos, mas também de Mariana Mortágua ou Eduardo Ferro Rodrigues. E, claro, de André Ventura, que aproveitou imediatamente para se tentar pendurar em Passos para tentar embaraçar Montenegro.

A pressão foi tal que a direção do PSD se sentiu obrigada a reagir. O ponta de lança dessa resposta acabou por ser Hugo Soares, secretário-geral do partido e braço direito de Luís Montenegro, que, por duas vezes, em direto nas televisões, se irritou com a leitura abusiva que estava a ser feita das declarações do antigo primeiro-ministro, reiterando, uma e outra vez, que os sociais-democratas não contam com o Chega para qualquer aliança.

Ao mesmo tempo, estando Montenegro num processo de emancipação em curso face a Pedro Passos Coelho, o facto de o líder do PSD ter aparecido a vincar uma posição contrária à do antigo primeiro-ministro num tema pouco popular — alianças com o Chega –, pode, acredita-se no núcleo duro do líder social-democrata, a reforçar a ideia de que Montenegro tem mesmo vida própria e que não tem medo da sombra. Resta saber, ainda assim, se a confusão lançada em torno das declarações de Passos (rapidamente capitalizada pelos adversários políticos) teve ou não mais peso do que as sucessivas réplicas dos principais dirigentes do PSD.

Até lá, Montenegro vai mantendo a estratégia que definiu para si próprio: depois de contados os votos, e confirmando-se um cenário em que o PSD fica em primeiro lugar e exista uma maioria à direita, o Chega será encostado à parede e obrigado a decidir se prefere permitir aos sociais-democratas que governem mesmo ficando de fora do futuro executivo ou ir de novos a votos e arriscar tudo – e esse tudo pode significar uma penalização direta do Chega ou, no limite, a perpetuação do PS no poder.

A direção do PSD acredita que a crescente radicalização discursiva de André Ventura – já assume abertamente que, se ficar de fora da solução, vai derrubar um eventual governo de PSD/CDS (e IL, eventualmente) – pode virar-se contra o Chega e beneficiar Luís Montenegro: inadvertidamente, Ventura está a dar razão àqueles que defendem que um voto em Ventura é um voto no PS porque impede o PSD de governar. Uma estratégia “megalómana” que pode esvaziar o balão do Chega.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Mínimos olímpicos foram intencionais

Com as palavras bem calculadas, o mais longe que o antigo primeiro-ministro se permitiu a ir no apoio ao atual líder do PSD foi para dizer que esperava que o PSD pudesse “estar preparado para os tempos que aí vêm” e que pudesse “ser o partido liderante nessa fase nova que se vai abrir”. A formulação não foi inocente, sobretudo atendendo ao contexto que tem marcado a relação entre Passos e Montenegro: o antigo primeiro-ministro não quis deliberadamente fazer um elogio público ao atual presidente do PSD; fez os mínimos olímpicos em relação ao líder do seu próprio partido.

Basta comparar, aliás, com o que o mesmo Pedro Passos Coelho afirmou quando decidiu aparecer (e a iniciativa foi sua) ao lado de Luís Montenegro na Festa do Pontal, em agosto de 2022, praticamente no início da nova liderança do PSD. “Não vim para fazer grandes declarações. Vim dar um abraço ao Luís Montenegro. Uma pessoa bem preparada e competente. Que tenho confiança que será o próximo primeiro-ministro”, sublinhou Passos. Mas isto foi muito antes de os dois se terem afastado quase irremediavelmente.

Ora, de acordo com os mais próximos do antigo primeiro-ministro, a escolha de palavras de Pedro Passos Coelho e a diferença de tom com que se referiu a Montenegro foram absolutamente intencionais e podem indiciar que o antigo primeiro-ministro se manterá distante da próxima campanha para as eleições legislativas. Nas declarações que fez aos jornalistas, o próprio, aliás, garantiu que não voltaria a fazer declarações sobre esta matéria. Tendo dito apenas e só o que disse, tem margem para se demarcar de qualquer futuro desaire.

Este afastamento coincide, em parte, com o movimento de aproximação do líder do PSD a Cavaco Silva, que, a convite do presidente do partido, já por duas vezes decidiu aparecer em eventos de natureza partidária – algo que não fazia há três décadas. Se, por um lado, decidiu ser a grande surpresa do congresso que serviu para relançar Luís Montenegro, validando simbolicamente aquela candidatura a primeiro-ministro, ainda em maio tinha estado no Encontro Nacional de Autarcas do PSD para tecer rasgados elogios ao presidente do partido. “Luís Montenegro tem mais experiência política do que eu tinha quando subi a primeiro-ministro e está tão ou mais preparado do que eu estava”, deixou claro Cavaco Silva.

Uma declaração em tudo contrastante àquela que foi agora pensada e feita por Pedro Passos Coelho. Ao despedir-se da comunicação social a dizer que “cada um tem o seu tempo” e que “este tempo” não lhe “pertence”, o antigo primeiro-ministro confirmou aquilo que ia dizendo aos seus mais próximos: nunca será opositor declarado de Luís Montenegro, nem nunca fará campanha aberta para prejudicar o partido. Se um dia decidir voltar, fá-lo-á pelo PSD e não contra ninguém. Este tempo é de Montenegro. Depois das legislativas, logo se vê.

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