Pode ser a oportunidade que Nuno Melo esperava há anos — ou um verdadeiro presente envenenado. Os democratas-cristãos chegam a Guimarães para o 29º congresso do CDS numa altura em que as notícias da morte do partido podem mesmo não ser manifestamente exageradas. Reunidos pela primeira vez desde que o partido sofreu a maior hecatombe da sua História e deixou de estar representado no Parlamento, os delegados terão agora de decidir se entregam os destinos do CDS a Melo ou se arriscam confiar num dos três candidatos menos conhecidos (Nuno Correia da Silva, Bruno Filipe Costa e Miguel Mattos Chaves) para recuperar o partido.

Como o passado do CDS prova, nos congressos (os únicos que são eletivos no leque partidário português) há sempre espaço para reviravoltas e até para candidatos surpresa, podendo surgir algum entre os apoiantes do líder cessante, Francisco Rodrigues dos Santos.

De qualquer forma, não deverão faltar momentos altos num fim de semana que, pela primeira vez em décadas, pode juntar Paulo Portas e Manuel Monteiro no mesmo congresso, uma vez que ambos estão inscritos. Monteiro falará no palco, garantidamente; Portas já confirmou o apoio a Melo, numa declaração raríssima sobre a vida interna do partido. As dificuldades inéditas no CDS a isso obrigam.

Nuno Melo 

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É, reconhecidamente, o candidato em melhores condições de suceder a Francisco Rodrigues dos Santos. A concretizar-se, o eurodeputado encontra-se assim com um destino que lhe tinham traçado há muito: sempre foi ele o grande favorito para suceder a Paulo Portas.

Em 2016, quando a questão que se colocou, os dois – Cristas e Melo – conversaram e o eurodeputado acabou por deixar o caminho livre à antiga ministra da Agricultura. “Se este for o custo que tiver de pagar para garantir que o CDS não se balcanizará, não se radicalizará em conflitos, então que seja”, justificou-se na altura, deixando claro, para qualquer bom entendedor, que estava a ceder temporariamente o trono; não a abdicar dele.

O resultado surpreendente nas autárquicas de Lisboa afastou toda e qualquer discussão sobre a liderança do CDS e mergulhou o partido num estado de euforia tal que o CDS se julgou capaz de fazer eleger Cristas como primeira-ministra.

A campanha e o consequente desastre nas eleições europeias foi o primeiro sinal de que a realidade era muito diferente. As legislativas atiraram a bancada do CDS para mínimos olímpicos e uns traumáticos quatro deputados. Cristas saiu, João Almeida avançou, Adolfo Mesquita Nunes e Nuno Melo – com percurso e peso político superiores – preferiram ficar no banco de suplentes.

Francisco Rodrigues dos Santos, “Chicão” para o partido, venceu e com ele venceram todos os ismos que nunca se reviram no portismo. Nuno Melo despediu-se desse Congresso a admitir que partido estava saturado de Portas e dos seus herdeiros. Ele incluído. Previa-se um fade out progressivo.

Mas os dois anos de liderança de Francisco Rodrigues dos Santos e o cheiro a fim de ciclo na Europa – Melo termina o seu terceiro mandato como eurodeputado em 2024 – relocaram-no na lista de candidatos a líder. Adolfo Mesquita Nunes ainda tentou derrubar Rodrigues dos Santos, mas não deu consequência a um Conselho Nacional carregado de drama.  Melo estava finalmente sozinho na arena, sem sombras.

Desta vez, no entanto, faltou-lhe o mais importante: eleições para ir jogo. Rodrigues dos Santos fugiu ao confronto sob o pretexto do calendário eleitoral e deixou a candidatura de Melo pendurada. O eurodeputado tentou conduzir o CDS nestas últimas legislativas, mas a linha dominante preferiu manter Rodrigues Santos mesmo sem eleições internas.

Concretizado o debacle nas legislativas, Nuno Melo chega a este congresso sem um adversário com peso político semelhante, mas com um partido tão ou mais dividido do que antes. Tem a vantagem de ter dito que o CDS acabaria como acabou antes do tempo e a desvantagem de ter no currículo o pior resultado de sempre em europeias e o facto de ter feito parte da direção de Cristas – a mesma que conduziu ao resultado nas legislativas de 2019.

Enfrentará a mesma oposição de todos os que fizeram eleger Rodrigues dos Santos em 2020 e com o desânimo dos que, mesmo gostando de Nuno Melo, já não acreditam na ressurreição do CDS. Se vencer as eleições, pode ficar na história como o último líder do partido ou como o homem que o trouxe de volta do mundo dos mortos. É o tudo ou nada.

Francisco Rodrigues dos Santos 

É o líder cessante e aproveitará muito provavelmente o seu último discurso enquanto presidente do CDS para escrever pela própria pena o capítulo final da sua história à frente do partido. Francisco Rodrigues dos Santos deixa o cargo com a convicção de que tudo terá feito para ter outro desfecho e que quase tudo o que falhou — a pandemia, a oposição interna, Rui Rio… — lhe foi alheio.

No último Conselho Nacional do CDS em que esteve presente, Rodrigues dos Santos lamentou não lhe terem dado oportunidade de ser deputado, disse-se vítima de uma “intifada política”, falou dos “egos”, da “trincheira” parlamentar, de um CDS instrumentalizado como “salão de beleza” e sentenciou: “O fogo amigo matou”.

De uma forma ou de outra, vai ficar na história como o primeiro responsável pelo desaparecimento parlamentar do CDS. Resta saber que tom levará para a sua última intervenção como presidente do CDS, sabendo que se explorar o ressentimento que existe com a ala do portismo vai incendiar o Congresso e complicar ainda mais as contas de Nuno Melo.

Nuno Correia da Silva

É o candidato com currículo político mais extenso a seguir a Nuno Melo. Começou pela liderança da Juventude Centrista, foi deputado nos tempos de Manuel Monteiro, de cuja direção fez parte e, mais recentemente, vereador em Lisboa. Mas o currículo também inclui experiência fora do CDS, uma vez que chegou a abandonar o partido ao lado de Manuel Monteiro, para fundar o concorrente Nova Democracia, em 2003.

Regressou ao CDS em 2016, durante a era Cristas. Mas o caminho no partido é, em termos de alianças políticas, diverso: chegou a apoiar João Almeida enquanto candidato em 2020; quando este perdeu contra Francisco Rodrigues dos Santos, aceitou integrar a Comissão Política do novo líder. Agora, candidata-se — objetivo que só deve concretizar se tiver a moção mais votada — com a promessa de “fazer de tudo” para que os dissidentes do CDS regressem ao partido.

O primeiro diagnóstico que a sua moção faz sobre o estado do CDS é que as coligações “oportunistas” — leia-se com o PSD — “custaram caro”. Mais: no tempo da troika, os democratas-cristãos terão aceitado uma “fatura eleitoral que não era a sua”, e que continua a pesar junto do eleitorado.

Os planos para o CDS passam por recuperar o antigo nome do partido — voltando a juntar-lhe a designação de “Partido Popular” — e oferecer uma alternativa aos partidos concorrentes, Iniciativa Liberal e Chega: “Nós queremos oferecer uma direita que é da liberdade, mas não é liberal. Uma direita que é conservadora, mas não é reacionária; uma direita da esperança, que não se alimenta do discurso do ódio”.

Entre promessas sobre lutar pelo valor da família — o SNS é mais rápido a atender um pedido de aborto do que tratamentos de fertilidade e a escola pública anda a ensinar “afetos e teorias sexuais”, atira — há sobretudo muitos apelos aos militantes. “Ser do CDS é uma forma de servir Portugal, mas é sobretudo uma atitude. Há quem tenha pertencido ao Governo sem nunca ter passado por uma concelhia, sem ter sentido o partido”. Uma das soluções é criar uma aplicação para permitir aos militantes que participem nas decisões do CDS.

Miguel Mattos Chaves

Era conhecido pelas posições conservadoras, mas também muito polémicas, já enquanto vogal de Francisco Rodrigues dos Santos. E se esta direção apontou sempre o dedo a uma oposição interna muito ativa, que estaria a contribuir para denegrir a imagem do partido, Mattos Chaves não só faz a mesma reclamação — e aponta a Paulo Portas por continuar a mexer “cordelinhos” nos bastidores — como chegou a mostrar-se satisfeito com a saída de militantes do partido.

Os que saíram queriam tornar o CDS num partido “fofinho” para a esquerda dos costumes, argumentava em novembro, no Facebook, poucos dias depois dos anúncios das desfiliações de Adolfo Mesquita Nunes e António Pires de Lima — só o facto de terem chegado a estar no partido é, aliás, descrito por Mattos Chaves como “um mistério”. “O partido é finalmente gerido por pessoas e não por grupos globalistas, LGBT, etc.”, anunciava nessa altura.

Sem surpresas, a sua moção refere muitas destas questões: inclui pontos pela “defesa da família natural e antropológica”, “contra a falsa ideologia de género”, “contra o aborto como método contracetivo” e contra a adoção de crianças por casais homossexuais. Também propõe voltar aos nichos que, ironicamente, eram a a marca do partido no tempo de Paulo Portas: quer falar aos contribuintes, reformados, agricultores e pescadores. Isto apesar de ser aos consulados de Portas e Assunção Cristas que aponta mais defeitos, argumentando aliás que os “valores” do partido que desapareceram desde que Portas aceitou formar Governo com o PSD de Pedro Passos Coelho, que acusa de “vender empresas a outros Estados”.

Na moção, Mattos Chaves promete que se for presidente do partido não vai receber salário e vai criar uma espécie de Governo sombra para ajudar a lançar novas ideias. Tudo assente numa ideia de “refundação” do partido. Mas a verdade é que a candidatura também pode ficar pelo caminho: caso a sua moção não seja mais votada, já admitiu que o mais provável é apresentar uma lista de nomes para integrarem o Conselho Nacional, mas não à Comissão Política.

Bruno Filipe Costa

Gestor, militante desde 1995 e antigo autarca num junta lisboeta, Bruno Filipe Costa é mais um dos homens que querem salvar o CDS, mas a candidatura pode cair — ou fundir-se com outra — pelo caminho. Uma coisa é certa: nunca estará ao lado de Nuno Melo. Foi o próprio que admitiu, em entrevista à Lusa, admitir entendimentos com outros candidatos — nos congresso do CDS, primeiro vem o momento de votação das moções e só depois se confirmam formalmente as candidaturas — mas recusando fazer esse caminho com o eurodeputado.

Lendo a moção que apresentou, percebe-se porquê: contra Melo aponta o defeito de já se ver como “líder do partido” e aguardar apenas por uma receção “apoteótica” no congresso, mas também de acreditar que trocando simplesmente de líder se resolveria o problema do CDS. Um erro de análise que aponta, de resto, também ao próprio presidente (e amigo, que acompanhou na última campanha eleitoral) Francisco Rodrigues dos Santos.

Por isso, defende que o problema do CDS se trata com uma mudança de ideias. As que apresenta na sua moção passam por transformar o CDS no “partido conservador britânico português”, dada a capacidade de “reinvenção” que reconhece aos tories e até à monarquia britânica. O CDS deve, assim, recuperar os conservadores que se sentem “órfãos” pela “ambição cega” do partido de acolher as várias famílias da direita moderada (conservadores, liberais e democratas-cristãos, uma discussão clássica e interminável no seio do CDS). Apesar do estado em que o partido se encontra, Bruno Filipe Costa mostra otimismo q.b. e argumenta que esta pode ser “a madrugada que o CDS esperava para reaparecer de cara lavada como um partido verdadeiramente conservador”. Com nuances: contra o “imobilismo”, o candidato posiciona-se a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Para contornar as dificuldades do partido, que não se resumem às políticas, também avança com propostas sobre a gestão do CDS, nomeadamente relativas à reestrututação da dívida do partido e à instalação de um novo sistema de quotas.

Manuel Monteiro

O regresso aconteceu a muito custo: durante o consulado de Cristas, o ex-líder que chegou a sair do CDS, em 2003, para fundar um partido concorrente tentou regressar e deparou-se com dificuldades e atrasos que os seus apoiantes classificaram como “vetos de gaveta” da antiga direção. Mas Monteiro acabou mesmo por conseguir refiliar-se, já no tempo de Rodrigues dos Santos, e sempre rodeado por rumores que lhe apontavam uma vontade de voltar a concorrer à liderança.

Desta vez, o antigo líder com quem Paulo Portas se zangou foi muito pressionado para avançar e, segundo informações apuradas pelo Observador, até à última semana continuava a haver conversas nesse sentido e contagens de espingardas que apontavam para uma possível vitória frente a Nuno Melo — cenário que Monteiro terá sempre negado.

Ainda assim, é um nome a ter em atenção no congresso: de regresso às lides partidárias, Monteiro conta falar no congresso, este sábado. Segundo o Expresso, deverá dar um sinal de apoio a Nuno Melo, com o argumento de que é o único candidato que tem um cargo de deputado — no Parlamento Europeu — pelo partido, pelo que pode assegurar melhor a representação institucional do CDS e obter mais palco mediático.

Paulo Portas

O homem que durante anos e anos se confundiu com o CDS (foi líder durante 16 anos, com o breve interregno da liderança de José Ribeiro e Castro pelo meio) tem optado, nos últimos anos, por uma reserva pública quase total. Nos comentários que faz na TVI, costuma, de resto, focar-se na política internacional e deixar o CDS de lado. Mesmo assim, continua a ser uma espécie de fantasma — de obsessão, até — para grande parte do partido: os seus fiéis, que continuaram no poder durante a era Cristas e foram destronados por Francisco Rodrigues dos Santos, estão atentos à sua opinião e aos seus conselhos; os seus críticos garantem que continua a ser o principal influenciador dos destinos do CDS ou, na expressão de Mattos Chaves, a puxar “cordelinhos” nos bastidores.

Seja como for, Portas tem-se remetido ao silêncio e em 2020 nem sequer apareceu no congresso de Aveiro onde o partido virou a favor da mudança prometida por Rodrigues dos Santos, e que representava, no fundo, o enterro do portismo prolongado por Cristas. “Uma revolta dos camponeses”, gracejava, na altura, um portista.

Desta vez, com o partido caído em desgraça e fora do Parlamento onde Portas se sentou durante sete legislaturas, decidiu marcar posição. Apesar de não garantir que vai ao congresso de Guimarães, está inscrito, pelo que pode aparecer — seria a primeira vez desde o início dos anos 2000 que essa visão aconteceria: os antigos aliados e depois arqui-inimigos, Portas e Monteiro, juntos num congresso que pode marcar um novo início ou a confirmação do desaparecimento do CDS. De resto, o Expresso adianta que, como seria de esperar, estará ao lado do seu delfim: se não estiver no congresso, dará “antes ou depois”, pelo menos, um sinal de apoio a Nuno Melo, cuja “determinação” admira por se candidatar nestas circunstâncias. “É um gesto numa circunstância excecional”, explicou, numa declaração raríssima sobre a vida interna do partido, ao semanário.

Filipe Lobo d’Ávilla

Foi uma das chaves do último congresso: Filipe Lobo d’Ávila era, na altura, uma espécie de terceira via entre João Almeida e Francisco Rodrigues dos Santos e levou a candidatura até ao fim, tendo conseguido conquistar 14,45% dos votos dos congressistas. Com esse resultado, decidiu contribuir para a união entre os seus apoiantes e a linha de Rodrigues dos Santos, aceitando um lugar na vice-presidência de uma direção que precisava de quadros.

Mas o alinhamento não durou muito: no ano passado, Lobo d’Ávila e dois dos seus apoiantes (Raúl Almeida e Isabel Menéres Campos) confirmaram os sinais de desconforto que há muito se vinham notando e decidiram romper com Rodrigues dos Santos. Numa carta enviada ao líder, Ávila justificava-se com a “falta de relevância” e “afirmação externa” que o CDS não estava a conseguir contrariar, concluindo: “por muito que me custe dizê-lo, o CDS de hoje não risca“. A solução da mudança tinha falhado.

Depois disso, voltou a tecer críticas duras a Rodrigues dos Santos, nomeadamente quando este recusou ir a votos no partido contra Nuno Melo antes das eleições legislativas de janeiro, uma atitude que classificou, num texto publicado no Facebook, como “um total absurdo e um sinal de enorme fraqueza política”.

Agora que finalmente há congresso, já depois das eleições e de uma verdadeira hecatombe para o CDS, Ávila terá chegado a sentir-se tentado a avançar para uma nova corrida à liderança. Mas, perante o cenário de um partido em cacos que estaria a herdar, decidiu ficar de fora e não se envolver no novo confronto interno.

Miguel Barbosa

É um dos fiéis de Francisco Rodrigues dos Santos e o primeiro vice do presidente. E, se é verdade que não conta ser candidato, pelo menos quer assegurar que essa linha é representada no combate pela liderança do partido. Não se sabe exatamente como: o modelo eletivo do CDS dá todo o espaço a surpresas e reviravoltas — a eleição é feita em congresso e quem apresenta moções de estratégia global pode, consoante o resultado, fazer acordos com outros grupos ou decidir apresentar uma candidatura de última hora.

O próprio Barbosa coordenou, de resto, a moção “Pelas Mesmas Razões de Sempre”, onde se contam outros vices e figuras da anterior direção, além de presidentes de onze distritais, numa prova de força do aparelho que continua alinhado com Rodrigues dos Santos. Apesar de ter prometido ao Observador não pretender fazer “ajustes de contas”, Barbosa deixa farpas sérias a Nuno Melo: “Quem no passado mais recente se empenhou de forma tão profissional em dividir tem algumas dificuldades em poder unir”. E, se o congresso mostrar que “quer”, o grupo de militantes estará mesmo “à altura das responsabilidades que o congresso lhe quiser dar e encontrará uma solução de governo para o partido” — só não se sabe quem encabeçaria essa solução.

Miguel Barbosa subiu no CDS também ao lado de Rodrigues dos Santos: até 2010, era presidente da concelhia do Porto; com a eleição do atual presidente, foi promovido a primeiro vice do partido.

Sem grande destaque fora do partido — uma das queixas da direção atual tem sido, precisamente, a falta de mediatismo e a dificuldade em lançar caras novas, já que as mais reconhecidas pelo público são mesmo as da era portista — dentro do CDS é conhecido por estar ao lado do presidente, além de ser casado com Filipa Correia Pinto, conselheira nacional que é também uma das vozes mais ouvidas pelo líder e uma estratega-chave para Rodrigues dos Santos.

Cecília Meireles

É uma das caras mais conhecidas e respeitadas dentro e fora do CDS, tendo sido eleita por quatro vezes consecutivas para o Parlamento. Mas foi também por causa desse lugar que começou uma sucessão de tensões com apoiantes de Francisco Rodrigues dos Santos: como, nas eleições de 2019, foi a cabeça de lista pelo círculo do Porto — o mesmo pelo qual o líder se candidatou em segundo lugar, falhando a eleição — houve sempre pressões internas para que desistisse do lugar a favor do presidente.

A responsável do CDS no Parlamento pelas pastas de orçamento e finanças acabou por decidir deixar o Parlamento no final do mandato, tendo anunciado em novembro que não voltará a ser candidata nem a assumir cargos partidários em nome do CDS. Era a “única decisão possível” dada a situação no CDS, explicou na altura à TSF, dizendo estar a planear começar “uma vida nova”.

E não se coibiu de explicar que declarações feitas por Rodrigues dos Santos num Conselho Nacional do CDS constituíram mesmo a gota de água na sua relação com a cúpula do partido: “O presidente dirigiu-se a um grupo de pessoas de que também faço parte, dizendo que fazíamos terrorismo político, que passávamos a nossa vida a defender uma coisa e a fazer outra e que toda esta confusão era por causa de lugares de deputados. Isto são coisas graves de se ouvir e que não podem passar em branco”, detalhou nessa altura.

Agora, Cecília já diz ver a candidatura de Melo com “esperança” e “alegria”, o que ajuda a alimentar os rumores dentro do partido de que poderá reverter a sua decisão de deixar a vida política — quem sabe, especula-se no CDS, se com uma candidatura ao Parlamento Europeu, nas próximas eleições europeias, em 2024.

Pedro Mota Soares

É outra das caras mais conhecidas do CDS, partido onde já desempenhou quase todos os cargos possíveis (à exceção de líder), e uma das que contam com experiência governativa. E, sem surpresas, o antigo ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança social do Governo de Passos e Portas está ao lado de Nuno Melo. Como explicou esta sexta-feira, em entrevista na rádio Observador, no programa Vichyssoise, “este é o tempo de Melo”, que o convidou para integrar grupos programáticos onde participará na tarefa de construir as propostas futuras do CDS.

No último congresso, chegou a haver rumores de que Mota Soares estaria a preparar uma candidatura em nome próprio — rumores que desmentiu, preferindo focar-se na sua vida profissional, como presidente da Apritel (Associação dos Operadores de Comunicações Eletrónicas). Mas em 2021 acabaria por voltar ao Conselho Nacional do partido, tendo recentemente tecido duras críticas à atual direção por “cercear direitos” e diminuir a “democracia interna”, dada a resistência em convocar um congresso antes das eleições legislativas de janeiro.

A dúvida reside agora — a confirmar-se a eleição de Nuno Melo — em saber se Mota Soares volta a entrar na corrida às eleições europeias, em 2024. Em 2019, tentou, como número dois, entrar no Parlamento Europeu. Sem sucesso: Melo entrou, Mota Soares ficou à porta.

Texto corrigido a 2 de Abril com a informação de que Miguel Barbosa foi presidente da concelhia do Porto até 201o e não 2020.