Vítor Escária foi o principal assessor económico de José Sócrates entre 2005 e 2011. António Costa viria a recuperá-lo em três momentos: primeiro como parte do grupo de 12 sábios que ajudou a preparar o programa económico com que o PS se apresentou a votos; depois como principal assessor económico; e, mais tarde, como chefe de gabinete, cargo que ocupa até hoje. Foi esta terça-feira detido.

Apesar de não ser militante socialista, Vítor Escária, doutorado pela Universidade de York (Reino Unido) e professor no ISEG, entrou para o governo de José Sócrates no início do primeiro mandato. E foi nesse tempo que começou a ganhar crescente influência no núcleo duro de Sócrates – tendo sido dos poucos, além dos ministros, a participar nas negociações com a troika.

Ainda no governo de Sócrates, era um dos responsáveis pela diplomacia económica com a Venezuela, relações que manteve e promoveu quando passou para o setor privado, através da sociedade Iguarivarius, onde trabalhou a partir de 2012. A empresa de produtos alimentares e não alimentares faturou mais de 200 milhões em contratos públicos com a Venezuela, mas acabou por se tornar famosa no Natal de 2017 quando foi acusada de sabotagem económica pelo presidente venezuelano. Nicolás Maduro acusou então Portugal de sabotar a importação de pernil por parte de Caracas.

[Já estreou “O Encantador de Ricos”, o novo Podcast Plus do Observador que conta a história de Pedro Caldeira e de como o maior corretor da Bolsa portuguesa seduziu a alta sociedade dos anos 80 — e perdeu os milhões que lhe confiaram. Pode ouvir o primeiro episódio aqui.]

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Como explicava aqui o Observador de forma detalhada, antes desse momento de rutura havia um passado de ligação de Vítor Escária à Iguarivaris, do Grupovarius, liderado por Alexandre Cavalleri. De tal forma que em 2014, o antigo assessor económico de José Sócrates torna-se sócio da holding da família: a Ribeiro Carvalho Cavalleri, SGPS, SA, que detinha o controlo da Iguarivarius.

O regresso pela mão de Costa

Depois da queda de Sócrates, como recuperava o Público, Escária participaria numa equipa de missão chamada Lisboa 2020, colaborando diretamente com António Costa, então presidente da Câmara Municipal de Lisboa, com o objetivo de preparar a cidade para o novo quadro comunitário. Nunca deixaria de estar ligado à negociação de fundos europeus.

De volta à política, em abril de 2015, Escária foi anunciado como um dos 12 “sábios” que iam ajudar a preparar o programa macroeconómico com que António Costa se ia apresentar a votos – grupo que incluía também Mário Centeno, João Leão, João Galamba ou Fernando Rocha Andrade, por exemplo, todos eles futuros governantes. Escária, no entanto, não lhes seguiu o exemplo e foi escolhido como assessor económico de António Costa.

No entanto, em julho de 2017, acabaria por se demitir do gabinete de António Costa e, logo a seguir, foi constituído arguido no caso das viagens pagas pela Galp a membros do Governo para assistirem a jogos da seleção nacional de futebol no Euro2016. Alterações no processo judicial, contudo, levaram a que a porta de São Bento se voltasse a abrir: os arguidos pagaram uma “injunção” ao Estado e, findo o prazo, o processo ficou arquivado. No caso de Escária, a multa era de 1.200 euros.

Menos de um mês depois, o economista voltaria a entrar em São Bento e desta vez para ser chefe de gabinete de António Costa, formalizando uma relação que existia no plano informal – Escária já antes tinha acompanhado o primeiro-ministro em reuniões com líderes europeus durante as negociações do pacote de fundos visto para a recuperação da economia no pós-pandemia.

A sua influência junto do primeiro-ministro é evidente – Escária faz parte coordenação política do Governo, o núcleo duro do Executivo socialista –, e foi ele que acompanhou de perto Costa durante um dos momentos mais delicados desta maioria absoluta – a não-demissão de João Galamba, com Costa a rejeitar a exigência de Marcelo Rebelo de Sousa.

Como um ex-ministro e um ex-assessor de Sócrates ajudaram o rei do pernil de porco a conquistar a Venezuela