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O presidente do Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro, momentos antes de uma viagem de barco, do cais da praia fluvial de Monsaraz até Mourão, no âmbito do programa "Sentir Portugal em Évora", que decorre de 10 a 14 de outubro e tem como objetivo contactar com a realidade local e dialogar com os cidadãos, famílias, municípios e instituições, Reguengos de Monsaraz, 10 de outubro de 2022. NUNO VEIGA/LUSA
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No PSD, há quem interprete a crescente acidez com que António Costa trata a IL como uma forma perversa de puxar pelo partido e assim prejudicar o PSD

NUNO VEIGA/LUSA

No PSD, há quem interprete a crescente acidez com que António Costa trata a IL como uma forma perversa de puxar pelo partido e assim prejudicar o PSD

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Sangue em águas liberais aguça apetite do PSD. "Já resolvemos a IL, a seguir vamos resolver o Chega"

Nos bastidores sociais-democratas aposta-se num regresso de muitos dos desiludidos com o PSD perante a crise sucessória da Iniciativa Liberal. Mas excessiva predominância do Chega pode ser problema.

Crise de uns, oportunidade de outros. Os sociais-democratas (ainda) não atiram foguetes, mas ninguém na direção do PSD ignora o óbvio: a crise sucessória na Iniciativa Liberal (e o teórico descalabro que aí vem) abre um sem número de possibilidades ao partido para vir a recuperar eleitorado que fugiu do PSD e que começou a alimentar politicamente os liberais.

“Não há grande ciência: a saída de João Cotrim Figueiredo e a forma como aconteceu deixa a Iniciativa Liberal numa situação de enorme fragilidade”, comenta com o Observador um destacado dirigente social-democrata. “Claro que o meltdown da IL é uma oportunidade para o PSD”, atesta outro elemento da direção social-democrata. “Os liberais demonstram uma dor de crescimento muito grande. Perceberam que não conseguiam crescer mais”, insiste um membro do núcleo duro de Luís Montenegro.

Publicamente, a estratégia é não ir com demasiada sede ao pote. Ou não parecer que se está a ir com demasiada sede ao pote. Ao PSD não interessa que os eleitores percecionem o partido como estando desesperado para neutralizar os seus adversários à direita. Se uma parte da estratégia de Luís Montenegro é ignorar olimpicamente o Chega, a outra parte é não hostilizar gratuitamente a Iniciativa Liberal. Em duas frases: o PSD tem de se preocupar com o próprio rumo; e não olhar para o lado, vão repetindo em público os vários elementos da direção social-democrata.

Acontece que ninguém vai desprezar a oportunidade que caiu do céu. Os partidos não são ilhas e o mercado eleitoral é altamente concorrencial. Aliás, no núcleo duro social-democrata, as contas são simples de fazer: mais do que o Chega, a Iniciativa Liberal nasceu e cresceu sobretudo à custa de eleitores que antes procuravam o PSD. Consequentemente, se os liberais entrarem em crise, esses eleitores (desiludidos com o falhanço do projeto) voltarão mais facilmente a votar no renovado PSD do que em qualquer outro partido.

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"Agora resolvemos a Iniciativa Liberal e a seguir vamos resolver o Chega, que vai sofrer muito com o voto útil. Queremos um PSD de vocação maioritária e vamos jogar para a maioria", insiste um elemento da direção social-democrata.

Os riscos da excessiva predominância do Chega

Apesar da tentação mal disfarçada de ir atrás do eleitorado da IL, a estratégia do PSD passa sempre por passar a ideia de que o partido corre em pista própria. Além disso, para já, convém ser ambíguo em relação a qualquer futura aliança e não entrar em confronto direto com os outros dois partidos.

Mais: importa, acreditam fontes próximas de Montenegro, não mimetizar a tática de confrontação que chegou a ser ensaiada por Rui Rio — que, provocando um efeito de cerrar fileiras na IL e no Chega, só penalizaria o PSD. A atual direção social-democrata acredita que atacar publicamente essas duas forças políticas é consumar o divórcio com um eleitorado que, no passado, também alimentou em grande medida o PSD.

Assim se justifica este cuidado em não celebrar o mais recente tropeção dos adversários, sendo que, nos bastidores, há quem sugira uma relação causa-efeito entre a eleição de Luís Montenegro e os dois psicodramas que Chega e IL viveram ou estão a viver — no verão, perante as críticas, André Ventura decidiu pedir uma moção de confiança; e Cotrim Figueiredo afastou-se agora.

Segundo alguns dos mais próximos de Montenegro, a mudança de liderança no PSD e o novo fôlego do partido ajudaram a pôr a nu as fragilidades estratégicas destes dois partidos.

Além disso, no caso concreto da Iniciativa Liberal, há dirigentes do PSD que admitem que qualquer ganho será sempre “residual”. “Eles valem quanto? Cinco, seis por cento? A oportunidade de crescer através deles é residual. O jogo não se vai fazer só por aí“, reconhece ao Observador um elemento da direção social-democrata.

Ou seja, os pozinhos eleitorais da Iniciativa dão jeito, mas não chegam. Pior, podem vir a virar-se contra o PSD. Isto porque, no futuro, o esvaziamento dos liberais pode merecer menos razões para sorrir. Se é verdade que a eventual espiral negativa da Iniciativa Liberal pode engrossar o resultado eleitoral do PSD em futuras eleições – e há dados que apontam nesse sentido – também poderá provocar um outro fenómeno.

O PSD, que conta voltar ao poder em perfeitas condições de chantagear o Chega (‘Ou nós, ou a manutenção da esquerda do poder’), ficará muito mais dependente se a relação de forças estiver muito desequilibrada a favor do partido de André Ventura e se os liberais se transformarem, tal como é hoje o CDS, uma força política perfeitamente residual.

Ou seja, uma coisa é contar com o apoio de oito, nove ou dez deputados da Iniciativa Liberal para formar uma maioria parlamentar, deixando o Chega de fora de qualquer acordo formal e obrigando Ventura a engolir um enorme sapo; outra coisa é fazer alianças com os liberais em crise e tendo o Chega como clara e inequívoca segunda maior força política à direita. Se no primeiro cenário, a governabilidade seria alcançável, no segundo, a equação seria muito mais complexa e imprevisível.

“Claro que existe esse risco. Mas a estratégia atual não é essa. Entendemos genuinamente que podemos fazer esse golpe de asa que o PS fez e ter maioria absoluta. Agora resolvemos a Iniciativa Liberal e a seguir vamos resolver o Chega, que vai sofrer muito com o voto útil. Queremos um PSD de vocação maioritária e vamos jogar para a maioria”, insiste um elemento da direção social-democrata.

A esta distância, portanto, poucos na direção social-democrata querem assumir este risco e quase todos vão ensaiando que o objetivo tem de ser a autossuficiência social-democrata — o guião está assim desenhado e, publicamente, ninguém vai querer fugir às falas decoradas. Mas os dados à direita foram lançados no exato momento em que Cotrim Figueiredo sorteou o futuro do partido com a sua saída de cena.

No futuro, a crise de IL pode pode provocar um problema ao PSD, que conta voltar ao poder apoiado numa IL sólida e em perfeitas condições de chantagear o Chega (‘Ou nós, ou a manutenção da esquerda do poder’): o partido ficará muito mais dependente se a relação de forças estiver muito desequilibrada a favor do partido de André Ventura.

Senadores mostram os dentes

Não será por acaso que várias figuras ligadas ao PSD decidiram abrir fogo sobre os liberais. No Expresso, José Matos Correia, senador social-democrata e apoiante de Montenegro, reservou tudo menos palavras simpáticas para a Iniciativa Liberal, cuja “debilidade” se afigura “cada vez mais notória”.

“A ausência de conteúdo é, em regra, indisfarçável. Ou, o que é pior, quando se verifica é incompreensível. (…) Impressiona-me acima de tudo a ausência de um discurso solidário, dirigido aos problemas dos mais necessitados (…) Um partido para quem esse combate não constitua uma prioridade, não percebe qual é verdadeiramente o seu papel. Creio, assim, que mais tarde ou mais cedo (preferencialmente mais cedo), aqueles que viram no apoio a estes dois partidos [Chega e IL] a solução para que algo mudasse, compreenderão o logro em que caíram”, escreveu o antigo deputado.

Sem ir tão longe na adjetivação, Luís Marques Mendes, com quem Luís Montenegro mantém uma relação de grande proximidade, defendeu que a estratégia da Iniciativa Liberal era, no mínimo, “arriscada” e que a saída de João Cotrim Figueiredo a todos os níveis “estranha”. E ainda deixou um recado: “Se, para ser popular, a IL quiser “copiar” o Chega, corre o sério risco de lhe vir a suceder no futuro o que sucedeu no passado recente ao CDS. Oxalá não suceda. Mas o risco é muito grande.”

No PSD, de resto, há quem interprete a crescente acidez com que António Costa trata a Iniciativa Liberal como uma forma perversa de puxar pelo partido e assim prejudicar o PSD – quanto mais forte forem os liberais mais frágeis serão os sociais-democratas; fazer da Iniciativa Liberal um adversário (tal como António Costa faz com o Chega) agiganta o partido e minimiza o partido liderado por Luís Montenegro.

“António Costa já percebeu que tem de tratar a Iniciativa Liberal como trata o Chega para fazer crescer os dois à custa do PSD. É por isso que tem criticado tanto a IL”, sugere um dirigente social-democrata. A médio e a longo prazo, fortalecer os dois partidos à direita do PSD pode tornar ainda mais delicada qualquer geometria de alianças que se possa formar para devolver os sociais-democratas ao poder. António Costa e os socialistas sabem disso, tal como também o entende Luís Montenegro.

“Não há grande ciência: a saída de João Cotrim Figueiredo e a forma como aconteceu deixa a Iniciativa Liberal numa situação de enorme fragilidade”, comenta com o Observador um destacado dirigente social-democrata. “Claro que o meltdown da IL é uma oportunidade para o PSD”, atesta outro elemento da direção social-democrata.

O mercado eleitoral que une PSD e IL

Os vasos comunicantes entre os dois partidos estão há muito identificados. No estudo pós-eleitoral divulgado pelo ICS/ISCTE, referente às últimas legislativas, ficou demonstrado que a Iniciativa Liberal cresceu sobretudo  entre os anteriores abstencionistas, entre os eleitores do PSD e do Bloco de Esquerda, por esta ordem grandeza.

Visto por outro prisma, os sociais-democratas perderam primeiramente eleitores para a IL, em segundo lugar para o PS, e em terceiro para o Chega. Além disso, a Iniciativa Liberal está a roubar eleitores ao PSD, previsivelmente, entre o segmento mais jovem e mais qualificado.

Utilizando o EyeData, uma ferramenta de análise de dados estatísticos criada pela Social Data Lab para a Agência Lusa, e que permite medir os resultados das últimas legislativas cruzando-os com vários indicadores (económicos, sociais, culturais ou geográficos, por exemplo), tal como o Observador fez aqui, é possível perceber as forças e fraquezas de cada partido e traçar um mapa eleitoral.

O resultado é claro: a Iniciativa Liberal e o Chega, naturalmente, são especialmente fortes onde o PSD é mais fraco. No caso dos liberais, esse fenómeno é particularmente expressivo na faixa litoral do país – já o Chega tem maior penetração na zona raiana. Em 2022, os sociais-democratas já quase só conseguiram números acima da sua média nacional no interior norte do país.

As sondagens, outro instrumento que permitiria medir se a afirmação de Montenegro estava ou não a prejudicar a Iniciativa Liberal, ainda não permitem tirar essa conclusão. Pelo contrário. Apesar de ter alguns indicadores interessantes – o novo líder do PSD já teve quatro sondagens na casa dos 30%, algo que fora do período eleitoral Rui Rio nunca conseguiu ter –, a média das primeiras 12 sondagens de Montenegro fixa-se nos 26,25% (o PSD conseguiu 27,67% nas legislativas).

Em contrapartida, e à exceção de uma sondagem de 3%, nos primeiros meses do consulado de Montenegro os liberais nunca registaram intenções de voto inferiores ao resultado que alcançaram nas urnas – têm uma média de 7% contra os 4,91% que tiveram nas legislativas.

No entanto, nenhuma destas sondagens mediu a crise que a Iniciativa Liberal agora atravessa. Em futuros estudos de opinião, logo se verá se a eventual fraqueza destes últimos alimentará a força de Montenegro.

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