Parte do debate entre Catarina Martins e João Cotrim Figueiredo foi dedicado à discussão sobre o setor da saúde, o peso que o Estado deve ter e o nível de intervenção que deve ter nos cuidados de saúde. Nessa troca de argumentos, a coordenadora do Bloco de Esquerda disse, a determinado momento, que “a Alemanha gasta o triplo de Portugal na Saúde”. Os dados oficiais corroboram este argumento?

Em termos absolutos, e de acordo com os dados do Eurostat referentes a 2019, Portugal destinou 20.392 milhões de euros do Orçamento desse ano ao setor da Saúde. No caso da Alemanha, por outro lado, esse valor foi de 403.444 milhões de euros.

Analisando esses dois valores em função da percentagem do PIB, o orçamento da Saúde português correspondeu a 9,5% da riqueza criada nesse ano, em comparação com os 11,7% do PIB que o governo de Angela Merkel entregou à Saúde. Estes valores não traduzem a realidade do argumento de Catarina Martins.

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Mas — e embora a análise em função do PIB seja o método mais recorrente para fazer este tipo de comparação — há outra forma de olhar para os números: em função da paridade do poder de compra e em função do valor gasto por habitante. Em nenhum dos casos o argumento de Catarina Martins corresponde inteiramente à verdade. Mas há um caso em que a diferença não é tão significativa.

Os dados sobre o valor gasto na Saúde pela Alemanha, em função da população, indicam que o Estado alemão gastou 4855 euros por habitante nesse setor, naquele ano. Já no caso português, esse valor ficou-se pelos 1983 euros por habitante.

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Em rigor, o triplo de 1983 euros corresponde a 5949 euros (cerca de mil euros mais do que aqueles que foram alocados pelo governo de Merkel à Saúde). Seguindo essa aritmética simples, o valor gasto por Portugal em Saúde, por habitante, no ano de 2019, não foi um terço do alemão — mas correspondeu a cerca de 41% desse universo.

No contexto europeu, e ainda de acordo com a verba gasta por habitante, países como o Liechtenstein (8626 euros por habitante), a Suíça (8605 euros) ou a Noruega (7127) apresentam valores ainda mais contrastantes com os da realidade portuguesa.

Eslovénia, Chipre e República Checa (aquele que está mais próximo da referência feita por Catarina Martins, um terço do investimento alemão) apresentam gastos em linha com o de Portugal (acima dos 1600 euros e abaixo dos 2000).

No extremo oposto surge um grupo de países abaixo dos mil euros por habitante: é o caso da Bulgária (626 euros por habitante), Roménia (661 euros), Polónia (906 euros), Croácia (931 euros) e Hungria (949 euros).

Conclusão

Catarina Martins refere-se a um gasto da Alemanha em Saúde que seria três vezes superior ao de Portugal. A coordenadora do Bloco de Esquerda não faz a comparação entre os orçamentos dos dois países, para este setor, em função do PIB, como seria mais habitual. Optou por olhar para o indicador em função da verba gasta por habitante e, aí, os dados aproximam-se mais do argumento que apresentou. Mas, mesmo assim, não é totalmente verdade que a Alemanha gaste três vezes mais em Saúde que Portugal. O orçamento nacional da Saúde é de cerca de 41% do orçamento alemão.

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