Os apelos a boicotes de produtos vindos de Israel não são novidade, mas têm vindo a ganhar nova força nas últimas semanas, em particular na sequência da mais recente escalada do conflito israelo-palestiniano. Os pedidos têm várias formas, são feitos em várias línguas, e, muitas vezes, recorrem a personalidades bem conhecidas do grande público.

É o caso de uma publicação que se tornou viral nos últimos tempos, que recorre a alegadas declarações da atriz espanhola Penélope Cruz para pedir um “boicote aos produtos fabricados ou comercializados pelo regime sionista de Israel”. Penélope Cruz é mesmo descrita como uma “ativista da causa da Palestina”, tendo afirmado, de acordo com o post, que “Gaza vive todos os dias o horror”, ao ser “assediada e atacada por terra, mar e ar”, e lamentado que a “comunidade internacional permita” que os ataques continuem a acontecer. Nesta publicação, o autor alerta também que o “regime de Israel criou novos códigos” para fintar o boicote que está a ser pedido. São eles: 729, 841 e 871. No entanto, não é dado mais nenhum detalhe que sirva de base a esta alegação.

Todos estamos habituados a ver códigos de barras com regularidade, desde logo quando vamos ao supermercado. A utilização deste método é comum em diversas áreas, desde a indústria ao comércio e serviços, sendo que o modelo mais usual apresenta, normalmente, um número com oito a 14 algarismos. E, olhando para os números referidos na publicação, percebemos que, de facto, um deles está associado a Israel.

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Fazendo uma simples pesquisa no Google encontramos essa informação corroborada pela GS1, uma organização sem fins lucrativos que atribui números únicos para códigos de barras. De acordo com a página, o número único para empresas registadas em Israel é o 729. Já os outros dois números referidos — 841 e 871 — correspondem, de acordo com a mesma página, a Espanha e Países Baixos, respetivamente. Ou seja, não têm qualquer ligação a Israel. A Portugal está associado o número 560.

De acordo com a GS1, um número de código de barras “começa sempre com o prefixo da organização membro da GS1″ — neste caso, o país — que atribuiu o código de barras. No entanto, esse prefixo “não indica que o produto tenha sido produzido num país específico ou por um fabricante específico”, esclarece a organização. Esse produto “pode ter sido produzido em qualquer lugar do mundo”. Quer isto dizer que um produto com o código de barras que comece com o prefixo 729 está alocado a Israel, mas isso não prova que o mesmo tenha sido fabricado no país, nem que a empresa que o produziu esteja sediada em território israelita. Significa apenas que a empresa se registou em Israel para obter o código de barras.

Publicações semelhantes já foram desmentidas nos últimos anos por outros factcheckers internacionais, como o da agência France Presse. A mesma alegação foi feita anteriormente em relação a Israel e à China, em 2021 e 2020.

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Conclusão

Não é verdade que Israel esteja a criar novos códigos de barras para evitar um boicote a produtos produzidos ou fabricados no país. O código de barras não revela o país de origem de cada produto, mostra apenas o país onde a empresa fabricante está registada. Os outros dois números referidos — 841 e 871 — dizem respeito a Espanha e Países Baixos.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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