A meio do debate com André Ventura, o presidente da Iniciativa Liberal acusou o líder do Chega de “passar pouco tempo no Parlamento”. André Ventura reagiu — primeiro com desagrado, depois com um argumento em que procurava justificar-se com o facto de ter sido candidato à Presidência da República nas eleições de 24 de janeiro de 2021. Mas foi esse compromisso político que afastou Ventura dos trabalhos parlamentares?

A atual legislatura teve início depois das eleições legislativas de 2019. O Observador consultou os registos de presença do deputado único do Chega nas sessões plenárias da Assembleia da República e chegou a um valor: desde o início da legislatura, e até ao final da terceira sessão legislativa, André Ventura tem assinaladas um total de 22 faltas aos trabalhos plenários.

Dessas faltas, 21 são justificadas com a participação em “trabalhos políticos” e apenas uma ficou a dever-se a motivo de “doença” (a 6 de março de 2020).

Recuperando o argumento do líder do Chega, também é possível constatar que, no período em que o “trabalho político” poderia dever-se à participação na campanha oficial para as presidenciais — entre 9 e 22 de janeiro —, há registo de quatro faltas. Se somarmos a este período as duas faltas dadas imediatamente antes do período oficial em que os candidatos estiveram em campanha, chegamos a um total de seis faltas aos trabalhos parlamentares em plenário.

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Isso significa que menos de um terço do total de faltas atribuídas a André Ventura ficaram a dever-se à presença na campanha, onde acabou por conquistar o terceiro lugar (atrás de Marcelo e de Ana Gomes), com um resultado de 11,9%, correspondentes a 496.773 dos votos.

Cotrim Figueiredo e José Luís Ferreira foram os únicos líderes sem faltas nos plenários

No debate deste domingo, André Ventura tinha à sua frente João Cotrim Figueiredo. Em agosto de 2021, o Observador já tinha escrito que, a par de José Luís Ferreira (PEV), o deputado único da Iniciativa Liberal era o único líder sem qualquer falta a sessões plenárias registada. E esse dado mantém-se atual, uma vez que os dados oficiais não indicam qualquer ausência de Cotrim Figueiredo aos trabalhos parlamentares até ao momento.

Conclusão

André Ventura tentou contra-argumentar a crítica às suas ausência nas sessões plenárias da Assembleia da República com a ideia de que esteve envolvido numa campanha para as presidenciais, como candidato, procurando passar a ideia de que isso justificaria — se não todas — pelo menos parte significativa das faltas registadas em seu nome.

Os dados oficiais mostram que esse argumento é enganador. De um total de 22 ausências (entre as quais, uma por doença), apenas seis (já contando com o período não oficial de campanha) aconteceram nessa fase, em janeiro de 2021.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

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