A intenção do polémico CEO da Tesla, Elon Musk, de comprar o Twitter agitou a imprensa internacional, que vem publicando há semanas textos sobre o assunto. Mas, associada a essa notícia, começou a correr nas redes sociais uma outra, supostamente consequência da primeira: Elon Musk já estaria a despedir funcionários, especificamente “esquerdistas”, e especificamente na parte da empresa sediada no Brasil.

Acontece que isto seria impossível, sobretudo por um motivo concreto: Elon Musk ainda não é dono do Twitter.

Por partes. O rumor terá surgido por serem conhecidas as posições públicas e políticas do CEO da Tesla, que ainda esta semana recorria precisamente ao Twitter para anunciar que vai votar no Partido Republicano. A razão? O Partido Democrata, no qual diz ter votado no passado e chegado a considerar “o partido da bondade”, tornou-se “o partido da divisão e do ódio”. E até faz “campanhas de truques sujos” contra o próprio Musk, garante.

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Não será apenas esta a razão para a ideia de que Musk poderia ter problemas com os funcionários (neste caso, “esquerdistas”) da empresa. Assim que foi conhecida, no final de abril, a intenção de comprar a empresa por 44 mil milhões de dólares (41,5 mil milhões de euros) — oferta aceite pela administração da empresa, ficando a faltar a votação dos acionistas –, começaram a surgir várias notícias que davam nota do incómodo de alguns funcionários sobre o assunto.

O motivo passaria não só pela polémica persona pública de Elon Musk como, também, por algumas das mudanças que anunciou que quer fazer na empresa, como deixar de remover comentários ou publicações mesmo que sejam ofensivas, por se considerar um “absolutista da liberdade de expressão” — um passo que muitos funcionários consideram que viria desvirtuar a cultura do Twitter. Além disso, alguns funcionários, sob anonimato, vieram expressar preocupações com os métodos de trabalho supostamente tóxicos da Tesla, temendo que venham a ser adotados também no Twitter.

Na verdade, o próprio Twitter escreveu, num documento entregue ao regulador norte-americano (a Securities and Exchange Comission), que um dos riscos associados à venda é uma potencial perda de trabalhadores, tendo havido notícias de uma reunião tensa entre o atual CEO, Parag Agrawal, e funcionários “exasperados” com a ideia, na semana passada. Questionado sobre o assunto, no baile anual do Met, Elon Musk não pareceu preocupado: “É um país livre. Certamente, se alguém não se sentir confortável com isto, fará o seu caminho, irá para outro lado. Está tudo bem”, assegurou.

Ainda assim, nada disto é, para já, assunto, por uma razão simples: Elon Musk não pode despedir ninguém porque ainda nem sequer concretizou a compra da empresa. Mais: há uma semana e meia, Musk anunciou que o acordo para comprar o Twitter está temporariamente suspenso, devido a “detalhes sobre os cálculos de que contas falsas/contas de spam representam menos de 5% dos utilizadores”.

Porquê? Musk tem-se mostrado especialmente preocupado com o tópico dos bots e contas falsas no Twitter, que diz querer erradicar a 100% (“Derrotaremos os bots de spam ou morreremos a tentar”, escreveu num tweet, em abril).

E, pelos vistos, não acreditou nas contas que lhe foram apresentadas pela empresa, que estimava no início de maio que as contas falsas representariam os tais menos de 5% dos utilizadores ativos diários do primeiro semestre de 2022. O CEO já veio entretanto dizer que o número será ainda mais baixo, garantindo que as margens de erro nas estimativas dão “confiança nos comunicados públicos” que o Twitter divulga a cada trimestre.

Para Musk, as garantias não estão a ser suficientes: o CEO da Tesla — e potencial comprador do Twitter — perguntou, num tweet em resposta direta a Agrawal, porque é que não experimenta simplesmente “telefonar” a essas contas para perceber se são pessoas reais, e questionou: “Como é que os anunciantes sabem o que estão a receber pelo seu dinheiro? Isso é fundamental para a saúde financeira do Twitter”.

Estas interações são mais uma prova de que a compra não está concretizada e que Musk continua a ter dúvidas sobre se deve dar esse passo — pelo que não poderia, mesmo que quisesse, ter já despedido funcionários.

Conclusão

Elon Musk não pode ter despedido funcionários, “esquerdistas” ou não, simplesmente porque ainda não é dono do Twitter. A sua intenção é adquirir a empresa, mas o negócio foi congelado porque Musk pretende obter mais informações sobre o número de contas falsas na rede social. Mesmo que decida avançar, terá de passar pelo voto dos acionistas e pelo parecer do regulador.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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