As questões que relacionam a criminalidade com os imigrantes que chegam a Portugal têm sido cada vez mais difundidas, sobretudo por grupos associados à extrema-direita, e as redes sociais funcionam como um dos palcos favoritos para espalhar mensagens, muitas delas falsas. Num vídeo partilhado em janeiro deste ano no Instagram, uma mulher relata dois alegados crimes que terão acontecido em Albufeira e que foram denunciados às autoridades: um de violação e outro de perseguição a uma criança. Os dois alegados crimes, relata a mulher, foram praticados por homens indianos. Os casos terão sido, segundo este vídeo, reportados à GNR, apesar de não terem sido indicadas as datas em que aconteceram os crimes. Tanto um caso como o outro são atribuídos a condutores TVDE de origem indiana, relacionando assim a imigração com a criminalidade.

“Sabemos que, por diligências na GNR e por várias outras denúncias, são todos indianos. E eu até achava que a maioria deles era muito pacífica e, na verdade, de facto, nota-se que culturalmente as pessoas que têm ido para Albufeira desta nacionalidade são pessoas, ao contrário das grandes cidades indianas, culturalmente muito instáveis e culturalmente atrasadas em relação aquilo que nós praticamos culturalmente no nosso país. A cultura deles é completamente oposta à nossa. Eles tratam a mulher como se fosse um animal”, ouve-se logo no início do vídeo.

E continua: “Estas pessoas estão a entrar e estão a entrar diariamente. E estão a entrar neste âmbito e com este intuito de violar pessoas, perseguir pessoas e de raptar crianças.” No vídeo partilhado constam então dois supostos exemplos que sustentam esta ideia. “Esta criança foi perseguida até à porta da escola e estes indivíduos ficaram à porta da escola e segundo consta houve alguns alunos de 9º ano, repetentes, que queriam sair da escola para bater nos indivíduos. Estiveram à porta da escola a ameaçá-la e a mandar piropos. Ela ficou extremamente traumatizada, começou a tremer, tiveram de chamar os pais”, relata no primeiro caso.

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A segunda história é diferente: “Isto é diário e a mais grave que aconteceu, aconteceu na semana passada e vem de uma jovem adulta que, infelizmente, também é minha conhecida e que foi violada num TVDE. Ela foi mesmo violada, fez os testes, foi à GNR”, refere a autora do vídeo.

Perante tal gravidade, e uma vez que a pessoa que relata os alegados casos diz várias vezes que foram feitas denúncias às autoridades, o Observador pediu esclarecimentos à GNR para perceber quais os contornos destes dois crimes e que caminho tinham seguido as duas alegadas queixas.

No entanto, fonte da GNR confirmou que não existe qualquer queixa relacionada com estes casos. “A Guarda Nacional Republicana, através do Comando Territorial Faro, não tem registo de nenhuma queixa crime relacionada com os factos questionados“.

O vídeo sugere ainda que este tipo de crimes, como violação e perseguição, estão a ser praticados por pessoas estrangeiras — neste caso especifico por pessoas de origem indiana. No entanto, não é possível fazer tal afirmação, uma vez que não são recolhidos dados sobre a prática de crimes por etnia. Sabe-se, no entanto, e de acordo com o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) publicado na semana passada, que no ano passado 83,3% da população reclusa era portuguesa e 16,7% era estrangeira.

Conclusão

A informação partilhada no Instagram é falsa. De acordo com a informação fornecida pela GNR, e ao contrário daquilo que é dito no vídeo partilhado, não foram feitas queixas relacionadas com os alegados casos descritos de violação e perseguição de uma criança.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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