A imagem já tinha circulado nas redes sociais em Espanha e agora chegou a Portugal: uma fotografia de uma suposta funcionária de um “serviço público” português, com a cara tapada para não ser identificada, ao lado de dois telefones fixos que parecem estar propositadamente fora do descanso para que o telefone não toque.

A ideia é sugerir que, num momento de crise pandémica em que a maior parte dos serviços de atendimento ao público (centros de saúde, segurança social, balcões das finanças, notários, etc) só funciona por marcação, para evitar as filas e concentração de pessoas, os serviços públicos portugueses estariam a usar esta técnica para que o telefone não tocasse tantas vezes. A publicação ultrapassou as 15 mil visualizações, mas é uma publicação falsa. A imagem é, originalmente, da Polónia.

Publicação viral no Facebook sugere que alguns serviços públicos portugueses que só atendem por marcação estão a deixar os telefones fora do descanso para não atenderem chamadas

Nem o autor da publicação nem os comentários à publicação no Facebook esclarecem onde foi supostamente tirada aquela fotografia, isto é, a que alegado serviço público a imagem se refere. Mas basta uma pesquisa pela imagem nas ferramentas da Google para perceber que a imagem já tinha circulado nas redes sociais na Polónia, tendo sido muito partilhada no dia 1 de outubro.

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Nessas publicações polacas, os utilizadores das redes sociais queixam-se do mesmo: num centro de saúde da Polónia, os telefones estão a ser postos fora do descanso numa altura em que a crise da Covid-19 está a deixar os serviços superlotados. Eis vários exemplos de publicações feitas por utilizadores polacos:

Posted by Taka jest Ostróda on Thursday, October 1, 2020

Teleporady… się nie doczekasz

Posted by Z pamiętnika małego Tadzika on Thursday, October 1, 2020

A verdade é que na imagem pode ver-se, ao fundo, numa gaveta, a referência ao logótipo do “NFZ”, que é nada menos do que o Narodowy Fundusz Zdrowia, o Fundo Nacional de Saúde da Polónia (uma espécie de seguro de saúde do Estado). Ou seja, a imagem pode ser, sim, de um centro de saúde da Polónia, mas não é de nenhum serviço público português.

Não há, contudo, forma de perceber em que contexto a fotografia foi tirada, isto é, se se trata mesmo de uma imagem atual em tempos de Covid-19 na Polónia, e se se trata mesmo de uma imagem que reflete a falta de cuidado dos funcionários públicos no atendimento ao público por telefone.

Logo do Fundo Nacional de Saúde polaco, que se vê na imagem

A mesma imagem já tinha circulado em Espanha, a 3 de outubro, como sendo de um hospital espanhol, e foi verificada pelo site de verificação de factos Maldita.es. Alguns utilizadores das redes sociais identificaram a imagem como tendo sido tirada na receção do hospital universitário Severo Ochoa, de Leganés, em Madrid. Mas várias pessoas foram comentar a publicação afirmando que a imagem não coincide com a receção daquele hospital. Outros utilizadores, contudo, enviaram vídeos apontando para as parecenças. Certo é que a fotografia é da Polónia e não de Espanha nem, tão pouco, de Portugal.

¿HAN LLAMADO USTEDES AL HOSPITAL Y NO LE COGEN EL TELÉFONO?NO ES COLAPSO … ES POR ESTO ????????

Posted by Ricardo Delgado Martin on Saturday, October 3, 2020

Conclusão

A imagem que foi partilhada como sendo de um “serviço público” português é, afinal, uma imagem de um centro de saúde polaco. O logótipo do NFZ (Fundo Nacional de Saúde da Polónia) que se pode ver na imagem aponta para isso mesmo. Não se percebe, contudo, se a foto, mesmo sendo na Polónia, foi tirada num contexto atual de pandemia ou se foi retirada do contexto. A verdade é que vários utilizadores das redes sociais, primeiro em Espanha, depois em Portugal, usaram a imagem para chamar a atenção para a dificuldade que têm em conseguir marcações por telefone nos serviços públicos (que só aceitam marcações), mas a imagem é manipulada.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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