A cadeia montanhosa dos Himalaias é casa de muitas belezas naturais e uma das regiões mais ricas em biodiversidade do planeta. De acordo com o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), estima-se que existam cerca de 10 mil espécies de plantas ao longo da cordilheira. Nas últimas semanas tem sido partilhada uma publicação nas redes sociais que, alegadamente, dá conta de uma dessas espécies: uma flor “única” que cresce no Tibete e que é denominada “Flor do Pagode” ou “Maha Molu”. Os posts que fazem referência a esta flor são sempre acompanhados de uma fotografia da alegada espécie, que mostra uma árvore frondosa de grandes dimensões, carregada de flores brancas.

Numa destas publicações, o autor descreve que as flores do pagode florescem nos Himalaias “a cada 400 anos” e que a Humanidade tem “a sorte de ver o pagode florescer” neste século. Outra publicação utiliza a suposta espécie para fazer uma comparação com a atual situação política em Portugal, questionando se, em solo português, “estamos a assistir ao crescer e ao florescer do pagode político”. Mas será que esta é mesmo a espécie representada na publicação?

Ao olharmos com atenção para a imagem em análise, concluímos logo à partida que se trata de uma árvore, não de uma flor, tal como sugerem os posts em questão. A aparência e textura dessa árvore parecem, igualmente, aproximar-se de uma animação gráfica – e não de uma fotografia real. Utilizando o Google Images, uma ferramenta de pesquisa da Google que permite pesquisar imagens em vez de palavras, apenas encontramos a fotografia em questão em publicações semelhantes à que está em análise neste Fact Check, tendo sido recentemente partilhadas em redes sociais como Facebook ou TikTok.

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Igualmente, não encontramos qualquer referência ao nome “Maha Molu” no Índice Internacional de Nomes de Plantas, uma base de dados feita em colaboração entre o Herbário da Universidade de Harvard, o Herbário Nacional Australiano e o Royal Botanic Garden. Encontramos, no entanto, referência a uma “pagoda flower” ou “flor do pagode” na base de dados da última instituição. A espécie em questão — com o nome científico Clerodendrum paniculatum — pode ser encontrada principalmente na região da Ásia Tropical e Subtropical, mas a imagem presente na base de dados em nada tem que ver com a que acompanha as publicações de Facebook em análise. Trata-se de uma planta arbustiva, acompanhada de um florescimento vistoso de cor vermelho-alaranjada.

O Observador foi tentar perceber junto de especialistas se existe algum fundo de verdade nesta publicação. Numa resposta enviada ao Observador, o Coordenador do Herbário João de Carvalho e Vasconcellos (JCV), do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, confirma que a informação é falsa. Pedro Arsénio sublinha que, olhando para a imagem, é possível perceber que não se trata de uma “fotografia real, mas antes uma ilustração”, admitindo, no entanto, que existem “espécies de árvores com um ar bastante exótico e até similar ao da foto”, embora que “menos exuberante”. É o caso da espécie Davidia involucrata Baill, “uma árvore [ornamental] que existe em muitos jardins botânicos e arboretos na Europa” e que, com o vento, “assume um ar etéreo”, tal como a suposta espécie em análise.

O coordenador do Herbário JCV explica também que a ideia de floração a cada 400 anos é um “fantasioso exagero”. Refere que existem “plantas ditas monocárpicas”, ou seja, “plantas vivazes que florescem apenas uma vez na vida e morrem em seguida”, mas, acrescenta, “esperar 400 anos para florir é completamente inaudito”.

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Também Joaquim Santos, responsável pela coleção do herbário da Universidade de Coimbra (UC), adianta ao Observador que há vários exemplos conhecidos de plantas que “demoram imenso tempo a produzir flores”, mas diz acreditar que “não existem casos descritos de ciclos de floração de 400 anos“. O investigador no Centro de Ecologia Funcional da UC confirma que o nome “flor de pagode” é utilizado para a espécie Clerodendrum paniculatum, “planta que em nada se parece com a imagem que acompanha o texto”. Refere ainda que o post “não apresenta detalhe suficiente” para perceber de que planta se trata, mas que “parece ser mais liberdade artística do ilustrador do que uma representação real”. Joaquim Santos lamenta ainda que a utilização de nomes comuns — como “flor de pagode” — seja “causa de muitos mal entendidos, alguns até com riscos para a saúde”, sublinhando que textos como este devem ser acompanhados “dos nomes científicos, sempre que possível”.

A informação presente nesta publicação é, por isso, falsa. De resto, já foi desmentida em outros factcheckers internacionais.

Conclusão

Publicação é falsa. Existe uma planta conhecida como flor do pagode, mas em nada semelhante à fotografia apresentada. A imagem não parece, igualmente, tratar-se de uma fotografia real, mas sim de uma animação. Os especialistas ouvidos pelo Observador confirmam também ser falsa a existência de uma espécie que apenas floresce a cada 400 anos, tal como alega a publicação.

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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