As redes sociais costumam ser o lugar predileto para espalhar conselhos de saúde, muitas vezes pouco rigorosos. A 16 de agosto deste ano, uma publicação de Facebook garantia que o risco de sofrer um acidente vascular cerebral era maior quando uma pessoa se levanta, de repente, para ir à casa de banho. “Alguém estava bem de saúde e morreu de repente durante a noite sem motivo. O motivo mais provável é que, quando essa pessoa acordou para ir à casa de banho, levantou-se da cama muito depressa, neste momento, o cérebro precisa de um fluxo sanguíneo maior, por estar repousado, causando desmaio e, depois, um acidente vascular cerebral [AVC]”. Trata-se, no entanto, de uma alegação falsa.

Com muitas vezes já aconteceu em publicações anteriores, não existe qualquer elemento que comprove as alegações feitas. Não foi partilhado qualquer estudo científico revisto pelos pares, qualquer notícia credível ou até citações de médicos/investigadores/cientistas que sustentem a alegação de que “levantar de repente aumenta o risco de AVC”. Também não existe qualquer estudo credível que possa ser consultado sobre esta matéria.

Posto isto, o Observador foi à procura de respostas porque, não sendo a primeira vez que este tipo de publicações sobre saúde são desmentidas, costumam ser partilhadas várias vezes nas diferentes redes sociais. “Não há qualquer associação entre levantar rápido a meio da noite e a incidência de acidente vascular cerebral.” Quem o garante é Rui Azevedo Guerreiro, cardiologista clínico e imagiologista cardíaco do Hospital da Luz, em Lisboa.

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Para defender este argumento, o médico diz que quem passa da posição de decúbito (“deitada”) para a posição ortostática (“de pé”) “sofre” uma diminuição da pressão arterial cerebral transitória, mas, no caso de uma pessoa saudável, isso não é problema. “Essa diminuição é rapidamente normalizada pelos mecanismos fisiológicos de controlo da pressão arterial, como seja a vasoconstrição periférica e o aumento da frequência cardíaca”. Portanto, sem razão que justifique o alarmismo do autor da publicação original.

Situação diferente é a dos doentes com hipotensão ortostática [regulação anormal da pressão arterial] que poderão “sentir tonturas, visão turva e, no extremo, perda transitória de consciência quando se levantam por diminuição do fluxo sanguíneo cerebral”. “Devem, por isso, levantar-se gradualmente e não de forma repentina, mas os sintomas que sofram, [nomeadamente] de hipotensão ortostática, não incluem acidente vascular cerebral, que é causado mais frequentemente por obstrução de um vaso sanguíneo cerebral e nunca por diminuição da pressão arterial com o ortostatismo”. Portanto, segundo o cardiologista ouvido pelo Observador, não há razão para aconselhar as pessoas a levantarem-se gradualmente dado o alegado (e não comprovado) risco de sofrerem um AVC.

Conclusão

Não existem provas científicas até ao momento que comprovem que levantar cedo de repente possa causar um acidente vascular cerebral. A publicação em questão, divulgada através do Facebook, lança uma série de alarmes e dá alguns conselhos que não têm qualquer sustentação médica ou científica.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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