A abertura do monumento de homenagem às vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande criou problemas políticos ao Governo, já que no dia em que aconteceu nenhuma alta figura do Estado esteve presente e isso foi notado nas redes sociais, como é o caso da publicação aqui em análise. No entanto, a inauguração oficial foi apenas marcada depois disso, para 27 de junho — e já com a presença de membros do Governo e do Presidente da República.

A publicação deste utilizador do Facebook diz que, “exatamente 7 anos decorridos sobre a desgraça de Pedrógão”, Marcelo e Costa “preferiram ir ver a seleção jogar com a Bósnia, que irem inaugurar e prestar homenagem às cerca de 150 vítimas dos incêndios de 1977”. E pergunta: “Até quando vamos permitir estas situações?” A acompanhar o texto, uma imagem do mural com os nomes das vítimas dos incêndios de 2017 por baixo de uma outra fotografia, do Presidente da República e do primeiro-ministro, lado a lado, no jogo de qualificação para o Europeu de futebol de 2024 disputado a 17 de junho deste ano.

O texto desta publicação tem, logo à partida, três erros de deteção imediata. O primeiro é quando refere que decorreram “exatamente 7 anos” sobre os incêndios de Pedrógão Grande. A tragédia aconteceu a 17 de junho de 2017, logo, fez agora seis anos e não sete. O segundo é o número de mortos que é referido, com o texto a dizer que foram “cerca de 150” as vítimas dos incêndios nessa altura quando, na realidade, nesse dia morreram 66 pessoas. O mural tem, no entanto, o nome de 115 vítimas, somando também as 49 que morreram nos incêndios de 15 de outubro do mesmo ano, o que também fica longe das 150 vítimas mortais referidas na publicação. O terceiro erro é o ano referido: a publicação fala em 1977, quando os factos ocorreram em 2017.

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Quanto à acusação que recai muito diretamente sobre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, também tem problemas, tendo em conta que a abertura do monumento decorreu dois dias antes do jogo de futebol indicado pelo autor do post.

O monumento foi projetado pelo arquiteto de Eduardo Souto Moura e aberto ao público nas vésperas do dia em que se marcavam os seis anos dos incêndios, mais concretamente na quinta-feira, 15 de junho. Não se tratou de uma inauguração, o que até gerou controvérsia, com críticas da Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande sobre a ausência de uma cerimónia condigna e de altas figuras de Estado, como revelou o jornal Público.

A queixa deu até origem a um pedido de desculpas por parte da ministra da Coesão. “Lamento muito se, de alguma forma, nós provocámos algum sentimento de abandono às vítimas e às famílias das vítimas”, disse, em declarações aos jornalistas, Ana Abrunhosa nessa altura, prometendo, “a muito breve prazo, uma cerimónia de homenagem”. Também o primeiro-ministro veio, no dia 17, publicar uma declaração no seu Twitter oficial, garantindo que “não há ano que passe” que “faça esquecer a tragédia dos incêndios de 2017″.

Na sequência da polémica foi marcada a inauguração para o dia 27 de junho, suscitando novo problema com uma queixa, desta vez do Presidente da República, por ter ficado a saber da cerimónia pela comunicação social, lamentando não poder estar presente por estar numa visita ao estrangeiro nessa altura. O momento acabou por ser adiado um par de horas, pelo Governo, para poder contar com a presença de Marcelo — que, entretanto, já passou pelo mural, no dia 25 de junho. Assim, a inauguração do monumento de homenagem às vítimas dos incêndios de 2017 ficou para 27 de junho deste ano, às 19 horas.

Quanto ao que aconteceu a 15 de junho foi uma abertura ao público do monumento que fica à beira da estrada que liga Castanheira de Pêra ao IC8, a Nacional 236 — que ficou conhecida como “estrada da morte”, tendo em conta as vítimas mortais ali registadas na noite de 17 de junho de 2017.

Já o jogo da seleção nacional de futebol contra a Bósnia, onde estiveram Presidente da República e o primeiro-ministro, aconteceu dois dias depois dessa abertura. Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa assistiram, de facto, à partida no estádio da Luz, em Lisboa, essa sim no preciso dia em que passaram seis anos sobre os incêndios de junho de 2017.

Conclusão

O Presidente da República e o primeiro-ministro não estavam num jogo de futebol da seleção durante a inauguração do monumento de homenagem às vítimas dos incêndios de 2017, em Pedrógão Grande. O jogo referido aconteceu dois dias (17 de junho) depois da abertura do memorial ao público (15 de junho). A inauguração oficial foi marcada apenas para dez dias depois do dia da efeméride (27 de junho). A abertura sem uma cerimónia oficial foi alvo de polémica e de críticas por parte da Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, tendo sido depois agendada uma cerimónia com a presença do Presidente da República e de governantes para a homenagem devida. Apesar da controvérsia, não é verdade que Costa e Marcelo tenham preferido ir ao futebol do que à inauguração, que só aconteceu depois desse dia.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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