Quando se chega à página da Organização Mundial de Saúde (OMS), não há como ler e tirar segundas interpretações: “A OMS não recomenda a hidroxicloroquina [derivado da cloroquina] como tratamento para a Covid-19. Esta recomendação é baseada em 30 estudos com mais de 10 mil pacientes com Covid-19. A hidroxicloroquina não reduziu a mortalidade, a necessidade ou a duração da ventilação mecânica. Tomar hidroxicloroquina para tratar a Covid-19 pode aumentar o risco de problemas de ritmo cardíaco, distúrbios sanguíneos e linfáticos, lesão renal, problemas hepáticos e insuficiência.”

Na mesma página, a OMS também diz não recomendar a hidroxicloroquina para prevenir a Covid-19, e explica por que motivo interrompeu os ensaios clínicos com aquele fármaco. “O ensaio Solidarity, o ensaio Recovery do Reino Unido e uma revisão Cochrane de outras evidências sobre a hidroxicloroquina mostraram conclusivamente que a hidroxicloroquina não reduziu as mortes entre pacientes hospitalizados com Covid-19.”

Apesar disso, e de a posição oficial ser pública e poder ser encontrada no site da OMS, voltou a correr nas redes sociais um vídeo que fez a sua estreia em 2020. Um apresentador brasileiro, Sikêra Júnior, uma figura bastante polémica no Brasil, afirma que a OMS pediu desculpa por não recomendar alguns medicamentos. A partir daí, lança uma série de acusações à organização, responsabilizando-a pela morte de milhões de pessoas.

“Interessante ver a Organização Mundial da Saúde pedindo desculpas porque não autorizou o uso da cloroquina, da azitromicina. Que cobardes. Muita gente morreu por causa de vocês”, diz o brasileiro logo no início do vídeo, que se trata de um trecho do programa Alerta Amazonas, da TV A Crítica.

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Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, é um dos grandes defensores do medicamento, seguindo os passos de Donald Trump, antigo presidente dos EUA. No Twitter, um dos filhos de Bolsonaro, Eduardo, chegou a partilhar o conteúdo, apontando-o como “o golpe da pandemia”.

Na altura em que o vídeo começou a circular, a OMS tinha, de facto, pedido desculpas numa conferência de imprensa, por motivos bem diferentes, embora envolvendo o medicamento.

“Eu sei que às vezes pode passar a impressão de que a comunidade científica está confusa ou de que está a passar mensagens contraditórias e, por isso, pedimos desculpas coletivamente a todos, mas devemos seguir a ciência, devemos seguir as evidências e estamos absolutamente dedicados a garantir que as pessoas que entram em ensaios clínicos entrem em ensaios seguros”, dizia o diretor executivo do Programa de Emergências da OMS, Michael Ryan, a 5 de junho de 2020.

Michael Ryan respondia à pergunta de um jornalista sobre alterações em estudos clínicos que pareciam contraditórias e foi ainda questionado sobre a retratação de um estudo da revista The Lancet sobre o uso da hidroxicloroquina ou da cloroquina.

Vídeo tem estado a circular nas diferentes redes sociais

Conclusão:

Falso. O vídeo do apresentador brasileiro Sikêra Júnior, uma figura bastante polémica no Brasil, circula nas redes sociais desde 2020. Até hoje, a OMS continua a não recomendar a hidroxicloroquina para tratamento da Covid-19.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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