Partilhada num grupo de Facebook com mais de 2 mil seguidores, a publicação em causa alega que o “Governo alemão foi forçado a admitir que os chamados conspiracionistas estavam certos em relação a tudo durante a pandemia”. Associado ao post está o link de uma suposta notícia do blog “The People’s Voice”.

Um vídeo publicado no blog mostra o discurso de um suposto especialista alemão, Stefan Homburg, onde o mesmo cita alegados dados de organizações como a World Health Organization, o Federal Statistical Office of Germany (equivalente ao Instituto Nacional de Estatística, em Portugal) e, ainda, do The Robert Koch Institute — o instituto de saúde pública da Alemanha — para corroborar a tese de que a pandemia não passou “de uma fraude”.

Mas, quem é Stefan Homburg? Trata-se de um professor de economia, já reformado, que foi diretor do Institute of Public Finance na Universidade de Hannover e que ganhou atenção mediática durante a pandemia de Covid-19, através de posts no X (antigo Twitter) a questionar a fundamentação para que tivesse sido declarada a pandemia e onde defendeu que os dados oficiais divulgados eram “todos mentira”. Homburg não tem, portanto, qualquer formação profissional ligada à área da saúde.

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Aliás, no início da pandemia, em abril de 2020, disse que as mortes por Covid-19 na Alemanha não deveriam ultrapassar os 3000 casos, e, na realidade, à data de março de 2023, o total de mortes no país chegava aos 168,935.

E em que contexto foi feito este discurso? No cenário do vídeo partilhado pelo “The People’s Voice”, podemos ver que se trata de um evento organizado pelo Alternativa para a Alemanha, um partido da extrema-direita alemã. Depois de uma breve pesquisa, percebemos que o evento em causa foi o 2º Simpósio sobre o Coronavírus, organizado pelo partido em questão, que sempre assumiu uma posição de negação da pandemia. No Youtube, é possível encontrar o vídeo original do discurso de Stefan Homburg.

Ao longo do seu discurso, Homburg afirma que organizações oficiais já revelaram dados que provam que a “suposta pandemia foi uma manobra política para provocar alarme na população”. Entre os alegados dados, está a informação de que nesse ano não foram registadas mortes acima da média.

Só que os relatórios, divulgados no site do Federal Statistical Office, dizem o contrário: de acordo com os dados, que analisam a evolução da mortalidade por ano, em abril de 2020 — ou seja, logo a seguir a ter sido decretada a pandemia —, o número de mortes estava 10% acima da média dos anos anteriores e, em dezembro desse ano, o total de mortes tinha aumentado 32% face a 2019. O único momento que em que o relatório menciona uma taxa de mortalidade com números semelhantes ou abaixo dos anos anteriores é nos primeiros dois meses do ano 2020, ou seja, antes de serem registados os primeiros casos de coronavírus.

Já o Robert Koch Institute, também referido por Homburg, apresentou ao longo dos últimos anos vários relatórios no seu site oficial, onde se podem encontrar informações sobre a evolução da pandemia e em nenhum deles se confirmam os supostos dados apresentados no simpósio organizado pelo AfD. Aliás, na página do RKI podemos ler que “na segunda vaga da doença, no inverno de 2020/21, foram comunicadas ao RKI mais de 65 mil mortes confirmadas em laboratório. A título de comparação, na pior vaga de gripe das últimas décadas, no inverno de 2017/18, registaram-se (segundo as estimativas) cerca de 25 mil mortes”.

Conclusão

Circula no Facebook um post que afirma que o Governo alemão divulgou documentos que provam que a pandemia de Covid-19 foi apenas uma manobra política.  A fonte a que o post faz referência é o discurso de Stefan Homburg, um ex-professor de economia, num evento organizado pelo partido de extrema-direita Alternative for Germany. Contudo, depois de uma análise aos relatórios das entidades oficiais de saúde alemãs, conclui-se que os dados apresentados por Homburg não correspondem à verdade.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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