Uma publicação no Facebook alega, em tom irónico, que os testes PCR que eram usados para detetar a Covid-19 estão agora a ser indicados para detetar a infeção pelo vírus Influenza tipo A, ou seja, para diagnosticar a gripe. “Quanto te dizem que o teste PCR detetava o Covid mas de repente começou a detetar a Gripe A”, escreve o autor do post, fazendo acompanhar a frase de uma imagem do humorista Steve Carrell, imprimindo um tom jocoso à crença na validade dos testes usados de forma massificada durante a pandemia.

A tentativa é óbvia: desvalorizar a fiabilidade e a utilidade dos testes PCR (Polymerase Chain Reaction) na deteção de vírus respiratórios. Mas a alegação é facilmente desmontável. “Isso não tem a mínima veracidade”, diz ao Observador o investigador do Instituto de Medicina Molecular Miguel Prudêncio. “O que o teste PCR faz é detetar a presença de um determinado patogéneo, neste caso um vírus, através de uma tecnologia que utiliza marcadores específicos do alvo que se está a identificar. É essa especificidade que distingue entre um vírus e o outro”, sublinha o também professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

“Ou seja, não é mentira que o método de deteção [da Covid e da gripe] seja o mesmo, mas para cada vírus é utilizada uma espécie de sonda específica. O que fazemos é colocar a amostra nas várias ‘sondas’ e vemos qual ou quais delas dão sinal, mostrando reação à presença dos vírus”, realça Miguel Prudêncio.

Utilizado há mais de 40 anos, este tipo de teste é considerado o mais eficiente para detetar os vários tipos de vírus respiratórios. Uma vez recolhida a amostra de material biológico a analisar (e que pode ser extraída através da nasofaringe ou da orofaringe, através da introdução de uma zaragatoa no nariz ou na boca, respetivamente), a amostra é enviada para um laboratório — protegida por um ambiente refrigerado — onde é analisada molecularmente, com recursos a máquinas destinadas ao efeito.

Durante o período pandémico, foram também utilizados de forma massificada testes que permitiam a deteção de um patogéneo — no caso, o vírus que dá origem à Covid-19 — no contexto doméstico (ou não laboratorial) e que foram convertidos, podendo agora ser usados para detetar o vírus da gripe A ou, até, os dois vírus em simultâneo.

Na verdade, determinados laboratórios disponibilizam um teste molecular que permite, por exemplo, a pesquisa de 19 tipos diferentes de agentes de vírus respiratórios a partir de uma só amostra.

Conclusão

Não é verdade que os testes PCR — utilizados durante a pandemia para detetar infeção pelo SARS-CoV-2 —  tenham “de repente” passado a detetar a gripe A. A Polymerase Chain Reaction (ou, reação em cadeia da polimerase, em português) é uma técnica laboratorial que permite, a partir de uma única amostra de material biológico, a deteção, através de diferentes ‘testes’, de vários vírus respiratórios. Ou seja, a mesma amostra pode ser utilizada para detetar tanto o SARS-CoV-2 como o vírus Influenza (que provoca a gripe), tanto em 2024 como em 2020 ou 2021.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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