|
|
Em lugares do mundo particularmente afetados pela seca, onde a chuva é mais rara e as temperaturas mais elevadas, a extração de água do subsolo é vital para dar resposta às necessidades das populações — da agricultura ao consumo humano. Mas a sobre-exploração da água da chuva armazenada nas cavidades da rocha que cobre o planeta está a ter um impacto surpreendente: está a contribuir para deslocar o eixo de rotação da Terra. |
A conclusão é de um estudo publicado no mês passado na revista científica Geophysical Research Letters, coordenado pelo geólogo sul-coreano Ki-Weon Seo. |
A equipa debruçou-se especialmente sobre o período entre 1993 e 2010. Durante esses dezassete anos, a humanidade extraiu do subsolo mais de dois biliões de toneladas de água. Para ter uma noção: se toda esta água fosse despejada no oceano, o nível médio da água do mar subiria 6,24 milímetros em todo o planeta. |
A água que existe no subsolo é extraída pelos humanos através de bombas, furos e poços, para ser usada para a rega de culturas agrícolas e para outros usos humanos. É uma das principais ferramentas à disposição da humanidade para enfrentar os dramas da escassez de água. Mas tem um risco: a extração de água a uma velocidade superior àquela a que os aquíferos se renovam (por via da acumulação de água das chuvas) pode levar ao esgotamento permanente de determinados lençóis freáticos. Este esgotamento pode, por seu turno, conduzir ao abatimento dos solos por cima dos aquíferos — e à impossibilidade de voltar a explorar água naquele local. |
Mas, de acordo com a equipa de Ki-Weon Seo, há um outro perigo associado à extração intensiva de água dos subsolos: uma alteração à própria rotação do planeta Terra. É sobre este tema que pode ler no artigo em destaque nesta newsletter. |
E porque é que isto acontece? A exploração de água do subsolo em grande escala contribui para alterações ao modo como a massa se distribui em torno do planeta Terra, o que faz deslocar o centro de massa do globo terrestre e o eixo de rotação do planeta. Pode parecer estranho, mas o estudo da equipa de Ki-Weon Seo conclui que só o fenómeno da exploração de água subterrânea provocou uma deslocação de 78,48 centímetros para leste do ponto onde o eixo de rotação da Terra cruza a superfície do planeta — são mais de quatro centímetros por ano só devido à extração de água. |
Ora, a inclinação do eixo de rotação da Terra é uma das características fundamentais do clima terrestre: é devido a essa inclinação que existem estações do ano. Se ganharem uma dimensão significativa, estas alterações na inclinação do eixo de rotação da Terra poderão, um dia, ter uma influência no clima do planeta. O conhecimento dos fatores que influenciam a rotação da Terra é, por isso, central para a ciência do clima. |
O dia mais quente de sempre |
É um recorde discreto, mas muito significativo: na segunda-feira, o mundo viveu o dia mais quente de sempre desde que há registos. |
Em causa não está um daqueles tradicionais recordes associados aos picos de temperatura, como os 56,7ºC registados em julho de 1913 no Vale da Morte (Califórnia, EUA), ou os 54ºC registados em 2016 no Kuwait, mas sim um valor bastante mais baixo: 17,01ºC. |
Trata-se da temperatura média do planeta Terra naquele dia — um valor que contabiliza as temperaturas registadas em todo o mundo, dos polos ao equador, de dia e de noite. O valor máximo anterior tinha sido registado em agosto de 2016, quando a temperatura média do planeta num dia foi de 16,92ºC. Os dados são do serviço meteorológico dos Estados Unidos. |
Este novo máximo não resulta de um ou dois picos de temperatura, mas do facto de haver temperaturas consistentemente elevadas em múltiplos pontos do globo, dos Estados Unidos à China, passando pelo Médio Oriente e pelo norte de África. Até a Antártida, nota o jornal britânico The Guardian, está a passar por temperaturas anormalmente elevadas. |
Em conjunto, as temperaturas elevadas em todo o mundo fizeram o planeta chegar, na última segunda-feira, a um valor médio nunca antes registado. |
O recorde é mais um dos efeitos de longo prazo do aquecimento global, neste momento acelerado pelo fenómeno meteorológico El Niño, sob cujas consequências se têm vindo a registar no planeta desde o mês passado — e que se deverá manter nos próximos meses. |