Na campanha para as eleições europeias em Portugal pouco se falou da Europa e dos desafios que a União Europeia enfrenta na arena internacional mas, não obstante, vou exercer um dos meus principais direitos de cidadania.

Os nossos políticos, concentrados no seu “umbigo nacional”, parecem não ter dado conta de que a União Europeia necessita de uma política coesa e forte para responder aos desafios do futuro.

Por exemplo, é preciso não só discutir, como actuar face à “guerra comercial” entre os Estados Unidos e a China, pois, mais tarde ou mais cedo, ela irá reflectir-se também nas economias europeias. Qual a posição da UE face à política externa norte-americana de Donald Trump?

É urgente, igualmente, elaborar uma política mais ou menos coordenada face à Rússia e às suas pretensões de hegemonia no antigo espaço soviético. É verdade que a União Europeia não pode viver de costas viradas para Moscovo, mas também é verdade que a Rússia necessita da Europa. A “viragem para Oriente”, com que o Kremlin frequentemente ameaça, terá consequências funestas para a Rússia em todos os campos, pois ela não tem capacidade económica e tecnológica para concorrer com “tigres asiáticos” como a China. Quanto ao poderio militar, Pequim continua a ganhar terreno. Essa manobra condenará a Rússia ao eterno estatuto de país fornecedor de matérias-primas.

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A União Europeia não pode ficar refém da política de Moscovo de dividir para reinar. Vladimir Putin sonha fazer o que os dirigentes comunistas soviéticos não conseguiram fazer: despedaçar o continente europeu ao sabor da sua política externa revisionista. O Kremlin já mostrou que não poupa meios para eleger e infiltrar os seus agentes nas instituições europeias e a extrema-direita, que se diz muito nacionalista e defensora dos interesses nacionais, prontifica-se para ajudar Vladimir Putin em troca de uns “contratos vantajosos” ou de empréstimos bancários. Que o digam os neonazis austríacos ou Marine Le Pen!

O que surpreende (se é que ainda há algo que nos surpreende?) nas imagens do encontro do dirigente da extrema-direita austríaca com a alegada sobrinha de um multimilionário russo é a forma ávida como o político “engole” o isco de promessas de negócios milionários e de aquisição de poderosos órgãos de informação, não há qualquer tipo de pejo. A extrema-direita, que  apresenta como um dos seus baluartes o combate à corrupção e aos políticos vendidos, deixou rapidamente cair a máscara. Por isso não darei o meu voto a estes vendedores de banha da cobra.

Também não darei o meu voto às forças políticas opostas, por várias razões: porque são contra a existência da União Europeia, organização que, bem ou mal, garantiu a paz no Velho Continente depois da Segunda Guerra Mundial. Além disso, a extrema-esquerda já deu mais do que provas de que é melhor a erguer “cortinas” entre os países e povos do que em destruí-las.

Um exemplo, na era da “cortina de ferro”, era um suplício arranjar numerosos vistos para fazer uma viagem de comboio entre Portugal e a União Soviética. Hoje, é preciso apenas um: para entrar e sair da Rússia.

Com tudo isto não quero dizer que a escolha será fácil. Não, até como já disse, na campanha eleitoral em Portugal quase não se falou dos grandes problemas da Europa. Os políticos nacionais não conseguem levar até aos cidadãos as razões de ser da Europa, daí o perigo da enorme abstenção.

É melhor defender esta Europa imperfeita, apostar no seu desenvolvimento, do que levantá-la depois das ruínas. Por isso, vou continuar a estudar o boletim de voto para, no dia 26 de Maio, ir votar nalguma força que incuta esperança.

P.S. A luta política entre o novo Presidente ucraniano e os seus adversários políticos agrava-se rapidamente. Vladimir Zelenski quer dar início a um novo ciclo político, mas a resistência dos interesses instalados é muita. Mais uma razão para que exista uma União Europeia forte, pois só esta poderá apoiar a Ucrânia.