Portugal é um lugar governado por um caldo de leninistas e oportunistas, onde a corrupção reina nas altas e nas baixas esferas, a economia afunda às mãos de irresponsáveis, o fisco saqueia o que pode e não deveria poder, a Justiça é distorcida por interesses medonhos, a oposição exprime-se em alemão, a bola adormece as massas, os “media” servem os senhores e o presidente foge de qualquer sílaba que comprometa os índices de popularidade. É natural que a “inteligência” caseira, provavelmente o eufemismo do milénio, se dedique em simultâneo a debater, perdão, a bater no maior flagelo nacional: a “direita”.
Em oito dias, publicaram-se cerca de 174 artigos de opinião acerca dessa calamidade. Só na imprensa. Sem “cabo”, esforço-me, não muito, por imaginar as centenas de comentadores televisivos que se dignaram ceder um pouco do seu tempo, por regra dedicado a criticar árbitros ou exaltar ministros, em prol de tema tão sujo. Todos juntos, concluíram que, dado que não se demarcou suficientemente do sr. Bolsonaro e antes não se demarcara suficientemente do sr. Trump, a “direita” é radical, fascista e predisposta ao ódio. E eles odeiam gente assim.
A bem da verdade, noto que a “inteligência”, bonito sinónimo de “esquerda”, não condena a “direita” em peso. A esquerda exclui da condenação diversas “direitas”, a saber: a “direita moderada”, leia-se a direita que era “radical” quando ganhava eleições; a “direita democrática”, leia-se a direita que cala e consente os desvarios da esquerda; a “direita civilizada”, leia-se a direita desejosa de fazer com a esquerda as pontes e os viadutos que a esquerda não faria com a direita nem morta; e a “direita decente”, leia-se a direita de comunistas e socialistas que, sem que alguém acredite, se dizem de direita para usufruir da legitimidade de insultar diária e obsessivamente a direita. As referidas direitas são toleráveis e susceptíveis de serem convidadas a assinar alguma petição contra a direita que falta, a alt-right, a direita intolerável, neoliberal, misógina, xenófoba e racista e, agora em coro, fascista: a “direita do Observador”.
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