O falecido humorista, Norm Macdonald, contava uma piada em que uma traça entra num consultório de pediatria e fala, longamente, dos seus problemas existenciais. No fim da exposição o médico pergunta-lhe o que faz ali, uma vez que ele é pediatra e não psiquiatra. Ao que a traça responde ter entrado porque a luz estava acesa.

Deve-se este intróito à minha paixão por lepidópteros de voo nocturno? Sim, mas também à constatação de que a luz dos estúdios de televisão atrai mais políticos do que uma lâmpada solitária, em noite de lua nova, atrai traças. Vem isto a propósito de António Costa ir fazer comentário político para o novo canal de televisão da Medialivre, dona da CMTV. Estou eu a assumir como certo, uma vez que Marques Mendes o deu como certo. Num estúdio de televisão para onde foi atraído pela luz.

Ao contrário do que pensei ao ouvir falar do regresso de Costa à televisão, o ex-primeiro-ministro não vai voltar à SIC Notícias. Significa isso que, apesar da presença do seu irmão, Ricardo Costa, e de, por exemplo, Pedro Nuno Santos ter tido um espaço de comentário naquele mesmo canal, o PS continuará a ter ligeiramente mais apoio no Largo do Rato do que em Paço de Arcos.

A propósito de ex-primeiros-ministros que emitem opinião, Pedro Passos Coelho fê-lo um par de vezes nas últimas semanas e provocou o caos no par de partidos que compõem o Governo. Na sequência destas intervenções de Passos, e não havendo nada de especialmente urgente com que se preocuparem no país, PSD e CDS dedicaram-se a estupefacções várias e indignações sortidas. Ou muito me engano, ou a suposta “brutalidade” dos comentários de Passos Coelho abre caminho, na eventualidade do fracasso deste governo, a um então renovado clássico “A culpa é do Passos”.

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Circunstância na qual o governo correria o sério risco de protagonizar uma daquelas anedotas clássicas do tipo “Um português, um inglês e um francês entram num bar…”, mas na versão “O PSD, o CDS e o PPM entram numa coligação. Nisto ganham as eleições e a única coisa que os parece preocupar é comentar intervenções do ex-ex-líder do partido.” Mas qual é a piada disto, perguntarão? Pois, é exactamente esse o ponto. A única perspectiva sob a qual isto pode ser uma piada é sendo uma de extremo mau gosto.

Entretanto, ocupamo-nos com a novela da descida do IRS em 1.500 milhões euros, que afinal são 200 milhões euros. É uma nova versão do milagre da multiplicação dos pães: o infortúnio da divisão dos pães. Afinal não vai haver quase mais dinheiro nenhum, portanto é continuar a dividir as carcaças.

Abri a falar de alguém falecido, fecharei a falar de alguém que acabou de falecer, OJ Simpson. O homem que esteve no centro do, talvez, mais falado julgamento de sempre. Isto contando que José Sócrates não chegará a ir a julgamento devido à prescrição de todos os alegadíssimos crimes. Porque se isso acontecer ninguém falará noutra coisa. Nomeadamente para dizer: “E não é que o Sócrates vai mesmo a julgamento. Eh pá, isto vai ser um julgamento ainda mais falado que o do OJ Simpson!”

Mas reconduzindo esta crónica – porque não ao volante de um Ford Bronco branco? – para OJ Simpson, o famoso ex-atleta que nos anos 90 foi ilibado do duplo homicídio da ex-mulher e de um amigo desta, morreu há dias vítima de cancro. E, aparentemente, toda a gente ficou convencida disso. Toda? Não! Num cantinho da península ibérica, um irredutível lusitano resiste ainda e sempre (como persiste a culpa do Passos) à invasão desta teoria, graças à poção do Panoramix. Não, espera, isto já era o Astérix. Graças a uma boa porção de chalupice, assim é que é. E qual é a questão deste irredutível lusitano? Muito simples. Não vamos já a correr culpar o cancro de ter morto o OJ Simpson sem antes vermos se a luva lhe serve.