E esta semana, a começar com um espectacular eclipse do sol, toda armada em boa?! A penúltima semana teve a Sexta-feira Santa e esta, para não ficar atrás, tumba!, responde à data religiosa com um super-evento astronómico. Não podem ver nada, estas semanas. Quem também não pôde ver nada foi boa parte da população dos Estados Unidos da América durante o tempo em que a lua tapou a o sol.

Durante esses momentos a coroa solar, a camada externa da atmosfera do Sol, torna-se particularmente visível (…), pelo que foi observado com atenção, já que é aqui que ocorrem as erupções solares. A estrela da Terra está atualmente perto do seu pico de atividade (ao contrário de 2017). Diz a revista Visão. Que, se for preciso, na página seguinte afirma a pés juntos que qualquer aumento de temperaturas é culpa de ainda não termos trocado uma dieta onde às vezes há pojadouro, por uma alimentação toda à base de larvas de besouro.

E nunca, jamais, lhes ocorre que o facto de, como a própria Visão acaba de confirmar, o Sol estar “actualmente perto do seu pico de actividade” tenha qualquer impacto nas temperaturas na Terra. Pois se o sol é tão fresquinho, como poderia ser o culpado de tal? Como é que é? “Visão. Tenha uma”. Não é assim, a assinatura da revista? Tenha uma, mas com o mínimo de 3 dioptrias em cada olho, convinha avisar a bem da seriedade publicitária.

Por cá, o único fenómeno capaz de eclipsar um eclipse é uma aparição pública de Pedro Passos Coelho. Aparição que provoca na esquerda – e em boa parte da direita – o mesmo efeito que os eclipses tinham juntos dos astecas, que os consideravam um fenómeno anunciador do apocalipse. Passos aparece e o país mergulha na mais profunda escuridão, lançado para as trevas. Então se Passos aparece para apresentar um livro que reune opiniões contra “os adversários da família”, “a ideologia de género” e “a cultura de morte”, ui, aí é que o caldo está entornado.

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O caldo entorna-se e com razão, claro. Famílias? Blergh, que nojo! Bloqueadores de puberdade? Mastectomias a meninas saudáveis? Dêem-me mais disso, se faz favor. Abortos e eutanásias? Só lamento os que ficam por fazer. Mas agora admite-se alguém ousar emitir uma opinião desfavorável a todas estas maravilhas do progresso? Pois se o progresso é para progredirmos! Sim, mas progredir na direcção de quê? Então, na direcção que esta histérica cambada de autoritários entender, como é evidente! E calem-se já com as perguntas desagradáveis.

Isto também é válido para si, Papa Francisco. Ah, pois. A partir de agora, para os Pedros Nunos Santos e Isabéis Moreiras da vida, o Papa é um comprovado nazi. Isto porque o Papa Francisco acaba de publicar um novo texto dedicado ao respeito pela “dignidade humana”, que critica a mudança de sexo e a “teoria de género”. Dando assim um contributo, ainda que humilde, a Pedro Passos Coelho no eclipsar da notícia de que Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro andam a trocar correspondência.

Diz que sim, que o líder do PS escreveu uma carta ao primeiro-ministro a mostrar disponibilidade para “construir”, até julho, o acordo que propôs para a valorização das carreiras e salários dos profissionais de saúde, das forças de segurança, dos oficiais de justiça e dos professores. Ao que Luis Montenegro, como é óbvio, respondeu: “Construir um acordo? Convosco? Comprovados incompetentes, que deixaram o país de rastos ao fim de oito ano de governação? Ah, ah, ah! Essa foi gira.”

Mentira. Montenegro elogiou a “responsabilidade política e o compromisso” do PS e aceitou, após negociar com estes sectores, marcar uma reunião com Pedro Nuno Santos. O que devia ter feito Montenegro? Fácil. Devia ter deixado claro desejar distância do PS, avivando as memórias que Pedro Nuno Santos tem do avô sapateiro e sugerindo-lhe dar cordas aos sapatos.