As primeiras três semanas de julho foram as mais quentes desde que há registos, segundo dados do Copernicus, o programa de observação da terra da União Europeia. A tragédia dos fogos que assola a Grécia e a Itália é um sinal imediato dos efeitos das alterações climáticas. Mas o que é mais preocupante é que se antevê um futuro, que poderá não ser muito longínquo, em que a Europa a ficar mais árida.

Segundo o Observatório Europeu da Seca, nos primeiros 10 dias de julho, 40% do território da União Europeia encontrava-se em situação de aviso laranja no Indicador Combinado de Seca, que inclui dados sobre a humidade do solo e a vegetação. Este ano a seca é menos grave do que em 2022, mas ainda assim a tendência é para piorar. A humidade no solo na europa entre 2017 e 2021 foi inferior à média do período de referência (1991-2020).

A seca, que é mais habitual nos países do Sul da Europa, está a alastrar-se para as regiões mais húmidas. Em julho havia mesmo situações de alerta vermelho em regiões do centro e norte da França, países nórdicos e países de Leste, por haver défice de humidade no solo mesmo depois de cair chuva.

As consequências diretas da seca, sobretudo na agricultura, não são difíceis de medir. Um estudo de 2021 sugere que a seca tem atualmente na Europa um custo anual de 9 mil milhões de euros. E este custo poderá duplicar até ao final do século, ainda que os países consigam limitar o aumento global da temperatura a 1,5ºC.

Já os efeitos indiretos são mais difíceis de medir e vão desde a redução da produção energética das centrais nucleares até ao despovoamento e abandono das terras. Mas o que poderá ser mais difícil de gerir é o aumento da conflitualidade social que está a surgir um pouco por toda a Europa. Não é uma questão inteiramente nova. Durante centenas de anos o sul da Europa teve períodos de seca relacionados com problemas de gestão e de transporte da água, que inspirou as obras trágicas de Marcel Pagnol Jean de Florette e Manon des Sources. E uma parte dos problemas atuais poderão resolver-se como no passado, por exemplo, melhorando a eficiência no transporte de água canalizada. A Eureau estima que as perdas de água potável na distribuição são em média 25% do total na Europa.

Mas melhorar as infraestruturas existentes não será suficiente. Poderá ser útil replicar a estratégia da Europa para a transição energética para a água: reduzir o consumo, encontrar formas inovadoras e mais baratas de reutilizar e dessalinizar água. Só que neste caso, os custos dos atrasos ou dos insucessos são muito maiores do que no caso da energia.

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