Acordar às 5 da manhã, fazer exercício, beber 1,5l de água, comer x peças de fruta, fazer panquecas, meditar e depois ir trabalhar 12 horas seguidas. Sempre com um sorriso na cara e com todo um boost de energia para que o dia seja muito produtivo.

Todos sabemos que as conquistas dependem apenas de nós!

Vivemos na roda do rato onde corremos para todos os lados e no final do dia não chegamos a lado nenhum. Esta é uma corrida onde a sensação predominante é a de falha. Chegamos ao final do dia e parece que não produzimos nada.

A quem podemos imputar toda esta pressão? É o sistema capitalista? Não é uma força que vem de fora para dentro como noutros períodos da nossa história. Trata-se de uma imposição interna. O sistema limou-se e hoje somos os opressores e as vítimas em simultâneo. Somos nós quem usa o próprio chicote o que nos leva a um esgotamento coletivo. Somos uma sociedade cansada pela positividade tóxica autoimposta.

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Não se convive com o fracasso inevitável e característico de todas as jornadas da vida. Vivemos todos em loop a síndrome do impostor. Não somos suficientemente bons, segredamos! Todavia alimentamos a máxima que as conquistas dependem de nós. Afinal, é um discurso disseminado por vários interlocutores em vários canais. Esta máxima, deixa-nos cansados, amedrontados, e pouco recetivos a aceitar/assumir que falhamos. Tudo isto coloca-nos sob pressão e leva a que seja negligenciando o contexto que nos rodeia.

Foucault no final do século XVIII trouxe o seu panóptico (um sistema de construção que permite, de determinado ponto, avistar todo o interior do edifício) desta forma criava-se a consciência que, permanente visibilidade asseguraria o funcionamento de um poder autoritário, como uma prisão, um manicômio, uma empresa ou uma escola Uma torre de vigia alta que transmitia a mensagem de vigilância constante, mesmo que não houvesse qualquer vigilante lá instalado.

Hoje, nós instalamos um panóptico virtual ao qual nos submetemos deliberadamente. Eu vigio-te e tu vigias-me. Uma vigilância de todos contra todos.

O sistema de controlo foi-se refinando. Já tivemos a censura, as escutas… hoje nós somos o nosso próprio panóptico. Filmamos a nossa vida, mostramos o que fazemos, mostramos o nosso perfeito quotidiano… nós alimentamos o sistema.

Tudo isto, prende-nos ainda mais à roda do rato. Somos a sociedade que mais precisa de medicamentos para dormir, de medicamentos para o foco e concentração, de suplementos para o exercício físico…Vivemos na busca constante de mais desempenho para alimentar uma personagem que, alimenta um algoritmo que, por sua vez, nos devolve a imagem de que os outros já produziram mais, já fizeram mais e melhor! Corremos sempre na ânsia de querer alcançar o outro negligenciando quem somos de verdade. Não nos conhecemos de facto.

Vivemos cansados a tentar fingir ser algo que nem sabemos se queremos ser.