Muitos eleitores estão convencidos de que o CHEGA e André Ventura representam uma mudança fundamental na vida política do país. Desiludidos e revoltados com a situação atual em Portugal, e frustrados pela inexistência de alternativas, os portugueses procuram desesperadamente alguém que transforme o país e lhes devolva a esperança numa vida melhor. André Ventura personaliza, para muitos portugueses, essa esperança.

Ventura, hábil político, percebe a sua situação e, por isso, afirmou no discurso final na recente convenção do Chega: “Muitos se juntarão, porque sabem que este é o caminho para derrotar o socialismo em Portugal. E muitos já deixaram de ter esperança noutros e sabem agora que este é a única pista, o único caminho para fazer essa diferença”. Embora a tarefa de acabar com o socialismo seja louvável, é evidente que não será André Ventura a concretizá-la. Porquê? Pelo simples facto de ser impossível ganhar eleições em Portugal sem ser socialista.

Embora Ventura faça da “batalha ao socialismo” a sua bandeira, isso não passa de mera retórica. Um breve olhar para as propostas efetuadas durante a convenção basta para perceber o seu pendor socialista. Desde logo, André Ventura referiu que iria taxar os lucros extraordinários dos bancos. Nas suas palavras, “Serão os lucros excessivos da banca e daqueles que lucram dezenas de milhões por dia que pagarão aos portugueses o seu crédito à habitação.” Se Mariana Mortágua ou Paulo Raimundo estivessem na plateia, teriam aplaudido de pé, reconhecendo a sua coragem em combater os ‘vilões capitalistas’. Embora esta proposta seja difícil de ser executada, tal como demonstrou o recuo por parte de Meloni em Itália, o líder do CHEGA é claro na sua intenção de manter o controlo económico do país nas mãos do Estado. Além disso, é possível verificar como o mercado e os capitalistas são vistos como ameaças constantes aos interesses nacionais. Uma retórica conhecida e infalível, portanto.

Outro exemplo revelador é a promessa de, num prazo de 6 anos, nenhum idoso terá auferir uma pensão inferior ao salário mínimo nacional. Não é relevante se isso é exequível, pois tudo é permitido no leilão pré-eleitoral. Quando existem cerca de 3,5 milhões de reformados, que votam proporcionalmente mais do que os jovens, seria impensável que Ventura não tentasse captar este eleitorado. Estima-se que as propostas apresentadas no passado fim-de-semana tenham um custo de 11,5 mil milhões de euros, cerca de 4,4% do PIB. Quem pagará mais este custo adicional? Os contribuintes portugueses, claro está, aqueles que André Ventura diz querer ajudar.

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Infelizmente, não é só o CHEGA que recorre a promessas eleitorais socialistas para cativar eleitorado, sendo uma estratégia utilizada por quase todos os partidos portugueses. Assim, o problema de Portugal é mais profundo, impedindo uma verdadeira mudança na vida económica do país: estamos amarrados ideologicamente ao Socialismo. Visto desta perspetiva, o CHEGA apenas representa a continuidade do dirigismo económico, quase não diferindo dos restantes partidos portugueses, à exceção da IL.

Compreender a popularidade do socialismo em Portugal é uma tarefa complexa. Atualmente, o facto de a maioria do eleitorado ser envelhecido e dependente das ajudas do Estado contribui certamente para esta relação umbilical entre eleitores e Estado. Contudo, a nossa aversão a uma verdadeira economia de mercado tem razões históricas, por exemplo, decorrente da marcante presença comunista no período pós-revolucionário, ou ainda, da intensa ligação intelectual do nosso país às ideias francesas, onde o socialismo sempre teve um papel historicamente relevante.

Não é por isso surpreendente que apenas recentemente, com o surgimento da IL, tenhamos visto em Portugal um partido que se posiciona claramente como liberal no plano económico. No entanto, dada a predominância de uma ideologia anti mercado, que associa o lucro a uma sociedade egoísta e desigual e vê o liberalismo económico como um ‘papão neoliberal’ — uma retórica frequentemente empregada pelo BE e pelo PCP —, é provável que o sucesso eleitoral da IL seja limitado, pelo menos a curto prazo.

Assim, a fórmula eleitoral triunfante em Portugal é simples: no país do socialismo, sê socialista. André Ventura segue-a à risca. Com esta estratégia, Ventura ficará mais próximo de um bom resultado eleitoral. Os portugueses, contudo, ficarão mais longe de um futuro risonho.