As crianças, hoje, têm, regra geral, poucos irmãos. São filhas de pais mais velhos. Com mais recursos e mais vida. São pouco educadas por “aldeias”. E crescem, sobretudo, em famílias nucleares. Nem sempre com tanto de avós como deviam ter.

São crianças, muitas vezes, pouco contrariadas. E, talvez por isso, menos tolerantes à frustração.

São melhor amadas. E daí, felizmente, um bocadinho mais egocêntricas. Em relação às quais os pais repetem: “Só quero que seja feliz.” Como se tudo se submetesse a esse desejo. E ele condicionasse os nãos. As regras. O  modo como elas “não podem” estar tristes. A forma como brincam pouco sozinhas. E a agenda de pais que eles imaginam não poder ter.

As crianças, hoje, são demasiado sedentárias. Não correm muito. Não andam à bulha. Não se sujam. Brincam de menos. Caem pouco. E mal se aleijam. Têm os melhores pais que a Humanidade já produziu. Mas, de tão protegidas, tornam-se frágeis.

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Parecem crescer contra o corpo. Tirando a forma ele se tem vindo a entrincheirar, perigosamente, na ponta dos dedos.

São protagonistas na vida das suas famílias. Mas têm menos auto-estima. Em consequência do comboio de expectativas que os pais colocam sobre elas. E que, de tanto lhas “exigirem”, as tornam mais inseguras.

São crianças muito pouco autónomas.

Mas são lindíssimas!

São mais informadas e têm mais mundo. E, porque têm muito mais horas de histórias contadas que os seus pais alguma vez tiveram, são crianças muito ágeis com as palavras. Por mais que, ao crescerem presas a écrans, as usem de menos. E, por isso, se possam tornar mais impacientes, menos atentas e mais impulsivas.

As crianças, hoje, são nativas-digitais. Muito mais tecnológicas. Mas que manuseiam menos e pior o faz de conta, a fantasia, a imaginação e a criatividade.

Quanto mais protegidas elas são maior é a sua infância. E quanto maior ela se torna mais têm oportunidades para crescer melhor. Por mais que lhes estejamos a dar menos tempo (e menos oportunidades) para serem crianças.

O desafio passa, então, por lhes oferecermos tudo o que lhes falta para serem, ainda, melhores. Evitando os erros que, por bondade, vamos cometendo. Mas que estragam o que de bom já lhes estamos a dar.