Portugal está no 17º lugar num ranking de 30 países no que concerne ao uso de transportes públicos. No ranking das capitais, Lisboa está ligeiramente melhor, num menos indigno 15º lugar. As razões para esta medíocre posição são, naturalmente, várias, e vão desde os custos para o utilizador que ainda são elevados, apesar de medidas de uso gratuito por idade tomadas recentemente em Lisboa e da redução do preço do passe social decidida pelo governo em 2019. Outras razões prendem-se com a qualidade da oferta, em densidade, frequência da circulação, rapidez e interligação com outros meios de transporte e exigem um trabalho multifacetado e urgente.

Apesar das medidas tomadas em Lisboa (que deviam ser replicadas no resto do país), Portugal, enquanto país, e os portugueses, enquanto comunidade, precisam de apostar mais no uso dos transportes públicos. Os transportes públicos produzem menos gases de efeito de estufa do que os veículos privados pelo que são uma das vias principais para a descarbonização dos transportes, e aumentar a sua acessibilidade deve ser uma prioridade de todos os governos.

Para trabalhar no sentido da gratuitidade gradual dos transportes públicos é preciso começar por entregar a cada cidadão – independentemente do concelho onde reside – cartão de acesso que, numa fase inicial, pode ser comprado e, numa posterior, pode ser enviado pelo correio.

Acredito que devemos fazer como a Estónia, onde os transportes públicos são gratuitos aos residentes mas os turistas pagam os seus bilhetes e contribuem assim para o uso racional e para a sustentabilidade do sistema. Mas a Estónia e, em particular, o caso da sua capital, Talin, revelam que os preços dos bilhetes não são a “bala dourada” que faz, automaticamente, aumentar os números de passageiros. Ainda não há números (a CML não respondeu a esta pergunta) mas os nove anos de transportes gratuitos em Talin não revelam uma redução do uso do transporte individual: bem pelo contrário. São necessárias outras medidas, um maior enquadramento e um aumento da qualidade da oferta (nos seus diversos factores). É preciso desenvolver e estimular o recurso ao trabalho remoto onde este for possível ou instalar, pelo menos, sistemas de trabalho híbrido dando o governo central e as autarquias locais o exemplo. É necessário criar formas de as empresas converterem benefícios em quilómetros, ou veículos de empresa em títulos de transporte público (nos locais e circunstâncias onde não existe gratuitidade).

O aumento do uso dos transportes públicos levaria a uma poupança nas famílias que se estima ser de 2200 euros anuais por habitante sendo a segunda maior rubrica da despesa familiar com 13.4% atrás apenas dos 24% da habitação. O maior uso do transporte público iria também ter reflexos positivos na balança de pagamentos e nas importações portuguesas e reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, já que o combustível usado pelo sector dos transportes é responsável por 70% de todas as emissões da Europa.

Portugal precisa de reduzir as emissões de gases de efeito de estufa. E o instrumento mais poderoso que temos ao nosso alcance é aumentar o uso do transporte público, descarbonizar a economia e enfrentarmos as alterações climáticas cuja gravidade parece cada vez mais urgente e importante para a sobrevivência da nossa espécie e a preservação do meio ambiente.

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