No rescaldo das eleições legislativas e com a tomada de posse de um novo governo discutiram-se, nas últimas semanas, diferentes modelos de desenvolvimento que cada partido advoga como os mais favoráveis para o País. Portugal enfrenta desafios como o de uma população cada vez mais envelhecida, a necessidade de lidar de maneira efetiva com as alterações climáticas, e criar uma economia mais produtiva e capaz de melhor remunerar todos os que contribuem para a mesma.

A biotecnologia, nas suas diferentes formas — desde a produção de compostos de interesse industrial com processos biológicos sustentáveis e escaláveis sem dependência de recursos fósseis, ao desenvolvimento de novas terapêuticas e às novas abordagens de saúde digital que nos permitem viver mais tempo e com mais qualidade –, é um instrumento de alto potencial para atacar estes grandes desafios e gerar valor para a economia nacional. O país, tirando proveito do investimento nas últimas décadas na criação de infraestruturas para a ciência e na formação de recursos humanos altamente qualificados, em especial nas áreas das ciências da vida e da engenharia, pode ambicionar ser um ponto de referência para o desenvolvimento inicial de novos produtos com base em biotecnologia.

Aos nossos decisores políticos é pedida a definição de estratégias de desenvolvimento económico e internacionalização abrangentes aos diferentes setores da economia, com a criação de um ambiente regulatório competitivo, condições fiscais estáveis, e a promoção de investigação e desenvolvimento com reforço da colaboração entre grandes empresas, já com acesso aos mercados, e pequenas empresas focadas no desenvolvimento de novas tecnologias.

As empresas numa economia de conhecimento, incluindo as de biotecnologia, têm que, desde logo, nascer com uma natureza exportadora e global. Na semana passada decorreu em Braga o Healthcare Business Summit organizado pela P-BIO, Associação Portuguesa de Bioindústria, em colaboração com o INL – Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia.

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A P-Bio tem por missão encorajar o desenvolvimento da biotecnologia em Portugal, e nesse sentido organiza uma série de iniciativas. A mais recente, em Braga, com a participação de mais de 100 pessoas, abordou o papel da regulação no desenvolvimento competitivo de novos produtos com base em biotecnologia, juntando reguladores, academia e empresas na partilha de experiências e soluções.  Foi possível ainda trazer a Portugal empresas de referência – como as farmacêuticas Merck, Bayer, Alnylam, Pfizer — e contar com a apresentação de bons exemplos da biotecnologia nacional – como a Ophiomics, Nano4, PeekMed, Cellmabs. O evento contou ainda com a participação de investidores nacionais e internacionais, partilhando o que procuram nos projetos em que investem e com o testemunho do ScanBalt, a principal organização do ecossistema de ciências da vida da Escandinávia e Bálticos, sobre o que fez diferença na implementação de uma estratégia de sucesso para esta área.

Num mercado global é vital dar a conhecer o trabalho das empresas portuguesas, colocando os nossos empresários em contacto com os principais atores em biotecnologia. Tal só é possível criando oportunidades para estas relações acontecerem, as nossas start-ups interagirem com grandes empresas biopharma e investidores, e desde uma fase inicial construírem ligações a outras geografias e a players que lhes permitam escalar e comercializar as suas tecnologias.

Simão Soares é CEO da SilicoLife, uma empresa que combina inteligência artificial com biologia para a produção sustentável de compostos de interesse industrial. É também presidente da P-BIO, Associação Portuguesa de Bioindústrias, Climate Reality Leader e membro Alumni dos Global Shapers Lisbon.

O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. Ao longo dos próximos meses, irão partilhar com os leitores a visão para o futuro nacional e global, com base na sua experiência pessoal e profissional. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.