Independentemente da evolução tecnológica existente e implementada, há bugs que insistem em permanecer, a furar a vivência democrática das instituições, que vestidas de inovação e boas maneiras disfarçam um certo cheiro a mofo e práticas ancestrais. Exemplo disso é toda a história de elaboração dos cadernos eleitorais no Instituto Superior Técnico (IST), ocorrida durante o passado mês de outubro. Para enquadrar, talvez seja necessário recuar ao início de 2020, quando ainda vivíamos aos abraços e sem máscaras.

No âmbito de umas eleições intercalares no Técnico, docentes e investigadores foram chamados a apresentar listas e a votar. No caso dos segundos ‒ os investigadores ‒ importa referir que muitos têm contrato com a Associação do Instituto Superior Técnico para a Investigação e Desenvolvimento (IST-ID), uma instituição privada sem fins lucrativos controlada pelo IST e que este utiliza para outsourcing da sua investigação. No entanto, segundo os estatutos do IST e como membros da Escola, estes fazem parte dos cadernos eleitorais. Já nesse processo eleitoral, e como que um presságio para o que viria a desenhar-se no futuro, um bug ameaçou o sistema e foi pedido um parecer ao gabinete jurídico do IST acerca da legalidade da inclusão nos cadernos eleitorais dos investigadores da IST-ID. O resultado do mesmo foi inequívoco, fazem parte integrante da Escola e devem fazer parte dos cadernos eleitorais. Nessas eleições intercalares de janeiro de 2020, os investigadores da IST-ID tiveram até um importante papel, dada a sua afluência às urnas. Como resultado, pela primeira vez, foi eleito um investigador com vínculo não permanente para o Conselho de Escola. Começava, finalmente, a existir representação real nos órgãos de gestão da Escola. Bom!

Entusiasmados, estes investigadores estavam preparados, não só para votar como para fazer parte de listas às eleições de dezembro de 2020… Mas, espante-se, principalmente numa Escola tão ligada à tecnologia, ocorreu um bug democrático no Técnico. Verdade! Acontece a todos! Certamente que a representatividade e escolha democrática faz e continuará a fazer sentido no Técnico. Foi mesmo um bug! Na prática, traduziu-se no pedido de um novo parecer, desta vez à reitoria da Universidade de Lisboa, no qual se acha que os investigadores da IST-ID, aka investigadores forasteiros imigrados, deveriam ser excluídos dos cadernos eleitorais. Tentando corrigir o bug, esses mesmos investigadores pediram também um parecer, que fundamentava a sua presença nos cadernos eleitorais e defendia os seus direitos adquiridos…

Para tornar tudo ainda mais estranho, e relevando que o bug era dos graves, surgiu um quarto parecer do gabinete jurídico do IST para esclarecer de vez a comissão eleitoral, a realçar o pedigree do parecer da Universidade de Lisboa, que anuído pelo reitor deve ter certamente sido imprimido em papiro, logo de muito mais valor! A prova de que foi mesmo um bug a complicar isto tudo, é que este último parecer do IST tem a mesma assinatura do primeiro, que explicita que os investigadores da IST-ID devem fazer parte dos cadernos eleitorais! Tanto parecer para no final parecer que afinal parecia que parece que estavam a excluir os investigadores da IST-ID das eleições. Só mesmo um bug para provocar tal carambola.

Não raras vezes, os problemas informáticos conseguem resolver-se com o simples desligar e voltar a ligar… O bug democrático que afetou o Técnico pode ser um destes casos… Por via das dúvidas, sugiro um restart nas eleições de 1 e 2 de dezembro de 2020, quiçá retire os investigadores da IST-ID do mute.

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