Apesar de nunca ter integrado uma equipa de uma empresa de recursos humanos, atrevo-me a dizer que o processo de recrutamento deve ser tão ou mais exaustivo para quem se candidata como para quem está a recrutar.

Terminamos a licenciatura e estamos motivados, cheios de vontade de integrar o mercado de trabalho. Começamos a busca pelo primeiro emprego entusiasmados e ansiosos. Somos aliciados por inúmeros anúncios no LinkedIn e concorremos expectantes. Parece simples: preencher um formulário com o nome, idade, área de estudo e CV. Enviamos a nossa candidatura na expectativa de recebermos um e-mail passado umas semanas com o feedback. Passamos.

Na segunda fase temos uma entrevista com um trabalhador da empresa ou um possível mentor. Fazem-nos mil e uma perguntas sobre o trabalho, sobre nós, percurso académico, atividades extracurriculares, a nossa personalidade. Já dei por mim várias vezes a questionar: “Mas o que é que isto lhes interessa?” e, alguns anos depois, mantenho a mesma pergunta. Passamos.

Fase 3: testes com perguntas/situações modelo que podem surgir no emprego ao qual nos estamos a candidatar: “O que faria nesta situação? O que diria ao cliente?”. Estamos duas horas sob uma pressão imensurável a avaliar tudo o que dizemos e a temer de cada vez que o recrutador pega na caneta para fazer apontamentos.

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Fase 4: dinâmicas de grupo. Ficamos a conhecer os nossos “rivais”. Trabalhamos em equipa e ouvimos outras perspetivas, sempre com o reminder de que muitos de nós vão tirar o lugar aos outros. Volvidas duas semanas chega o tão esperado email: a última fase, entrevista com o CEO. Estamos exaustos, cheios de pressão. Este processo de recrutamento dura há três meses e estamos em mais três ou quatro simultaneamente. Chegámos até aqui, e se for tudo por água abaixo? Tantas horas investidas, tanto tempo de preparação, meetings, reuniões por zoom com um desgaste emocional atrelado. E depois? Normalmente o “entraremos em contacto com a maior brevidade possível” traduz-se em meses sem resposta, sem um único email, telefonema e com uma sensação de incapacidade e desilusão.

O processo de recrutamento já é demasiado esgotante por si só, para nem sequer nos darem uma satisfação. Não estou só a falar do silêncio total (de meses) depois da última entrevista, refiro-me também à clássica mensagem automática que já todos recebemos posterior à primeira etapa: “Apenas os candidatos que passem à Fase 2 deste processo serão contactados.” Mas porquê? Investimos tempo nas candidaturas, por vezes desesperados, sem plano B. Nem a uma mensagem automática temos direito?

O pior é que já aceitamos este email com normalidade. Já submetemos a candidatura cientes de que dificilmente seremos contactados e de que tudo isto (provavelmente) não passará de mais uma perda de tempo. Conformamo-nos com o silêncio e aliviamo-nos com o “pelo menos tentei”.

A procura continua, desgastada, com poucas respostas. Somos jovens, estamos verdes, mas merecemos um bocadinho mais de consideração, não é pedir muito.