Primeiro, o despertador. Uma torrada, à pressa. E um sumo de fruta. Depois, o ginásio. O controle do pulso e as calorias. Um duche. As notícias da manhã, ouvidas de fugida. O Instagram, claro. De seguida, acordar as crianças. Prepará-las “a 1000”. Com desabafos destemperados, à mistura. A saída de casa, apressada, depois de dois ou três esquecimentos. Parar na escola. Acelerar no semáforo, a raspar no vermelho. Mais o trânsito; caótico. O lugar, para o carro, que nunca se encontra à primeira. As últimas mensagens, vistas de esguelha. Depois, chega-se, em passo apressado. “Bom dia!” “Olá! Tudo bem?…” Enquanto o computador se abre, vai-se, a correr, tirar outro café. Vamos em três… Reunião às dez. Videoconferência às onze. Vinte minutos para almoçar. Mais de cem e-mails para responder. Entra uma mensagem. “Podes ir buscar as crianças, às cinco?…”. Murro na mesa.  “Não sei. Já ligo…”. Batem à porta. “Sim?…” “Dás-me dois minutos, só para tirar uma dúvida?…” Enfado, disfarçado. “Tem mesmo de ser agora?…” E ainda não passou uma hora em que o trabalho começou.

Depois, o resto do dia é igual. Na última reunião, luta-se contra o relógio. “Alguém tem mais alguma coisa para dizer?…”. “Não.” Claro! “Peço-vos só mais cinco minutos…” “(Desalento) Não posso. Desculpe! Tenho as crianças à espera.” Fica um sorriso contrafeito. E um esgar de quem nos recorda que as análises de desempenho estão a chegar. Mas sai-se! Sempre a correr! E recapitula-se: chave do carro, saco de desporto, carteira… “(Murro no volante) Já vou chegar depois da hora!”. Busina-se. Esbraceja-se. Dizem-se uns  palavrões; quase todos para dentro. Mais uma tangente com o carro. Uma travagem, brusca. Outra corrida, para recolher as crianças. “Correu bem o dia?…” “Parem de gritar!!!” Tira-se um olhar furibundo da carteira. “Foi ele que começou…” Para-se no futebol. Depois no ballet. E chega-se às oito. “Alguém tem trabalhos de casa?” “Todos para o banho!”. “Comam e despachem-se”. E o dia ainda não acabou.

Se, desde que se levantam até se deitarem, as mães vivem numa agitação e em stress, como podem ter direito à calmaria, ao entusiasmo e ao “amor de mãe”, com um sorriso tranquilo e bondoso e num tom suave?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR