Estamos furiosos com esta situação. Eu pessoalmente estou enojado com a situação. É demasiado mau”.

Estas são algumas declarações do eurodeputado Pedro Marques na qualidade de vice presidente da bancada dos Socialistas e Democratas (S&D) do Parlamento Europeu (PE), à qual pertencia Eva Kaili também da família socialista, acusada de corrupção, sendo uma das das vice-presidentes do PE, que foi esta semana detida e acusada de envolvimento num caso de corrupção.

O eurodeputado que agora se sente enojado com tudo isto foi secretário de estado de Estado de Vieira da Silva quando este era ministro da Segurança Social entre 2005 e 2009, nos dois governos Sócrates, e ministro das Infraestruturas já pela mão de António Costa.

Em plena campanha para as eleições europeias, Pedro Marques atira-se à direita e afirma : “Quando não tem mais nada para dizer, a direita diz ‘Sócrates’. É o habitual na direita. A direita, quando as coisas lhe estão a correr mal, diz a palavra ‘Sócrates’, eu tenho um orgulho enorme do meu trabalho em toda a minha vida política“, declarou, no dia de arranque oficial da campanha.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Não deixa de ser curioso que rapidamente Pedro Marques se sinta enojado e com toda a veemência tenha condenado a alegada prática de corrupção por parte de uma das vice-presidentes do PE.

Mas ter-se-ia Pedro Marques esquecido de se enojar com o caso Marquês, que envolve um dos seus primeiros ministros?

É curioso que, para muitos, a alegada corrupção socialista praticada cá dentro não passa de uma cabala, enquanto que o presumível ilícito praticado lá for causa à família socialista um grande nojo.

O mesmo Pedro Marques que em campanha eleitoral para as eleições europeias defendia orgulhosamente Sócrates, vem agora, com um ataque de mal disposição repentina, insurgir-se contra Eva Kaili. Talvez a idade tenha tornado o eurodeputado mais sensível.

Tudo isto seria política e moralmente aceitável se o princípio agora aplicado fosse o mesmo para o caso Marquês, onde por norma todos os socialistas se escudam a comentar invocando sempre a norma da presunção de inocência quando um dos seus é apanhado pela teia da justiça. Também a vice-presidente do PE, tal como Sócrates, é usufrutuária da mesma presunção até trânsito em julgado.

Pedro Marques, que não se conteve e de facto o nojo e os enjoos são tramados, mas não lhe deve ser reconhecida qual moral política para se insurgir lá fora contra a corrupção quando, cá dentro, a sua família é perita em ilícitos análogos, e aí os seus enjoos deixam de existir. Caso para lhe recomendar, que será melhor ao eurodeputado deixar o Parlamento Europeu porque por lá a sua saúde anda a ficar débil.

A casa que Pedro Marques frequentou, e que nos deixou à beira do colapso financeiro, também alegadamente tinha cofre cheio de dinheiro que era da mãe de alguém. Ou há moral, ou comem todos.