A vitória de um partido da extrema-esquerda, que na Rússia teria grandes problemas para trabalhar legalmente, foi recebida com grande euforia em Moscovo. A agência Ria-Novosti, um dos mais fortes reprodutores da propaganda do Kremlin, informou, citando “órgãos de informação ocidentais”: “as novas autoridades gregas deram claramente a entender aos burocratas europeus que podem bloquear o aumento das sanções contra a Rússia e, além disso, estabelecer interacção estreita com a Rússia, não obstante o descontentamento da UE”.

Segundo os analistas “patrióticos”, “a Grécia começa a dar uma grande volta para a Rússia. O Syriza quer retirar a Grécia da NATO, fechando todas as bases estrangeiras no país”.

O governo russo, pela voz dos seus ministros, tenta alimentar esses sonhos. Nikolai Fiodorov, ministro da Agricultura, promete levantar a proibição da entrada de produtos alimentares gregos no mercado russo se a Grécia abandonar a UE. Anton Siluanov, ministro das Finanças, também não descarta a possibilidade de ajudar financeiramente esse país caso ele faça esse pedido.

É contudo difícil conceber onde é que o Kremlin vai buscar meios financeiros para desempenhar o papel de salvador “dos irmãos gregos ortodoxos” numa altura em que se encontra numa profunda crise económica, crise essa que a obriga a cortar nas despesas e a obrigar os russos a “apertarem o cinto”.

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Talvez Vladimir Putin pudesse conseguir meios para a Grécia, mas o problema é que a política externa russa já é demasiado dispendiosa para o poderio económico da Rússia. Não obstante todas as juras de que o Kremlin não envia militares e armamentos para a Ucrânia, a realidade é que a guerra no país vizinho lhe está a sair muito cara.

Além disso, o caudal de entrada de moeda estrangeira no país diminui a olhos vistos devido à queda do preço dos combustíveis nos mercados internacionais.

Os bancos russos tiveram alguns milhões de euros para “emprestar” à Frente Nacional de Marine Le Pen e ainda poderão ter mais algumas reservas para apoiar partidos da extrema-esquerda e da extrema-direita na Europa a fim de rebentar com a União Europeia, mas o Kremlin faz “bluff” ao apresentar-se como o salvador das “ovelhas ranhosas” da UE.

A não ser que os dirigentes europeus se revelem completamente impotentes e incompetentes para responderem a esse desafio. Se for o caso, então o melhor é as autoridades portuguesas começarem a analisar a possibilidade de  chantagear Bruxelas: ou perdoam a dívida lusa, ou arrendamos a base das Lajes aos russos, ou o aeroporto de Beja, que continua “às moscas”. Se o governo português não for a tempo, pode ver-se ultrapassado por algum movimento tipo “Podemos”, “Conseguimos”, ou “Partido Nacional Qualquer Coisa”.