Este País não é para velhos. Olhamos para o caso dos lares a funcionarem sem condições dignas, muito devido à falta de fiscalização efetiva por quem a devia fazer, o Estado. Olhamos para as pensões de miséria, também cada vez mais contraídas devido à inflação, e para os supostos “bónus” e “ajudas” aos pensionistas, que não significam mais que cortes futuros nas pensões. Olhamos para os idosos que vivem em solidão e sem cuidados, abandonados.

Mas este País também não é para novos. Desde logo, quando chegarem a velhos, vão ter pensões bem inferiores às actuais, estima-se que equivalentes a apenas 50% dos vencimentos médios de quando estavam no activo, condenados, portanto, a maior parte deles, à pobreza, numa injustiça inter-geracional terrível. Mas também devido à falta de trabalho condignamente remunerado, à impossibilidade de acederem a habitação condigna, à precariedade, à falta de qualquer perspetiva de futuro.

Este País não é para estudantes da escola pública, confinados primeiro, sem aulas ou recuperação de aprendizagens devido a greves sucessivas depois, muitas vezes em escolas sem o mínimo de condições básicas, como aquecimento para o inverno ou refrigeração no verão. Também não é para professores, mal pagos, precários, afogados em burocracias.

Não é para doentes ou para quem quer que precise de cuidados de saúde. Listas de espera intermináveis para cirurgias ou consultas de especialidade, urgências que fecham e não dão resposta, condições degradantes nos hospitais.

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Não será também para os médicos, enfermeiros e auxiliares do SNS, também eles mal pagos, afundados em horas extraordinárias de trabalho, também eles sem condições de trabalho e tantas vezes a fazerem das tripas coração para conseguirem dar resposta a quem deles precisa.

Este País não é para quem precisa de Justiça, para quem queira resolver conflitos de forma célere, expedita, desburocratizada e acessível. Este País não faz justiça aos criminosos com dinheiro, que se vão arrastando em bagatelas jurídicas e expedientes processuais, até que os crimes prescrevam.

Este País não é para quem trabalha, porque o salário médio de quem trabalha a tempo inteiro em Portugal é de 19,3 mil euros brutos por ano, que contrasta com os 33,5 mil euros médios na União Europeia. Sendo que, cá, a carga fiscal sobre os rendimentos, sobre o consumo e sobre a propriedade são altíssimos a partir de níveis muito baixos.

Este País nem sequer é para os políticos e para quem nos governa, também eles mal pagos, enxovalhados pela comunicação social, sem direito a erro, nem perdão, sem recato, sem prestígio, sem reconhecimento. “São todos iguais”, diz e pensa a gente.

Este País não é para imigrantes, porque vêm para cá ganhar miseravelmente para fazer os trabalhos mais duros, vivem as mais das vezes em condições sub-humanas e estão aparentemente desprotegidos de gente sem escrúpulos e máfias organizadas.

Para quem é este País, afinal?

Para os turistas que nos visitam e acham tudo “very tipical” mas não têm de viver cá. Para os imigrantes reformados dos países ricos, que beneficiam de incentivos fiscais e vistos gold para se fixarem por cá.

Também é para os que vivem à sombra e à custa de negócios e arranjinhos com o Estado, ou que saltitam de alto cargo em alto cargo, num nepotismo que não nos larga, numa oligarquia que perdura, numa teia de interesses, amiguismos, compadrios e corrupção que não há meio de acabar.

Este País pode ser para os 322 mil agregados familiares, dum total de 5,5 milhões de agregados, que declaram rendimentos brutos anuais acima de 50 mil euros. Alguns desses, mas mesmo assim longe de ser a maioria deles, consegue pagar seguro de saúde, escola privada, não tem de andar de transportes públicos, consegue acomodar o aumento das taxas de juro e a inflação. Alguns deles. Mas longe de serem todos.

Este País é poucochinho.

Este País é para cada vez menos pessoas e tem de acordar rapidamente, ou corre o risco de acordar tarde demais e estar vazio, porque já ninguém quer ser dele.