Não é possível fazer que algo agrade a todas as pessoas ao mesmo tempo. E quando nos referimos a questões culturais, onde incluímos a religião, essa probabilidade é ainda mais exígua.

Haverá sempre alguém que critique. A legitimidade da critica não está em causa. Contudo, não há nenhuma organização humana que não tenha defeitos e a Igreja, instituição milenar, demonstrou em vários momentos essa característica. Evidentemente, apesar de ter tido, e de ter, homens justos e bons, a Igreja não deixou de ser influenciada por aqueles que se aproveitaram dela para fazer o mal. A lista de atrocidades e actos desumanos praticados pela Igreja são conhecidos. A questão que se deve colocar é: erros e actos desumanos são exclusivos da Igreja?

Há outro elemento que não pode deixar de ser tido em consideração nesta reflexão. Todas as associações humanas, mesmo na sua forma mais simples, constituídas por apenas dois homens, criam dinâmicas próprias. E é conveniente não esquecer que à medida que a dimensão cresce, essas dinâmicas, entretanto transformadas em regras, condicionam o comportamento de quem pertence à associação. Note-se que essas regras são usualmente desenhadas para em primeiro lugar proteger a instituição em si, algo que também não é um monopólio da Igreja. O Estado e os partidos políticos também o fazem.

Alvin Toffler ensinou-nos que a resistência à mudança é um instinto humano. Qual é a razão para que esse instinto não exista na Igreja? Quantos episódios são relatados na história de Papas que tiveram de lidar com a resistência da cúria romana às mudanças que queriam implementar na Igreja? Tendo em conta as condicionantes políticas e sociais vivenciadas ao tempo, Melquíades I, Silvestre I, Leão I, João XXIII e Francisco I são exemplos disso. Mas há mais.

Actualmente, a questão mais premente, e mais justamente criticada, é a dos abusos sexuais por parte de membros da Igreja. As tentativas de desvalorização e de encobrimento destes casos, pela própria Igreja, já são algo do passado. O Papa Francisco é o primeiro a trazê-los para a luz do dia (algo que não agrada aos sectores mais conservadores da Igreja) e a defender a sua solução (quer afastando os prevaricadores, quer compensando as vítimas). Até nisso é uma lufada de ar fresco na Igreja.

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Reduzir a totalidade da Igreja, e os seus membros, aos casos ignóbeis, para além de injusto, também é populismo. Não há outra forma de o dizer. A Igreja tem pessoas que diariamente tentam ou procuram confortar e ajudar quem precisa. Em todo o mundo. E deve ser salientado que os católicos são aqueles que actualmente são mais perseguidos e maltratados.

Não sou católico. Sou Cristão. Estou imensamente feliz com a realização das JMJ em Lisboa. E não me venham falar no retorno do investimento nas JMJ. Segundo o Tribunal de Contas, nos últimos 15 anos, o(s) Governo(s) já desperdiçaram mais de 22 mil milhões de euros com os bancos. E que dizer da TAP, Efacec, CP e afins? Dinheiro dos contribuintes que dificilmente lhes será devolvido. E o Governo ilude os portugueses com a expectativa dos pobres. Vai dando algumas migalhas para alimentar a subsidiodependência. Nunca se esqueçam que o neo-socialismo de António Costa não sobrevive sem pobreza.

Retorno? Como se quantifica a alegria que foi sentida e vivenciada nestes dias? Ao contrário do que afirmava Marx, a vida e a existência não se reduzem à materialidade. E a esperança, genuína e inspiradora que a mensagem do Papa Francisco nos dá? A sua simplicidade é desconcertante. A sua humildade é inquestionável. Incentiva-nos a ser mais generosos, connosco e com os outros, mas não nos censura se não o formos. Só nos pede para abrir o coração e dar tempo ao tempo.

O Papa Francisco é uma pessoa de coração aberto, com sentido de humor e sempre com um sorriso. Verdadeiramente inspirador, Francisco é a expressão da esperança. As pessoas estão sedentas de esperança, de uma luz que lhes permita encarar o futuro com outro ânimo e de alguém que lhes diga que o caminho requer simultaneamente a sua envolvência e capacidade de responsabilização. São raros os líderes políticos e/ou partidários com esta capacidade. Esta é que a é a verdade.

Adicionalmente, que diz o Papa Francisco sobre aqueles que são vistos como “proscritos”? “Os transexuais são filhos de Deus e Ele continua a amar-vos como são”. Esta é a postura habitual de Francisco. A probabilidade de alguns partidos políticos, ditos tolerantes, e de algumas associações, ditas cívicas, que se dizem defensores da inclusão, estarem possessos com esta postura é muito alta. A diferença é que aqui não há qualquer oportunismo político. É uma atitude genuína de respeito pela opção individual.

Dito isto, recordo as palavras do Papa Francisco: “A Igreja não tem portas para que todos possam entrar (…) há espaço para todos e, quando não houver, por favor façamos com que haja, mesmo para quem erra, para quem cai, para quem sente dificuldade”.