É costume falar-se da revolução industrial como um momento histórico, passado entre a segunda metade do século XVIII e a primeira metade do século XIX e com implicações muito relevantes na vida das pessoas. De facto, poder-se-ia afirmar que este foi um dos episódios mais importantes na história da humanidade pelas alterações provocadas na organização social que, mais cedo ou mais tarde, se tornaram globais.

No entanto, o termo “revolução industrial” é várias vezes utilizado em associação a outros momentos da nossa história, sempre marcados pelo surgimento de uma inovação tecnológica que serviu para moldar a forma de produzir e, consequentemente, de viver. Vejamos:

A partir de 1760 temos a primeira revolução industrial, que chegou com a máquina a vapor e que levou a reboque milhões de pessoas do campo para a cidade. Cem anos depois, o aparecimento da energia elétrica e de novas formas de telecomunicações e transporte acelerou o crescimento dos grandes centros urbanos e catalisou novas descobertas científicas. O século XX, frequentemente associado à “Terceira revolução industrial” ficará para sempre ligado ao aparecimento de uma nova forma de energia, a nuclear, e ao crescimento exponencial da eletrónica, com especial destaque para o surgimento do computador (o impacto destas inovações foi, provavelmente, sentido por vários dos que leem estas linhas). Mais recentemente, no início deste século, as pressões para informatizar as linhas de produção e para integrar os dados gerados nas mesmas, alavancaram o aparecimento de várias inovações tecnológicas que compõem uma era já apelidada de Indústria 4.0.

Talvez por não ser possível olhar com o distanciamento que o tempo confere, tem sido menos consensual a caracterização das duas últimas décadas como uma nova revolução industrial, havendo quem defenda uma ligação estreita com os avanços alcançados ainda na terceira. Ainda assim, os impactos causados pela conectividade global através de dispositivos móveis, pelo aumento do poder de processamento, da capacidade de armazenamento e de acesso ao conhecimento são reais. O desenvolvimento de áreas como inteligência artificial, robótica, Internet das Coisas, veículos autônomos, impressão 3D, nanotecnologia, biotecnologia, ciência de materiais, armazenamento de energia e computação quântica, não abrem, mas escancaram a porta para uma nova revolução na indústria e, provavelmente, na forma como vivemos.

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Aprendemos, com o passado, que as inovações tecnológicas mais relevantes trouxeram consigo mudanças profundas no quotidiano das pessoas, incidindo inicialmente na forma de trabalhar incrementando exponencialmente os índices de produtividade e alterando a matriz sociocultural da época. Será irresponsável acreditar que, desta vez, a história ficará escrita de maneira diferente. Aliás, vários são os exemplos que nos chegam de reestruturações em grande escala e em sectores de negócio específicos.

Em 2023 o sector tecnológico tem assistido a grandes mudanças, a Amazon anunciou cortes de 8% no pessoal, cerca de 27 mil pessoas, a Accenture tem planeados para 2023 cortes de 2,5% que se traduzem em sensivelmente 19 mil postos de trabalho extintos, na Microsoft os números andam à volta dos 10 mil despedimentos e estes são apenas uma amostra pequena, nos últimos meses, os despedimentos de grandes empresas do sector já superam as 150 mil pessoas. Se é verdade que o estado da economia e alguns passos em falso são factores importantes para explicar estes números, também não podemos ignorar que existe uma estratégia definida focada no futuro, a mudança não são só despedimentos. Tomemos por exemplo a Microsoft que, durante o mesmo período em que deixou para trás 10 mil pessoas, anunciou um investimento de 10 mil milhões na OpenAI, os criadores do ChatGPT e perceberemos que não se trata apenas de uma questão baseada em números do presente. Não, a capacidade de automatizar certas tarefas não foi um motivo apresentado por estas empresas para estes despedimentos, mas se utilizarmos dados disponíveis sobre o tema (aconselho os disponibilizados pela 365 Data Science) podemos identificar dois grupos profissionais como os principais afectados: Recursos Humanos e Engenheiros de Software, áreas em que a IA tem dado respostas interessantes.

Apesar de ser uma realidade há já algum tempo, a Inteligência Artificial parece estar agora a chegar de forma mais relevante às nossas vidas e a minha opinião é de que veio para ficar. Profissionalmente, acredito que este é o momento para ponderar sobre próximos passos e procurar um caminho suportado nas futuras necessidades do mercado, que começam a aparecer.

Em geral, embora a IA possa levar à deslocação de postos de trabalho e a mudanças em certas indústrias, também tem o potencial de aumentar a produtividade, criar novas oportunidades de emprego e melhorar a qualidade do trabalho. É importante que os indivíduos, as organizações e os decisores políticos se adaptem a estas mudanças, investindo na educação, em programas de requalificação e em políticas que promovam a utilização responsável e inclusiva da IA.

O último parágrafo deste artigo foi escrito por Inteligência Artificial.