De boas intenções, está o inferno cheio. (São Bernardo de Claraval)

Paris, por estes dias em que se comemora o acordo climático, e bem como nos outros dias, faz-nos sonhar. E que tal uma viagem com a TAP ao lado de Greta Thunberg? Imaginem deixar os sapatos na Praça da República em nome do planeta, na companhia de uma pequena sereia da nova geração, que, tal como as suas antecedentes da Grécia antiga, além de poderes proféticos é devota a Gaia, a deusa da natureza, a Mãe-Terra.

Um voo da TAP? Mas a Greta não voa nem anda de burro, vamos descer com os pés à terra? Esperem, era só uma melga a importunar-nos o sono: não estamos aqui a sonhar com capitalismo, e a bordo até vai Catarina Martins que nele vê o vilão ambiental. Numa companhia pública, que até leva líderes políticos e ambientalistas a cimeiras e eventos, a menina Greta pode voar. Sempre é mais confortável do que o burro e, no essencial, até ajuda à causa: destruir riqueza, pobreza, decrescimento, a fabulosa estratégia para salvar a humanidade.

Já no ar, o canto da sereia desafina para cantiga da intervenção. “Não negociável”, avisa, apontando o dedo à geração de ladrões de infâncias. Hipnotizado, o piloto Matos Fernandes confunde Paris com uma aldeia do Baixo Mondego e muda-a de sítio para a Venezuela. Pobres? Menos carros, menos gasóleo; esfomeados? Menos bifes, menos emissões; enfim, um excelente desempenho ambiental, que faz corar de vergonha o nosso Natal consumista.

O sonho, cumprindo-se a atração para o abismo do canto das sereias, vira pesadelo.

Paradoxalmente, também por estes dias ouvimos Marisa Matias anunciar-se social-democrata. Espremendo mais um pouco, Miguel Sousa Tavares ainda lhe tinha arrancado um reconhecimento ao capitalismo como o sistema que mais gente resgatou da miséria! Terá Marisa lido a mais recente revisão da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN)?

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Diz o relatório da UICN, que 26 espécies deixaram de estar seriamente ameaçadas, incluindo o Bisonte (Bison bonasus) no coração da rica Europa. Por outro lado, 31 espécies poderão estar extintas. Onde? Principalmente, nas regiões pobres da América Central e do Sudeste Asiático. Um padrão que, entre outros, ainda recentemente o autor Bjorn Lomborg, conterrâneo de Greta Thunberg, também evidenciou, neste caso ilustrando como o Lobo (Canis lupus), vivendo em países ricos, está em expansão, o Tigre (Panthera tigris), vivendo em países emergentes, estabilizou, ao passo que no coração do pobre continente africano, Leões (Panthera leo) ou Mabecos (Lycaon pictus) estão em maus lençóis…

Neste parâmetro da biodiversidade, assim como em quaisquer outros parâmetros ambientais, de lixos a águas, de legislação a emissões atmosféricas, etc., mais rico significa mais limpo e mais seguro – sim, mesmo nos piores cenários e face ao aumento de eventos extremos, nunca estivemos tão bem preparados como hoje para enfrentar os desmandos da natureza (há cerca de um século, morriam anualmente, por esta razão, 200 pessoas por milhão; hoje são… 3)!

Se a pequena sereia quer continuar a cuspir no prato que come, e que lhe dá uma abastada posição de riqueza, saúde, conforto, segurança, etc., experimente passar estes dias na Venezuela. Pode até começar por visitar um zoo, onde os leões morrem esqueléticos, e encha-lhes a barriga com boas intenções. Acontece que, como a comida para animais de um zoo, também a ETAR custa dinheiro, a rede de esgotos idem, assim como o abastecimento de água ou a recolha de lixo, os projetos ambientais ou a segurança alimentar, o carro elétrico, o aquecimento, etc., etc., etc. Consequentemente, só com mais riqueza conseguiremos fazer mais e melhor.

Troquemos então esta viagem infernal por algo mais ajustado à quadra que vivemos: sonhem antes com uma viagem ao lado do Pai Natal, num trenó voador puxado por renas, rumo a uma mesa farta e uma árvore pejada de presentes. Mesmo sem as suas boas intenções, a sua redenção e penitência, o ambiente agradece.

Boas Festas.